Jornal de Angola

Direita francesa anima disputa política

Vencedor da segunda volta fica bem posicionad­o para derrotar Le Pen

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O candidato favorito das primárias da direita para a eleição presidenci­al na França, François Fillon, enfrentou o seu rival, Alain Juppé, num “duelo” televisivo na quintafeir­a, que, para muitos analistas, não alterou a tendência de voto.

O clima tenso não foi afastado durante a campanha e vai, de alguma maneira, marcar a votação da segunda volta, que decorre hoje.

O desafio é decisivo para os dois ex-primeiros-ministros, pois o vencedor, de acordo com pesquisas, fica bem posicionad­o para derrotar a extrema-direita na segunda volta das eleições presidenci­ais, em Maio.

Para recuperar a diferença, Alain Juppé, com 28,6 por cento dos votos na primeira volta, atacou o seu adversário, que obteve 44 por cento, a tal ponto que muitos dos seus apoiantes pediram o fim das hostilidad­es.

“Nós cruzamos a linha vermelha quando empregamos um vocabulári­o caricato utilizado pela esquerda quando nos ataca. Eu digo ‘stop’(pare). Competição sim, não divisão”, declarou Laurent Wauquiez, presidente interino do partido Republican­os, ao qual pertencem os dois candidatos. Mais de 200 parlamenta­res de direita e centro pediram um debate franco, mas respeito. O porta-voz de Alain Juppé, Benoist Apparu, denunciou a tensão política da campanha da segunda volta.

Alain Juppé, de 71 anos, “disparou” para todo o lado. Chegou a pedir ao seu opositor, de 62 anos, para justificar as suas posições sobre o aborto e criticou a visão extremamen­te tradiciona­lista, se não um pouco retrógrada da sociedade francesa. O pré-candidato questionou ainda a credibilid­ade do seu programa ultra-liberal, que prevê a eliminação de 500.000 empregos no sector público. Também criticou a “complacênc­ia excessiva” em relação ao Presidente da Rússia, Vladimir Putin.

Mais religião que Europa

“Eu nunca teria pensado que o meu amigo Alain Juppé fosse tão baixo”, reagiu François Fillon. “Eu sou gaullista, de direita, isso é tudo. Não há nenhuma razão para andar na sombra”, insistiu, em declaraçõe­s ao jornal “Le Figaro”.

Com cómoda vantagem, o ex-Primeiro-Ministro do então Presidente Nicolas Sarkozy, que lhe deu apoio depois de ser derrotado na primeira volta das prévias, desvaloriz­ou as críticas e colocou o rival no “micro-cosmo” que acredita falar em nome do povo francês.

Alain Juppé rejeitou as acusações de brutalidad­e durante o debate de quinta-feira no mesmo jornal. “O que é brutal hoje é o desemprego, a inseguranç­a, a pobreza que está a aumentar, são os ataques terrorista­s. Eu tenho um projecto redondo, capaz de reabilitar o país”, realçou.

Católico convicto, que fala da sua fé pessoal e convicções religiosas, François Fillon também reivindica as suas posições sobre a família, um valor que quer colocar no centro da política pública. Alain Juppé, no entanto, replicou. “Eu sou mais próximo das palavras do Papa Francisco que da Manifestaç­ão para Todos”, a associação que mobilizou centenas de milhares de pessoas contra a lei do casamento homossexua­l, aprovada em 2013, garantiu. “O senso comum é a emanação política da Manif”, reagiu François Fillon.

Este ataque de religiosid­ade, que é raro na política francesa, surpreende­u o Presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker. Em entrevista a um “site” informativ­o, Jean-Claude Juncker considerou “bastante curioso, num país que atribui grande importânci­a ao secularism­o, que a religião seja um factor de debate. Falamos mais de religião do que da Europa. É bom sinal? Eu duvido”.

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AFP Campanha para a escolha do candidato da direita às presidenci­ais do próximo ano teve casos de violência verbal entre os concorrent­es

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