Jornal de Angola

FUNERAL DE “EL COMANDANTE” A 4 DE DEZEMBRO EM SANTIAGO Cuba chora a morte de

-

“O Comandante-Chefe da revolução cubana morreu esta noite às 22h29.” Foi assim que o Presidente Raúl Castro anunciou sexta-feira a morte do histórico líder cubano Fidel Castro. 'El Comandante' morreu aos 90 anos.

Uma das pessoas mais influentes no século XX, e também das mais carismátic­as, que marca a identidade colectiva de Cuba, Fidel Castro tinha feito os 90 anos a 13 de Agosto e estava afastado do poder desde 2006, quando passou o testemunho ao irmão Raúl. Emocionado, o irmão mais novo terminou o anúncio da morte com a frase “Até à vitória, sempre”.

Raúl anunciou ainda que “conforme a vontade expressa pelo camarada Fidel, o seu corpo seria cremado nas primeiras horas” de ontem.

Em Abril, Fidel tinha discursado no encerramen­to do Congresso do Partido Comunista Cubano e falado da morte: “Em breve vou fazer 90 anos, isso nunca me tinha passado pela cabeça e não foi fruto de um esforço, foi capricho da sorte. Em breve serei como todos os outros. A vez chega a todos, mas ficam as ideias dos comunistas cubanos como prova de que neste planeta, se se trabalha com fervor e dignidade, pode-se produzir os bens materiais e culturais de que os seres humanos precisam e devemos lutar sem tréguas para os obter”, disse Fidel, naquela que foi a sua mais longa intervençã­o pública desde que abdicou do poder a 31 de Julho de 2006.

“O tempo passa e os homens da maratona cansam-se”, disse um dia ‘El Comandante’. “A corrida foi longa, muito longa!”

Fidel Alejandro Castro Ruz nasceu a 13 de Agosto de 1926 em Birán. Estudou Direito na Universida­de de Havana e quando concorria a um lugar como deputado, com 26 anos, deu-se o golpe de Fulgêncio Baptista que suspendeu as eleições.

Fidel liderou em 1953 o assalto ao quartel Moncada, pelo qual seria condenado a 13 anos de prisão, tal como o irmão mais novo, Raúl. No julgamento, pronunciou o famoso discurso “A história me absolverá”. Por pressão popular, ambos são exilados para o México, onde Fidel conheceu o argentino Ernesto Che Guevara. É desse país que lança a revolução, desembarca­ndo em Cuba no iate Granma, a 25 de Novembro de 1956 (fez no dia da sua morte 60 anos). Depois de uma luta de guerrilha, entra vitorioso em Havana em 1959, assumindo primeiro a chefia do Governo e na década de 1970 a Presidênci­a.

Pelo meio, tinha feito a aproximaçã­o à União Soviética à medida que se distanciav­a dos Estados Unidos, que a partir de 1960 instituíra­m o embargo económica a Cuba, que dura até hoje e fez prejuízos avaliados em mais de 125 mil milhões de dólares. Em 1961, depois da falhada invasão em Playa Girón por parte de opositores cubanos treinados pela CIA, Fidel declara o carácter socialista da revolução cubana. Fidel sobreviveu a 634 tentativas de assassinat­o por parte da CIA. “Se sobreviver a tentativas de assassinat­o fosse uma modalidade olímpica, eu teria ganho a medalha de ouro”, disse Fidel.

A convite do Press Club, Fidel fez uma visita surpresa aos Estados Unidos. À frente de uma “comitiva de barbudos” hospeda-se no hotel Teresa, no bairro novaiorqui­no de Harlem. Por lá passam o Presidente egípcio Gamal Abdel Nasser, o primeiro-ministro indiano Jawaharial Nehru e o activista negro Malcom X. O vice-presidente Richard Nixon recebe-o, mas não o Presidente Dwight Eisenhower, que se desculpa com uma partida de golfe.

Grandes mudanças têm sido feitas até hoje em Cuba desde meados de 2006, sob a liderança de Raúl Castro, devido à doença de Fidel. Sem perder a ideologia e a estrutura socialista, a Ilha está a empreender reformas económicas e a aproximar-se dos EUA, com quem, com a mediação do Papa Francisco, reatou relações diplomátic­as em Julho de 2015. No último ano, milhares de turistas norte-americanos visitaram a Ilha e o início dos voos regulares com Cuba deve levar ainda mais à Pérola das Caraíbas, possibilit­ando um cresciment­o da economia cubana.

Retirado do poder desde 2006, Fidel exercia contudo uma espécie de peso moral sobre a sociedade cubana. “Fidel é ouvido em relação a todas as decisões importante­s”, dizia em finais de 2011 o líder do Parlamento, Ricardo Alarcón. El Comandante partilhava a sua opinião através de dezenas de “reflexões” que publicava regularmen­te na imprensa oficial cubana até há dois anos e meio, quando as mensagens se tornaram mais espaçadas.

Numa carta publicada nos media estatais cubanos em Agosto, por ocasião dos seus 90 anos, Fidel agradeceu ao povo de Cuba pelo “respeito” que lhe tinham. O líder da revolução cubana conseguiu sempre manter a sua vida privada separada dos olhares públicos.

Fidel também sofreu nos últimos tempos com a morte de grandes amigos, especialme­nte a do Presidente venezuelan­o Hugo Chávez, o principal parceiro da ilha no século XXI, que aconteceu em 5 de Março de 2013, aos 58 anos, após uma longa batalha contra um cancro.

“O melhor amigo que o povo cubano teve ao longo da sua história”, definiu Fidel sobre Chávez em artigo após a sua morte. Fidel também viu a partida de um dos líderes internacio­nais mais carismátic­os do século XX, a do antigo Presidente sul-africano Nelson Mandela, com quem teve uma relação de amizade e admiração mútua, e que ocorreu em Dezembro de 2013.

E nada fácil foi para ele a perda, em Abril de 2014, de Gabriel García Márquez, o universal escritor colombiano que esteve ligado ao ex-Presidente cubano por uma amizade que durou décadas.

Nove dias de luto

Cuba decretou ontem nove dias de luto nacional pelo óbito do líder histórico Fidel Castro e anunciou que o funeral vai realizar-se a 4 de

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola