África grata a Fidel
A gratidão africana a Cuba, reafirmada a propósito da morte de Fidel Castro, expoente ímpar da verdadeira solidariedade com África, tem uma relação forte com a libertação das injustiças históricas a que o continente esteve sujeito durante séculos, e que alguns teimam em ignorar.
A gratidão dos povos africanos reside no exemplo profundamente humano dado por Fidel. Cuba enviou para Angola os melhores dos seus melhores filhos no momento preciso em que se decidia se o continente africano claudicaria de vez perante o colonialismo e a segregação racial como sistema de dominação política ou se, pelo contrário, se se bateria corajosamente pela sua dignidade. Nenhum outro país o fez como o país de Fidel.
Este é um elemento importante de distinção sobre quem sempre defendeu ou não os direitos humanos. A ajuda cubana a África deuse em harmonia com os grandes ideais morais de igualdade que marcaram a revolução vitoriosa liderada por Fidel. Mas mesmo em forma de regime político instituído, nenhum país do Terceiro Mundo reduziu tanto os níveis de pobreza e as desigualdades sociais como a Ilha de Fidel. Os primeiros internacionalistas que chegaram em 1975 a Angola eram homens e mulheres altamente qualificados e de uma consciência moral avançada, não alguém que se fazia conduzir pelo lucro financeiro ou pela vaidade pessoal.
Quem viveu intensamente a encruzilhada daquela época, os momentos da independência de Angola e da chegada dos internacionalistas cubanos, sabe que assim foi, de facto. Milhares de vidas humanas foram salvas graças à ajuda militar de Cuba. Quando tudo estava já em desespero e dado como perdido para travar o avanço das forças do apartheid sobre Luanda – bastião da liberdade que o povo estava determinado a defender a todo o custo – a decisão de Cuba em enviar um contingente de combatentes para Angola ajudou a repor o equilíbrio das coisas. A justeza da decisão foi confirmada pelo que se veio a verificar a seguir: dezassete anos depois foi possível ter paz e realizar eleições livres. Apenas Jonas Savimbi, servidor do apartheid, conseguiu estragar tudo.
Face à desorientação de Portugal e das potências mundiais, o gesto de Fidel foi um importante factor de distensão, porque o desentendimento entre angolanos era atiçado por gente aventureira e os interesses externos em jogo eram conflituantes. E se Cuba tivesse vacilado e a aposta na intervenção falhado, o mundo teria assistido a factos de uma gravidade extrema. Teríamos presenciado massacres maiores aos que as SADF, a Sul, e os mercenários aliados ao Exército do ditador Mobutu Sese Seko, a Norte, realizaram pelo território angolano até à sua expulsão definitiva, em Março de 1976. Se, sem a ajuda de Fidel, tivesse sido quebrada a defesa angolana de Kifangondo e do Sumbe, constituída no início apenas por guerrilheiros nacionais ainda sem a necessária preparação para a guerra convencional, a independência angolana teria sido afogada em sangue e catástrofes maiores do que Kassinga, em 1978, e Mossul ou em Aleppo, actualmente, teriam ocorrido.
Além de travar o risco de um massacre em grande escala em Luanda, a entrada de Cuba e de Fidel em cena alargou a rede de solidariedade internacional e impediu que o colonialismo e o sistema de apartheid recuperassem dos revezes sofridos em Angola e em Moçambique, após a Revolução dos Cravos em Portugal.
Os verdadeiros africanos estarão, por isso, sempre gratos a Fidel.