Zé Abílio foi a enterrar ao som da sua música
Os restos mortais do artista Zé Abílio, falecido segunda-feira, vítima de Acidente Vascular Cerebral (AVC), repousam desde ontem, no Cemitério do Alto das Cruzes, em Luanda.
O músico e humorista foi enterrado num ambiente de dor e consternação, ao som de “Nzaji”, tema da sua autoria e que faz parte do único CD, “Déstar”, lançado em 2014. Familiares, vizinhos, amigos e colegas de profissão estiveram presentes.
Uma multidão acompanhou Zé Abílio até à sua última morada, fazendo jus à sua canção “Não se pode fechar as portas da casa de óbito”, mas com o título em quimbundo.
O trânsito ficou parado por alguns minutos, nas ruas Ndunduma e Marechal Tito, devido à grande moldura humana que se quis despedir do homem cujo slogan era “A bicha está a andar bem”, que ficou na boca dos residentes do bairro Lixeira, onde nasceu.
Os grupos carnavalesco União Kazukuta do Sambizanga e União Operário Kabocomeu prestaram homenagem a Zé Abílio, ao interpretarem as canções da autoria do músico, com as quais estes grupos venceram o prémio BAI da Canção no Carnaval de Luanda, em 2008 e 2014.
A sua dimensão artística permitiu a leitura de notas de condolências de organizações com diversos objectos sociais, tanto de cariz político, cultural, social e desportivo.
O Ministério da Cultura, a União Nacional dos Artistas e Compositores (UNAC-SA), os grupos de Kazukuta do Sambizanga, Operário Kabocomeu e Kiela, a OMA, JMPLA e Clubes de Futebol destacaram o contributo do malogrado para o engrandecimento da cultura nacional, durante os elogios fúnebres.
Zé Abílio foi um homem culturalmente repleto e um ícone musical que despontava com os seus créditos.
Em representação da UNAC, Armando Rosa disse que a imagem e os feitos de Zé Abílio são indestrutíveis, transmitindo qualidade aos palcos da música angolana. ZéAbílio deixou uma marca na iniciação da carreira de muitas vozes do seu tempo e nos últimos anos emprestou a sua voz no último álbum dos Kiezos.
Kintino, amigo e colega com quem partilhou muitos palcos, pediu, esvaindo-se em lágrimas, para que Zé Abílio desse um abraço a Bangão, músico com quem iniciou a carreira e que foi enterrado há mais de um ano no lado oposto ao da sua sepultura.
Zé Abílio morreu com 49 anos, deixa 12 filhos, quatro netos e duas viúvas (uma casada e outra com quem vivia em união de facto).
José Abílio Salvador, ou simplesmente Zé Abílio foi uma figura emblemática do bairro Lixeira, onde nasceu há 49 anos, tendo-se notabilizado como homem de vários ofícios, como na música, onde era cantor e guitarrista, no futebol e na mecânica.
Começou a sua carreira nos anos 80, nas chamadas “Fogueiras do Militante”, das actividades político-culturais da JMPLA, com Bangão, Pedrito, Kintino, Man Jesus, Man Chupa, André, Lua, Chocho e Zezito, década em que juntos fundaram o grupo juvenil Os Foguetões, denominação que veio a mudar anos depois para Tradição.