Metade da população da RCA precisa de ajuda de emergência
Confrontos no último trimestre resultaram em centenas de mortes e deslocados
A ministra para o Bem Estar e Reconciliação da República Centro Africana (RCA) disse terça-feira, em Genebra, que quase metade da população do seu país precisa de assistência humanitária.
Virginie Baikoua falava ao lado do coordenador humanitário da ONU para a RCA, Fabrizio Hochschild, que pediu “mais atenção e apoio” da comunidade internacional para o que considerou “uma crise humanitária esquecida”.
A RCA, apesar do imenso potencial agrícola, tem das mais altas taxas de desnutrição crónica do mundo, que afecta uma entre duas crianças, “é dos países mais pobres e negligenciados do mundo, e os conflitos apenas pioram a situação”, referiu o representante da ONU.
Nos últimos três meses, ocorreram seis confrontos que resultaram em centenas de mortes e dezenas de milhares de desalojados, as taxas de mortalidade materna e infantil estão entre as mais altas do mundo e a insegurança, o fraco acesso à água potável e a cuidados de saúde estão entre os grandes problemas da RCA, afirmou.
Fabrizio Hochschild informou que um entre 10 centro-africanos vive como refugiado e a maioria procurou abrigo nos Camarões, e destacou que “esforços humanitários são críticos para estabilizar a RCA numa altura que são tratadas as questões políticas, de desenvolvimento e de segurança”.
O Plano de Resposta Humanitária da ONU para atender a RCA no próximo ano e ajudar 1,6 milhões de civis custa 400 milhões de dólares, concluiu Fabrizio Hochschild.
A Organização das Nações Unids anunciaram no início do mês, numa Conferência de doadores realizada em Bruxelas para ajudar os centro-africanos, que a comunidade internacional enviou “sinais fortes” de apoio aos esforços de paz e de desenvolvimento com a promessa - ainda não cumprida - de disponibilizar 2,28 mil milhões de dólares para a RCA.
Crianças são afectadas
Antes da conferência de doadores de Bruxelas, que inicialmente pretendia conseguir 3 mil milhões de dólares para a RCA, o UNICEF revelou que as crianças representam metade dos 850 mil centro-africanos deslocados internos ou refugiados nos países vizinhos, e que mais de um terço das crianças não frequenta a escola.
Aquela agência da ONU alertou que pelo menos 41por cento dos menores de cinco anos sofrem de desnutrição crónica e que desde 2013 entre seis mil e 10 mil foram recrutados por grupos rebeldes armados centro-africanos. Para reverter o quadro, o UNICEF defende que as crianças sejam prioridade no plano de recuperação, que deve dar primazia à saúde e à educação para os mais vulneráveis.
As desigualdades económicas, a disparidade de oportunidades entre as populações urbanas e rurais e tensões étnicas “alimentaram um ressentimento que ainda perdura” e o conflito iniciado em 2102, referiu o UNICEF. “As questões da justiça, da protecção e do combate à corrupção são fundamentais para a construção de um país que proteja os seus cidadãos e reforce o Estado de direito”, concluiu o comunicado do UNICEF.
Violência contínua
Na semana passada, pelo menos 85 pessoas morreram e 76 ficaram feridas nos mais recentes confrontos entre grupos armados rivais centroafricanos na região de Bria, anunciou terça-feira o Conselho Especial das Nações Unidas para a prevenção do genocídio e confirmou o portavoz oficial da presidência da RCA, Albert Mopkem.
A violência entre facções rivais Seleka, de maioria muçulmana, começou há uma semana na cidade de Bria, a 400 quilómetros a nordeste de Bangui, e causou 85 mortos, civis, 76 feridos e cerca de 11.000 pessoas foram obrigadas a sair da localidade.
Os confrontos opõem dois grupos armados que surgiram da antiga coligação rebelde Seleka, a Frente Patriótica para o Renascimento da RCA (FPRC), liderada por Nourredine Adam, e a União para a Paz na RCA (UPC), por Ali Darass.
Dados estimam que a RCA é dos países mais pobres do mundo. A ONU tem no país cerca de 12.500 efectivos na sequência de violência sectária que eclodiu em Março de 2013, após o afastamento do Presidente François Bozize, cristão, pela aliança rebelde Seleka, muçulmana.