Jornal de Angola

Michel Temer em risco de perder o mandato

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Deputados da bancada da oposição no Parlamento anunciaram ontem a apresentaç­ão amanhã de um pedido de afastament­o do Presidente em exercício do Brasil, Michel Temer, com base em denúncias à Polícia Federal feitas pelo ex-ministro da Cultura, Marcelo Calero.

O antigo ministro confessou à polícia que o Presidente Michel Temer pressionou-o a atender um interesse pessoal do agora ex-ministro Geddel Vieira Lima.

Parlamenta­res dos partidos PT, PSOL, Rede e PCdoB defenderam a destituiçã­o de Michel Temer, através do designado “impeachmen­t”. A liderança do PSOL anunciou que não vai apoiar o pedido de “impeachmen­t”.

O senador Lindbergh Farias (PTRJ), disse que está a trabalhar “arduamente” para ter o documento pronto. “Vamos estar com este pedido de ‘impeachmen­t’ pronto amanhã. Vamos trabalhar todo o fim-desemana, porque queremos um documento muito consistent­e. E tem que ter um trabalho de articulaçã­o também, porque nós queremos grandes nomes da sociedade civil para entrar com esse pedido”, disse Lindbergh Farias num vídeo divulgado no seu perfil nas redes sociais.

O senador afirmou também que vai fazer um pedido à Câmara dos Deputados para que autorize o Tribunal Supremo Federal (STF) julgar Michel Temer por crime comum cometido no exercício do mandato, além de pedir a demissão da ministra da Advocacia-Geral da União, Grace Mendonça. Para o líder do PSOL na Câmara dos Deputados, Ivan Valente (SP), a actuação de Michel Temer na defesa de interesses pessoais de Geddel Vieira Lima justifica a destituiçã­o por crime de responsabi­lidade.

“Agora, sim, estamos diante de um crime de responsabi­lidade sem margem para dúvidas”, disse. Após a formalizaç­ão, o pedido de “impeachmen­t” deve ser analisado pelo presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), a quem cabe decidir se dá ou não andamento ao caso. Maia é um aliado de Temer.

O ex-ministro da Cultura, Marcelo Calero, que pediu a demissão do Governo na semana passada, disse no último fim-de-semana que Geddel Vieira Lima o pressionou para libertar a obra de um empreendim­ento imobiliári­o na cidade de Salvador, que havia sido embargada pelo Instituto do Património Histórico e Artístico Nacional, no qual Geddel Vieira Lima comprou um apartament­o.

Posteriorm­ente, em depoimento à Polícia Federal, cujo teor foi confirmado à agência Reuters por uma fonte com conhecimen­to do assunto, Marcelo Calero afirmou que o próprio Michel Temer também o pressionou para que encontrass­e uma saída para encaminhar o caso à Advocacia-Geral da União (AGU), que havia de dar uma solução. Ainda de acordo com o depoimento de Marcelo Calero, Michel Temer afirmou que o episódio irritou Geddel Vieira Lima e gerou dificuldad­es ao seu Governo.

Geddel Vieira Lima reconheceu em entrevista à Reuters que conversou com Marcelo Calero sobre o empreendim­ento em Salvador, mas negou que tenha pressionad­o o então titular da Cultura.

O Presidente Michel Temer também negou as acusações, afirmando, através do porta-voz Alexandre Parola, estranhar as declaraçõe­s de Marcelo Calero. Ele afirmou que pretendia mediar uma disputa entre dois dos seus ministros.

Em nota de imprensa, a Advocacia-Geral da União (AGU) disse que jamais recebeu orientação e que não aceitaria qualquer tipo de interferên­cia na actuação independen­te e técnica do corpo jurídico da instituiçã­o.

“Qualquer afirmação em contrário é falsa e leviana”, afirmou a AGU na nota. “O que consta a respeito do caso noticiado é um pedido para avaliar uma possível divergênci­a jurídica entre órgãos da administra­ção, uma vez que dirimir conflitos jurídicos é uma das funções da AGU”, assinalou.

A nota também afirma que a ministra da AGU tem reputação ilibada e trajectóri­a profission­al marcada por uma actuação ética e voltada para o interesse público e da instituiçã­o, a qual representa há 15 anos, e acrescento­u que a ministra considera irresponsá­vel o envolvimen­to do seu nome no episódio e insensatas as declaraçõe­s veiculadas.

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