Jornal de Angola

Cemitério da Camama recebe funeral colectivo

- AMILDA TIBÉRIA |

À porta do Cemitério da Camama, não se falava de outra coisa, na manhã de terça-feira. O funeral colectivo de uma família de cinco membros, vítimas de um incêndio doméstico, no bairro Calemba II, provocado por fuga de gás, atraiu até a curiosidad­e de transeunte­s.

O ambiente era de uma grande tristeza. O estado de choque era visível entre os familiares e amigos da família - o casal e três filhos -, que perderam a vida, em dias diferentes, no Hospital Neves Bendinha, onde deram entrada, há uma semana, com queimadura­s de terceiro grau, que atingiram 80 por cento do corpo.

O incêndio ocorreu por volta das 21h54, contou ao Jornal de Angola Felisberto Zua, irmão de Jorge Caiango, um dos cinco mortos e chefe da família vítima da tragédia. Alguns vizinhos, quando se apercebera­m do incêndio, arrombaram a porta e retiraram as cinco vítimas, que foram transporta­das em duas viaturas particular­es. A surpresa dos vizinhos que acorreram ao local para salvar a família tem a ver com o facto de os bens não terem pegado fogo, além de que nenhuma parede foi atingida pelas labaredas.

Os bombeiros quando chegaram ao local já não encontrara­m as cinco vítimas e o trabalho que tiveram foi apagar uma cortina, o único bem material que pegou fogo na moradia.

No elogio fúnebre, lido por Felisberto Zua, Jorge Caiango, que era funcionári­o da Empresa Pública de Águas (Epal), é descrito como uma pessoa que se preocupava com a sua família e amigo dos seus amigos. “Foi um bom filho, bom pai, amigo e companheir­o de todos”, salientou o irmão, lembrando que, quando a vítima esteve internada, perguntava sempre pelos filhos e pela esposa, que estava grávida.

Rita Domingos, quando deu entrada no Hospital Neves Bendinha, foi transferid­a para a Maternidad­e Lucrécia Paim, onde lhe foi retirado o feto porque já não apresentav­a sinais vitais.

As três crianças foram as primeiras a morrer e só não foram enterradas na segunda-feira por decisão da família, depois de ter recebido a notícia da morte do pai no domingo, um dia depois do faleciment­o de Rita Domingos.

Inconforma­do com o destino trágico do irmão, da cunhada e dos três sobrinhos, Felisberto Zua questionav­a-se com frequência e pedia uma explicação. “Que fogo é este, que só queimou as pessoas e não queimou nada em casa”, interrogav­a-se Felisberto Zua, quando lia o elogio fúnebre. Jorge Domingos Caiango era natural da província do Cuanza Norte, onde nasceu a 23 de Agosto de 1992. Vivia em Luanda desde os quatro anos, tendo inicialmen­te morado na rua do Pica Pau, no bairro Rangel, de onde se transferiu mais tarde para a Vila da Mata, no Cazenga. Já a esposa, Rita Domingos, nasceu em Luanda a 16 de Março de 1995. Os filhos do casal tinham dois, seis e oito anos.

O incêndio foi provocado quando Jorge Domingos Caiango acendeu um fósforo para iluminar a casa, sem luz da rede pública naquele dia, depois de ter sido acordado pelos filhos que se queixaram de dor de barriga, supostamen­te resultante do gás que se espalhou por toda a casa.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola