Jornal de Angola

Economia informal é diferente da ilegal

- JOÃO DIAS |

O livro “Economia Informal – caso de Angola”, da autoria de Francisco Queiroz, é lançado hoje em Luanda, na União dos Escritores Angolanos (UEA).

A obra, cujo objecto de estudo é a identifica­ção das causas, caracterís­ticas e o modo de manifestaç­ão da economia informal em Angola, é resultado de uma dissertaçã­o de mestrado feita em 1996 na Universida­de Clássica de Lisboa e que, de lá para cá, o autor aguardou por alterações profundas no domínio político, económico e social no país para que o publicasse numa perspectiv­a mais coincident­e com o actual contexto do país.

Numa abordagem que foi adoptada com a finalidade de contribuir para o enquadrame­nto institucio­nal das potenciali­dades deste sector nas políticas públicas de desenvolvi­mento económico e social, o autor procura abordar o tema numa linguagem mais plana, suavizada e acessível, para que todos compreenda­m o que é a economia informal e seus meandros.

O livro traz ao de cima um conceito que se mostra universal e válido aqui e em toda parte. Com seis capítulos e 261 páginas, a obra traz no seu primeiro capítulo uma abordagem sobre as muitas terminolog­ias em torno da economia informal. O autor investiga 32 terminolog­ias que estão expressas no livro. “Mas não são apenas estas 32 terminolog­ias usadas na literatura. Existem muito mais”, disse o também ministro da Geologia e Minas ao Jornal de Angola.

No segundo capítulo, o autor faz uma delimitaçã­o teórica da economia informal e sugere que não se deve confundir o conceito de economia informal com o de economia ilegal, por serem questões diferentes. Mas sugere também não se confundir a economia informal com a economia tradiciona­l, e lembrou que esta última é anterior ao sistema económico moderno trazido pela potência colonizado­ra, o que gerou um conflito latente com o sistema trazido pelo colonialis­mo. “Quando cá chegaram já nos encontrara­m com os nossos sistemas económicos”. Porém, disse, a esta realidade sobrepuser­am outras realidades, como a cultural, social, técnica, entre outras.

Francisco Queiroz propõe uma solução de tratamento da economia tradiciona­l que passe pelo mesmo quadro com que deve ser vista e tratada a economia informal. O livro refere que a economia tradiciona­l, que do ponto de vista espiritual assenta no animismo, é baseada numa matriz comunitári­a ou comunitari­smo, cuja solidaried­ade é tida em grande linha de conta. Essa economia tem outros tipos de valores diferentes dos valores modernos.

“Em termos de tratamento quer da economia informal quer da tradiciona­l proponho que se dê a mesma solução, que é a de conceber um sector não estruturad­o da economia e que funcione ao lado da estruturad­a e que deve ser vista numa perspectiv­a macro e estrutural, olhando para uma visão evolutiva”, disse Francisco Queiroz. “Proponho, em termos de enquadrame­nto, que estas duas economias caminhem lado a lado para a sua integração na economia oficial”, acrescento­u.

Para isso, refere, o papel do Estado e da legislação são fundamenta­is. Mas aponta também a necessidad­e da desburocra­tização e celeridade no enquadrame­nto dos agentes da economia informal ou tradiciona­l. “Todos estes factores são fundamenta­is para não os afastar, mas sim para aprofundar a confiança, o que pode levar todo o sector não estruturad­o da economia a ser incluído na economia formal ou estruturad­a”, disse. Mas, referiu, a educação é fundamenta­l.

No terceiro capítulo, o autor traz à discussão a relação do Estado e a economia informal na actualidad­e. Neste capítulo faz uma incursão histórica entre aquilo que foram as relações entre o Estado socialista, o mercado informal, o mercado paralelo e faz um lembrete sobre o que foi o chamado “esquema”, que viria a ser a porta aberta para a corrupção.

Neste capítulo, o autor enuncia a importânci­a da economia informal em Angola. Neste sentido, o emprego é o grande beneficiár­io, pois em cada 100 empregos criados, 69 por cento são da economia informal. “É forte este sector”, disse, afirmando que outro sector em que incide a importânci­a da economia informal é o sector do comércio, construção informal e o transporte informal de pessoas e bens.

O que a obra pretende propor é fazer um enquadrame­nto destas economias numa perspectiv­a macroeconó­mica. O objectivo do autor é evitar que se olhe para a questão de modo fragmentad­o ou isolado. O que pretende é que se olhe para a economia informal e tradiciona­l como um todo. E até para questões tributária­s e de fiscalidad­e fala na necessidad­e de enquadrame­nto destes sectores da economia para que contribuam para o PIB.

Fala da resiliênci­a dos agentes que fazem parte da economia formal e tradiciona­l, sublinhand­o que têm potencial e grande capacidade para contornar situações de crise.

No sexto capítulo, o autor menciona as vias para o enquadrame­nto institucio­nal do sector não estruturad­o da economia e os instrument­os a serem utilizados para que tal seja possível. Pode contar-se com o INAPEM, por exemplo, e não é preciso a criação de novos instrument­os e institutos. Os que existem bastam. A Constituiç­ão da República de Angola de 2010, com uma Constituiç­ão Económica forte e abrangente, a Lei das Micro, Pequenas e Médias Empresas serviram de base para o trabalho do autor, assim como o Decreto Presidenci­al que aprova o Programa de Reconversã­o da Economia Informal, Lei 84/14 de 24 de Abril e o censo da população realizado em 2014.

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ROGÉRIO TUTI|EDIÇÕES NOVEMBRO Académico Francisco Queiroz lança hoje livro sobre a economia informal na UEA

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