Rumo na era Donald Trump também afecta a imprensa
Com a chegada do empresário Donald Trump à presidência dos Estados Unidos na próxima sextafeira, o país dará início a uma mudança de rumo em todos os níveis, incluindo a imprensa, que mantém uma mais que complexa relação com o multimilionário.
Acostumados a uma defesa com veemência da primeira emenda da Constituição, onde se reflecte a liberdade de expressão e a liberdade de imprensa, os americanos estão há meses a ouvir o seu agora presidente eleito atacar os jornalistas e a acusá-los de mentir de forma dura.
Trump protagonizou ao longo destes meses episódios pouco comuns, primeiro para um candidato presidencial, e agora futuro presidente, como o que deu a volta ao mundo a semana passada depois de não permitir que um jornalista da emissora “CNN” lhe fizesse uma pergunta numa conferência de imprensa.
“Senhor presidente eleito, já que está a atacar a nossa organização de notícias, pode nos dar uma oportunidade?”, perguntou Jim Acosta, correspondente para a Casa Branca da emissora.
“Você não. A sua organização é terrível. Não vou dar uma pergunta a si. As suas notícias são falsas”, cortou Trump.
O multimilionário alegou durante toda a campanha eleitoral que os veículos de comunicação tradicionais, entre os quais citou a “CNN” e o jornal “The New York Times”, mentem para a população e estão ao serviço dos grandes interesses do sistema.
Quando de maneira inesperada venceu as eleições do dia 8 de Novembro, uma das primeiras dúvidas entre os jornalistas foi precisamente como seria a sua relação a partir de agora com a Casa Branca.
O empresário negou que um jornalista o seguisse nas suas primeiras horas como presidente eleito, e a sua equipa demorou a digerir e aceitar o tradicional grupo de repórteres que o acompanham para fornecer informação de primeira mão ao resto dos correspondentes, nacionais e internacionais.
Trata-se de um reduzido grupo de jornalistas que fazem rodízio para acompanhar o presidente em cada movimento, e que têm um acesso próximo da sua equipa para poder informar sobre os seus passos e compartilhar tal informação com o resto da imprensa.
Finalmente, os correspondentes da Casa Branca conseguiram esquivar esse obstáculo, mas Trump não está disposto a deixar as coisas como estão, também em relação aos veículos de comunicação e à sua capacidade para cobrir o Executivo americano.
O futuro chefe de gabinete da Casa Branca, Reince Priebus, disse que a equipa de Trump está a avaliar a possibilidade de transferir as entrevistas colectivas tradicionalmente realizadas dentro da Casa Branca para um espaço mais amplo fora do prédio.
Segundo detalhou em entrevista à emissora “ABC”, isto permitiria haver “mais imprensa e mais cobertura de todo o país”.
A sala James Brady é um pequeno espaço para cerca de 50 jornalistas situada na ala oeste da mansão presidencial eé a que abriga desde a época do ex-presidente Richard Nixon (1969-1974) as conferências de imprensa.
Da mesma forma, nessa sala é onde o porta-voz da Casa Branca responde às perguntas dos jornalistas diariamente e, em algumas ocasiões, o próprio presidente se dirige à nação.
Horas antes das declarações de Priebus, a revista “Esquire” publicou um relatório que sugeria que não só a sala de conferências seria outra, mas também que os meios de comunicação que contam com correspondentes dentro da Casa Branca poderiam ser desalojados permanentemente do seu espaço de trabalho dentro da mansão presidencial.
Sobre esse tema, o director de comunicações da Casa Branca, Sean Spicer, reconheceu que existe “uma discussão” sobre o assunto.
Perante estas declarações, o presidente da Associação de Correspondentes da Casa Branca, Jeff Mason, publicou um comunicado assegurando que os jornalistas farão tudo o que estiver nas suas mãos para que o acesso à informação não seja limitado.
“Em nome dos nossos membros, irei reunir-me com o futuro secretário de imprensa, Sean Spicer, para tentar ter uma maior clareza sobre o que estão a sugerir”, disse Mason.
“A sala de imprensa está aberta a todos os repórteres que solicitem acesso. Apoiamos isso e sempre o faremos. A associação lutará para manter o acesso à sala de imprensa e aos cargos de alto escalão da Administração localizados na ala Oeste”, acrescentou.
As decisões do governo Trump sobre como dar acesso ou não aos jornalistas ainda não foram confirmadas, mas a imprensa teme que a mudança da sala de imprensa para fora da Casa Branca seja uma maneira de evitar o controle dos meios sobre as suas acções.
“Nós nos opomos vigorosamente a qualquer movimento que possa proteger o presidente e os seus conselheiros do escrutínio de um corpo de imprensa na Casa Branca”, reforçou Mason.