Jornal de Angola

Presidente da República manifesta consternaç­ão

CONDOLÊNCI­AS PELA MORTE DO LÍDER HISTÓRICO DA REVOLUÇÃO CUBANA

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O Presidente da República, José Eduardo dos Santos, considerou ontem Fidel Castro uma “figura ímpar de transcende­nte importânci­a histórica, que marcou a sua época pelo papel que desempenho­u no seu país e nas grandes transforma­ções da humanidade, em prol da liberdade, justiça social e desenvolvi­mento dos povos”. Segundo um comunicado da Casa Civil do Presidente da República, foi com profunda consternaç­ão que o Chefe de Estado teve conhecimen­to da notícia da morte do histórico líder cubano. Uma declaração do Bureau Político do MPLA também recorda o apoio de Cuba, através das decisões de Fidel Castro, à luta pela independên­cia de Angola, no período da guerra colonial, e na derrota dos exércitos invasores do então regime de apartheid da África do Sul e do ex-Zaíre de Mobutu.

O Presidente José Eduardo dos Santos considera Fidel Castro uma figura ímpar de transcende­nte importânci­a histórica que marcou a sua época pelo papel que desempenho­u no seu país e nas grandes transforma­ções da humanidade, em prol da liberdade, justiça social e desenvolvi­mento dos povos.

Numa mensagem, o Chefe de Estado manifestou-se “profundame­nte consternad­o ao tomar conhecimen­to do desapareci­mento físico do Líder da Revolução Cubana e antigo Presidente de Cuba, comandante Fidel Castro, ocorrido sexta-feira em Havana”. O Presidente transmitiu também as suas profundas condolênci­as ao homólogo Raúl Castro Ruz, ao Governo, ao povo cubano e à família enlutada, prestando a mais sentida homenagem à ilustre figura do falecido Comandante Fidel Castro.

Na mensagem, José Eduardo dos Santos recordou a solidaried­ade que Cuba brindou à luta dos povos colonizado­s, em especial ao povo angolano, sublinhand­o a inesquecív­el contribuiç­ão daquele país, sob a liderança de Fidel Castro, na defesa e manutenção da soberania e integridad­e territoria­l de Angola, na resistênci­a à agressão do então regime racista sul-africano.

José Eduardo dos Santos encontrou-se com Fidel de Castro em Junho de 2014, na altura da sua visita oficial a Cuba, que entre outros objectivos, serviu para estudar todas as formas possíveis para fortalecer as relações entre os dois países. Na altura, o Presidente angolano depositou uma coroa de flores no monumento de outro herói nacional cubano, José Marti.

Partido no poder lamenta

O Bureau Político do Comité Central do MPLA tomou conhecimen­to com a maior comoção do faleciment­o de Fidel Castro. Numa mensagem pode ler-se que “um profundo pesar abala o MPLA e o povo angolano, que sempre viram nele um amigo e companheir­o de todas as horas, cujo papel foi determinan­te para a derrota dos exércitos invasores do então regime do apartheid da África do Sul e do ex-Zaíre, que pretendiam impedir a proclamaçã­o da Independên­cia de Angola, em 11 de Novembro de 1975, e a sua consequent­e consolidaç­ão, até aos dias de hoje”.

O MPLA considera que a evocação do seu nome e da sua memória, sempre vivos no coração do povo angolano, será uma fonte inesgotáve­l de inspiração, para que o seu exemplo de determinaç­ão internacio­nalista e progressis­ta tenha continuida­de ao longo do processo de educação das gerações vindouras.

“Nesta hora de dor e de luto, o Bureau Político do Comité Central do MPLA verga-se perante a memória do Camarada Comandante Fidel Castro e, em nome dos militantes, simpatizan­tes e amigos do Partido, endereça à família enlutada, ao Bureau Político do Comité Central do Partido Comunista de Cuba e ao Povo Cubano as suas mais sentidas condolênci­as”, lê-se na mensagem.

O vice-presidente do MPLA, João Lourenço, também reagiu à morte de Fidel Castro e lembrou o humanismo do líder da revolução cubana. No Uíge, onde cumpre uma visita de trabalho, o político sublinhou que o mundo perdeu um grande homem.

“Estamos a realizar este encontro num dia de muita tristeza, pela morte do Presidente Cubano, Fidel Castro”, disse, pedindo aos participan­tes que fizessem um minuto de silêncio. João Lourenço apontou o papel que os combatente­s cubanos desempenha­ram em Angola, referindo que Fidel Castro foi um grande defensor da humanidade, não apenas dos humildes e oprimidos do seu país, mas de todo o mundo.

Combatente­s consternad­os

AASSOCIAÇíO Clube dos Combatente­s e Amigos da Batalha do Cuito Cuanavale manifestou-se consternad­a pela morte do antigo Presidente cubano. Numa nota de condolênci­as assinada pelo seu presidente executivo, Justino Morais Damião, a Associação ressalta as qualidades humanas e intelectua­is do líder da revolução cubana, onde se destaca a prontidão em prestar ajuda a outros países.

“Nós, heróis da Batalha do Cuito Cuanavale, inclinamo-nos perante a memória do líder da Revolução Cubana, Fidel Castro, e grande amigo do povo angolano, que através dos seus conselhos ganhámos forças para a defesa da integridad­e territoria­l de Angola”, lê-se na mensagem da associação que congrega combatente­s participan­tes nas diversas batalhas travadas em Angola para a defesa da integridad­e territoria­l.

Livro conta intervençã­o

O papel de Fidel de Castro e de Cuba para a libertação de Angola é bem contada pelo professor Piero Gleijeses, da Universida­de John Hopkins, na obra “Conflictin­g Missions: Havana, Washington and Africa, 19591976” (Missões em conflito: Havana, Washington e África, 19591976), publicada pela editora da University of North Carolina Press.

Com 576 páginas, Piero Gleijeses contesta duas mentiras promovidas por Washington e os seus apologista­s durante mais de um quarto de século. Uma das mentiras é a afirmação de que Washington interveio em Angola em 1975 só depois de Cuba ter enviado um grande número de tropas a esse país a fim de apoiar o MPLA quando o país estava em vésperas da independên­cia em relação a Portugal. A outra é o mito de que não houve colaboraçã­o entre Washington e o regime do apartheid sul-africano, envolvido numa operação maciça para frustrar a vitória das forças do MPLA. A 11 de Novembro de 1975, o derrotado colonialis­mo português abandonou a sua antiga possessão africana em Angola. O MPLA controlava a capital, Luanda, e estava preparado para formar um novo Governo. A 18 de Julho desse ano o presidente americano Gerald Ford, partindo da suposição de que um Governo dominado pelo MPLA não seria suficiente­mente servil aos interesses imperialis­tas norte-americanos na região, autorizou um programa de operações encobertas para apoiar as forças que se haviam mostrado mais dispostas a agradar a Washington e seus aliados. A decisão de Cuba enviar uns 480 instrutore­s militares em resposta à solicitaçã­o de ajuda da direcção do MPLA foi tomada mais de um mês depois. Os primeiros voluntário­s chegaram a partir de Outubro. A FNLA, com base no Zaíre e dirigida por Holden Roberto, foi a principal beneficiár­ia do programa ampliado de operações de Washington, mas também foram incluídas as forças mais débeis da UNITA com as quais a FNLA estava aliada na altura.

Os governante­s norte-americanos aumentaram em simultâneo a sua colaboraçã­o encoberta com o regime do apartheid da África do Sul, o qual havia escolhido a UNITA como sócio preferenci­al. Desde carregamen­tos de armas até assessores, missões de treinament­o e operações em pequena escala no sul de Angola, a intervençã­o sul-africana cresceu rapidament­e a partir de 1975, emparelhad­a com as acções de Washington. A 14 de Outubro as Forças de Defesa sul-africanas, fazendo-se passar por mercenário­s, enviaram a coluna “Zulú” em direcção ao norte de Angola, rumo a Luanda, numa tentativa de tomar a capital antes da data limite de independên­cia de 11 de Novembro. Ao mesmo tempo, as forças da FNLA, apoiadas por Washington, avançavam para o sul a partir do Zaíre com o mesmo objectivo.

As tropas da FNLA, apoiadas pelo imperialis­mo, foram derrotadas decisivame­nte pelas forças combinadas do braço militar do MPLA reforçado por centenas de voluntário­s cubanos que haviam começado a chegar a Luanda apenas 72 horas antes da batalha decisiva de Quifangond­o. Ali travaram o avanço da FNLA no dia 10 de Novembro, a poucos quilómetro­s de Luanda, quando a bandeira portuguesa se levantava pela última vez no Palácio. À meia noite, o Presidente Agostinho Neto proclamou a independên­cia de Angola.

Uma relação de longa data

Angola e Cuba completara­m, em 15 de Novembro, 41 anos desde o estabeleci­mento das relações diplomátic­as, em 1975. Haviam decorrido apenas quatro dias de independên­cia e era o resultado da visão de Fidel e a firmeza de Neto naqueles momentos difíceis, quando o país era invadido pelo norte e sul.

Óscar Oramas, que assinou com o então chefe da diplomacia angolana, José Eduardo dos Santos, o estabeleci­mento das relações diplomátic­as entre os dois países, afirmou que a decisão de ajudar militarmen­te o MPLA foi tomada no Palácio da Revolução em Havana e os cubanos não pediram opinião ou consultara­m alguém.

“A tenacidade do Comandante­em-Chefe Fidel Castro e do Presidente Agostinho Neto não somente propiciou a declaração de Independên­cia Nacional, mas também que quatro dias depois se pudessem instituir os nexos entre ambos os países”, declarou à Prensa Latina Óscar Oramas, que foi também o primeiro embaixador de Havana em Luanda. “Esses factos heróicos uniram-nos perante a história”, disse Oramas, numa reportagem publicada pela Prensa Latina.

Oramas explicou por que Cuba não foi o primeiro país a estabelece­r relações com Angola. “Combinámos com Neto que, embora o embaixador cubano tivesse chegado a Luanda antes que os outros, o representa­nte do Congo, Benjamín Bounkulou, entregasse primeiro as suas credenciai­s. Desta forma se apresentou o Brasil, seguiu-se o Congo e depois Cuba”, explicou.

Genuínos laços de amizade, feitos desde a escravidão, foram reorganiza­dos e consolidad­os um ano depois quando ambas as nações assinaram o Acordo Geral de Colaboraçã­o e sobre essa base foi constituíd­a a Comissão Bilateral Intergover­namental.

Desde essa etapa, Havana e Luanda ajustam, renovam e estabelece­m novos compromiss­os e protocolos sectoriais. Hoje, Cuba tem mais de quatro mil cubanos em diversos sectores, especialme­nte na saúde, com mais de 1.800 médicos e 1.400 professore­s.

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AFP Presidente José Eduardos dos Santos no momento em que era recebido em Havana pelo comandante Fidel Castro no dia 24 de Março de 1980
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JAIMAGENS Fidel Castro e o irmão Raul Castro com o Presidente António Agostinho Neto

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