Buscas policiais na sede da Samsung envolvem compra massiva de Viagra
A procuradoria sul-coreana realizou ontem uma operação de busca no grupo Samsung e no Fundo de PensãoNacional, como parte da investigação sobre o escândalo de tráfico de influência na presidência.
O Samsung Group é suspeito de ter subornado Choi Soon-Sil, amiga e confidente há 40 anos da presidente Park Geun-Hye, para obter a aprovação do governo para uma fusão controversa em 2015.
Os investigadores da procuradoria realizaram buscas nas instalações do Departamento de Estratégia da Samsung, que supervisiona todas as decisões importantes do conglomerado, de acordo com a agência Yonhap.
Um porta-voz da Samsung confirmou a acção, sem dar mais detalhes.
A fusão contestada foi vista como um passo crucial para assegurar uma transferência de poder no topo do grupo, em favor do herdeiro Lee Jae-Yong.
Cheil Industries, a holding do grupo, havia comprado a C&T, uma subsidiária da Samsung presente nas áreas de comércio e construção.
Mas um número significativo de accionistas da C&T opuseram-se fortemente à fusão, sob a liderança do fundo especulativo americano Elliott. Este último argumentava que a operação subestimava o valor da empresa à custa dos accionistas.
Os que estavam contra a fusão perderam a batalha, mas a sua campanha representou uma revolução na Coreia do Sul, onde as grandes empresas familiares, os famosos “chaebol”, estão acostumados a realizar manobras sem qualquer consideração para com os accionistas menores.
A operação havia sido votada, entre outros, pelo ServiçoNacional das Pensões e Aposentadorias (NPS) de Seul, um dos principais accionistas da Samsung.
A procuradoria realizou também operações em várias instalações do fundo de pensão, de acordo com um porta-voz do serviço que administra fundos de 543 triliões de won (434 biliões de euros), o terceiro maior fundo de pensão do mundo.
O NPS é supervisionado pelo Ministério dos Assuntos Sociais e o seu ministro de então era visto como sendo muito próximo da presidente Park.
Novas manifestações programadas
Choi foi presa no início de Novembro por abuso de poder e extorsão.Ela é acusada de ter usado a sua amizade com Park para forçar grupos da indústria a pagar dinheiro para duas fundações questionáveis para fins pessoais.
A procuradoria suspeita que a presidente agiu em “conluio” nas actividades ilícitas de Choi e pede para interrogá-la. A presidente nega as acusações, chamando-as de “fantasias” fundadas na “imaginação”.
Park havia inicialmente manifestado a sua vontade de ser ouvida pela justiça, mas o seu advogado afirmou no domingo que ela só responderia a uma equipa de investigadores independentes que deve ser criada em breve.
O ministro da Justiça Kim Hyun-Woong e um colaborador da presidente, que já ocupou o cargo de procurador, apresentaram ontem a sua renúncia, reflectindo as tensões entre a presidência e a procuradoria.
A popularidade da presidente Park não pára de diminuir por causa do escândalo, enquanto centenas de milhares de manifestações protestam regularmente para exigir a sua renúncia.
Os opositores anunciaram uma nova manifestação para sábado, prevendo a participação de mais de 1,5 milhões de pessoas. Samsung, o primeiro grupo industrial da Coreia do Sul,teria pago o equivalente a 15,8 milhões de euros às fundações de Choi.
A Samsung também é suspeita de ter financiado com 2,8 milhões de euros a formação equestre da filha de Choi na Alemanha. O departamento de publicidade da Samsung é suspeito, por sua vez, de ter dado dinheiro para uma fundação desportiva dirigida por uma sobrinha de Choi.
Vários executivos da Samsung, incluindo Lee, foram ouvidos no contexto do escândalo que revela as ligações, por vezes pouco saudáveis, entre os conglomerados sul-coreanos e o poder político.
O escândalo tomou outro rumo incomum ontem quando o presidente foi forçado a explicar compras massivas de Viagra e outras drogas úteis no tratamento da disfunção eréctil, reveladas por um membro da oposição.
O escândalo ganhou um novo capítulo ontem quando a presidência da Coreia do Sul teve que apresentar explicações sobre a compra de Viagra e de outros remédios similares para tratamento da disfunção eréctil.
Um porta-voz de Park afirmou que os comprimidos foram comprados para evitar um possível mal-estar durante uma visita da presidente em Maio a vários países africanos com áreas de altitude elevada, como a Etiópia. “Nós comprámos para a viagem, mas não os usámos”, disse Jung Youn-Kuk à imprensa, antes de destacar que o medicamento é conhecido pela sua eficácia contra o mal-estar em altitudes.