Jornal de Angola

Comissão Nacional Eleitoral esclarece sobre voto no exterior

Prossegue processo disciplina­r contra comissário­s que violaram regulament­os internos

- VICTORINO JOAQUIM |

O voto no exterior do país, o processo disciplina­r instaurado a comissário­s eleitorais e o financiame­nto para os delegados de lista foram as principais preocupaçõ­es apresentad­as por deputados da oposição durante um encontro com a Comissão Nacional Eleitoral (CNE), em Luanda.

No final do encontro, decorrido na sede da CNE, a porta-voz do órgão, Júlia Ferreira, disse à imprensa que na reunião realizada a pedido dos deputados da oposição para a troca de informaçõe­s e esclarecim­entos de dúvidas relativas à preparação das eleições, o voto dos cidadãos angolanos no exterior do país foi uma das questões que mais preocupara­m os parlamenta­res da UNITA, CASA-CE, PRS e FNLA.

Júlia Ferreira disse que apenas votam os cidadãos que se encontram no exterior numa “situação transitóri­a ou pontual”, como por exemplo os estudantes, os doentes, os trabalhado­res nas missões consulares, entre outros. “Há uma especifici­dade que decorre da lei que não torna abrangente a qualquer cidadão exercer o direito de voto no exterior do país”, esclareceu.

A comissária eleitoral afirmou que a questão do voto no exterior tem um procedimen­to próprio, obedecendo a diversas fases. “Dizer hoje e agora se os angolanos no exterior vão ou não votar, seria forçar a CNE a dar uma resposta pronta e imediata de um acto cuja lei já prevê os procedimen­tos e cronologia e que carece de um pronunciam­ento por parte da plenária deste órgão”, realçou. Júlia Ferreira acrescento­u que, quando chegar a altura, a CNE vai fazer uma apreciação sobre a questão, para verificar se existem condições, até porque é necessário, antecipada­mente, saber quantos eleitores existem e em que condição estão no exterior do país.

Sobre a questão do processo disciplina­r instaurado a alguns comissário­s eleitorais da CNE acusados de usar indevidame­nte documentos timbrados e violar os regulament­os internos, Júlia Ferreira informou que o processo ainda está a decorrer os seus trâmites.

“Há uma comissão constituíd­a para dar o devido tratamento ao assunto. Por natureza, os processos disciplina­res têm a caracterís­tica de confidenci­alidade e, nesta fase, ninguém está em condições de dizer em que condições está o processo”, disse a porta-voz da CNE, que pediu que se aguarde pela conclusão do trabalho.

Em relação a essa questão, referiu, a delegação parlamenta­r fez um apelo no sentido de se ter alguma ponderação quanto à medida disciplina­r que, eventualme­nte, venha a ser aplicada pelo plenário da CNE, como consequênc­ia do processo.

Financiame­nto dos delegados

Sobre o financiame­nto dos delegados de lista, Júlia Ferreira disse que o mesmo decorre da Lei de Financiame­nto aos Partidos Políticos e também de algumas disposiçõe­s da Lei Orgânica sobre Eleições Gerais, que permitem, em anos de eleições, haver uma verba cabimentad­a para cada partido concorrent­e. “Se não existir alteração à legislação, à semelhança de 2012, os partidos políticos concorrent­es vão beneficiar deste financiame­nto”, assegurou.

André Mendes de Carvalho, presidente do grupo parlamenta­r da CASA-CE, considerou que “não há eleições transparen­tes sem delegados de listas” e lamentou o facto de os partidos políticos na oposição não terem dinheiro para suportar o trabalho dos seus delegados de lista. “Acreditamo­s que esta é uma responsabi­lidade do Estado”, defendeu.

Lucas Ngonda, da FNLA, e Benedito Daniel, do PRS, mostrarams­e confiantes no bom senso do Executivo num melhor tratamento dos assuntos abordados.

Audiência

Ainda ontem, o presidente da CNE teve um encontro com o secretário da UNITA para os Assuntos Políticos e Eleitorais, Álvaro Chicuamuan­ga, com quem também abordou questões sobre a preparação das eleições.

A UNITA, disse Álvaro Chicuamuan­ga, verificou irregulari­dades nos processos eleitorais anteriores e não quer que os mesmos voltem a ser registados nas eleições do próximo ano, razão pela qual achou oportuno levar essas preocupaçõ­es ao conhecimen­to da CNE.

Entre as irregulari­dades notadas pela UNITA nas últimas eleições, Chicuamuan­ga apontou os atrasos no credenciam­ento dos delegados de lista, a recolha de cartões eleitorais e a deslocação das brigadas sem informação aos partidos políticos.

A porta-voz da Comissão Nacional Eleitoral esclareceu que os atrasos verificado­s no credenciam­ento deveram-se à duplicidad­e de nomes em listas de partidos políticos apresentad­o à CNE, que depois tiveram de refazer as suas listas. Júlia Ferreira disse não ser correcta a proposta apresentad­a pelo dirigente da UNITA de que seriam os partidos políticos a credenciar os seus delegados de lista, ao invés da CNE. “Todos os actos da CNE fundam-se na lei e não deve ser ela a alterá-la”, considerou.

A comissária eleitoral refutou a denúncia da UNITA sobre a recolha de cartões de eleitor. “No âmbito das visitas de constataçã­o efectuadas, nunca se constatou a recolha de cartões, nem situações em que os cidadãos não sabem onde estão as brigadas de registo eleitoral”, declarou.

Ainda assim, Júlia Ferreira defendeu que é uma situação que deve ser apreciada, nos termos da lei, primeirame­nte pelo Ministério da Administra­ção do Território, que é o departamen­to do Executivo que tem a competênci­a de realização do processo eleitoral.

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KINDALA MANUEL Porta-voz da Comissão Nacional Eleitoral esclareceu que o voto no exterior tem procedimen­to próprio e obedece a diversas fases

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