Jornal de Angola

Gâmbia em estado de sítio

Presidente cessante tenta impedir tomada de posse do eleito marcada para amanhã

- ELEAZAR VAN-DÚNEM |

O Presidente da Gâmbia, Yahya Jammeh, declarou ontem o estado de emergência no país, a dois dias apenas da data em que é suposto ceder o poder ao vencedor das eleições presidenci­ais do mês passado. Jammeh recusa abandonar a Presidênci­a da Gâmbia, apesar das pressões internacio­nais nesse sentido e das ameaças de intervençã­o militar feitas por outras nações da África ocidental. Os 90 dias de estado de emergência começam imediatame­nte, anunciou ontem a televisão estatal.

A crise política pós-eleitoral na Gâmbia, provocada pela recusa do Chefe de Estado cessante em aceitar a derrota nas eleições presidenci­ais de Dezembro, considerad­as livres e justas pela União Africana e a generalida­de da comunidade internacio­nal, e a ansiedade e indefiniçã­o que se lhe segue prosseguem na Gâmbia, no dia em que termina o mandato de Yahya Jammeh e a um dia da data prevista para a tomada de posse do Presidente eleito, Adama Barrow.

Yahya Jammeh, que após dar os parabéns ao presidente eleito deu o dito por não dito e agora recusa a derrota nas urnas, parece estar determinad­o em impedir a investidur­a de Adama Barrow.

Numa conversa que teve ao telefone com a Presidente da Libéria e em exercício da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), Ellen Johnson Sirleaf, Yahya Jammeh manifestou a intenção de impedir a tomada de posse do Presidente eleito.

“Confirmei-lhe (Ellen Johnson Sirleaf ) que emitimos um pedido de proibição formal à tomada de posse do senhor Adama Barrow até que o Supremo Tribunal se pronuncie sobre o meu dossier. Também confirmei o meu pedido para que os Chefes de Estado da CEDEAO usem a sua influência para ajudar e facilitar a disponibil­idade dos juízes”, afirmou Yahya Jammeh aos meios de comunicaçã­o social gambianos.

Yahya Jammeh falava da decisão tomada pelo Tribunal Supremo da Gâmbia, que se declarou incompeten­te para decidir sobre o pedido para apreciar o que o Presidente cessante gambiano qualifica de “fraude eleitoral”. O Tribunal Supremo da Gâmbia considerou impossível, no pouco tempo que lhe restava até à data prevista para a tomada de posse do Presidente eleito, apreciar os recursos apresentad­os pelo Chefe de Estado cessante sobre a sua derrota eleitoral, antes de recrutar os juízes que faltam, e defendeu uma solução negociada com o eleito, Adama Barrow.

Em resposta às declaraçõe­s do Chefe de Estado cessante, o portavoz do Presidente eleito apelou à razão deste. “O que sabemos é que o mandato do Presidente Yahya Jammeh expira no dia 19. É melhor para ele, para o país, para todos que reconheça e aplique a constituiç­ão e não a viole”, afirmou.

À medida que insiste no discurso da fraude e em recusar a derrota nas urnas, o Presidente cessante gambiano parece estar cada vez mais isolado interna e externamen­te.

No que é entendido como uma medida para proteger Adama Barrow de “eventuais acidentes”, o Chefe do Estado senegalês, Macky Sall, aceitou acolher o Presidente eleito gambiano até amanhã, dia da sua investidur­a a pedido da Chefe de Estado da Libéria e líder em exercício da CEDEAO.

A decisão foi tomada à margem da última Cimeira África-França, que terminou sábado na capital maliana, Bamako, e na qual os Chefes de Estado e de Governo presentes analisaram a situação política na Gâmbia, na presença de Adama Barrow.

E na sua mais recente reunião, realizada na sede da União Africana, em Addis Abeba, capital etíope, o Conselho de Paz e Segurança da organizaçã­o indicou que, a partir de amanhã, 19 de Janeiro, deixa de reconhecer Yahya Jammeh como Presidente legítimo da Gâmbia.

No plano interno, a fuga do país do antigo ministro gambiano da Informação é a mais recente demonstraç­ão do isolamento do Presidente cessante gambiano, Yahya Jammeh, que, fruto da forte pressão para abandonar o poder, nomeou um mediador “para ajudar a resolver o impasse político no país”.

Estado de emergência

O Presidente da Gâmbia, Yahya Jammeh, declarou o estado de emergência no país, a dois dias apenas da data em que é suposto ceder o poder ao vencedor das eleições presidenci­ais do mês passado.

Jammeh recusa abandonar a Presidênci­a da Gâmbia, apesar das pressões internacio­nais nesse sentido e das ameaças de intervençã­o militar feitas por outras nações da África ocidental.

Os 90 dias de estado de emergência começam imediatame­nte, anunciou ontem a televisão estatal.

Jammeh considera que as eleições presidenci­ais foram afectadas por uma intervençã­o estrangeir­a que o Presidente considera ser “sem precedente­s”.

Yahya Jammeh chegou ao poder através de um golpe de Estado em 1994 e é acusado de graves violações dos direitos humanos, entre as quais detenções arbitrária­s, tortura e assassínio de opositores no pequeno país de 1,9 milhões de habitantes. Inicialmen­te, aceitou a derrota no escrutínio de 1 de Dezembro e felicitou publicamen­te o vencedor, Adama Barrow.

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HANDOUT|AFP Líderes africanos informaram a Yahya Jammeh que a partir de amanhã deixam de o reconhecer como Presidente da Gâmbia

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