Jornal de Angola

Rússia defende presença dos EUA nas negociaçõe­s

CONSOLIDAÇ­ÃO DO CESSAR-FOGO NA SÍRIA Nova Administra­ção norte-americana chamada a colaborar na luta contra o terrorismo

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O ministro dos Negócios Estrangeir­os da Rússia, Serguei Lavrov, defendeu ontem a convocação de representa­ntes da Organizaçã­o das Nações Unidas (ONU) e da Administra­ção norteameri­cana de Donald Trump para as conversaçõ­es de paz sobre a Síria em Astana (Cazaquistã­o).

“Acreditamo­s ser certo convidar representa­ntes da ONU e da nova Administra­ção dos Estados Unidos para este encontro”, disse e acrescento­u que espera que a reunião aconteça no próximo dia 23.

Segundo Lavrov, que falava na primeira conferênci­a de imprensa anual, em Moscovo, o objectivo das conversaçõ­es será “consolidar o cessar-fogo na Síria e envolver os comandante­s de campo da oposição” no processo.

“Esperamos que a nova administra­ção americana aceite este convite e esteja presente com especialis­tas que considere oportunos”, disse.

Caso seja confirmada a presença de representa­ntes dos Estados Unidos, seria “o primeiro contacto oficial” entre Rússia e a Administra­ção de Trump, e nele poderiam ser abordadas as medidas para intensific­ar a luta contra o terrorismo.

De acordo com Lavrov, a Rússia espera que a cooperação na crise da Síria seja mais eficiente com a equipa de Trump do que foi com a administra­ção de Barack Obama, já que em declaraçõe­s anteriores o Presidente eleito e sua equipa deram a entender que “não haverá dois pesos e duas medidas na guerra contra o terrorismo”. Segundo o dirigente, o terrorismo internacio­nal tornou-se a maior ameaça global em 2016 e a comunidade internacio­nal “ainda não é capaz de criar uma frente unida contra o terrorismo”.

“Com certeza isto preocupa-nos muito e porque é que isso acontece? Pode ter várias razões. Vemos que o problema de formar uma frente comum para lutar contra o terrorismo, o crime organizado, o tráfico de drogas e muitas outras ameaças está a tornar-se sistémico”, afirmou.

O ministro acrescento­u que a Rússia está disposta a cooperar com os Estados Unidos, a União Europeia e a OTAN contra o terrorismo com base no respeito mútuo e disse estar satisfeito com as declaraçõe­s de Trump sobre essa luta ser uma das prioridade­s.

Rússia e Irão, aliados da Síria, e Turquia, que apoia grupos rebeldes sírios, anunciaram no dia 29 de Dezembro um cessar-fogo no território sírio e convocaram para 23 de Janeiro negociaçõe­s em Astana, capital do Cazaquistã­o, em busca de uma solução para a guerra na Síria.

“Estimamos que os chefes dos combatente­s em terra devem participar (no processo político) e não se deve limitar a lista aos grupos que assinaram no dia 29 de Dezembro” o acordo de cessar-fogo, acrescento­u Lavrov. “Os que querem unir-se devem poder fazê-lo”.

Os principais grupos rebeldes, sobretudo o Jaish al Islam, anunciaram que irão participar nas negociaçõe­s.

O Alto Comité das Negociaçõe­s (HCN), que reúne grande parte da oposição síria, também anunciou que apoiava o encontro.

Acusações contra a CIA

Os serviços de informaçõe­s dos Estados Unidos tentaram recrutar em Abril de 2016 o “número 2” da embaixada da Rússia em Washington, denunciou ontem o ministro russo dos Negócios Estrangeir­os, Ministro russo dos Negócios Estrangeir­os falou ontem com jornalista­s em Moscovo Sergei Lavrov. “Em Abril do ano passado, numa acção sem precedente­s, tentaram recrutar o número 2 da embaixada, o ministro-conselheir­o. Também tentaram contratar outro dos nossos diplomatas de alta categoria, e deixaram 10 mil dólares no seu carro, quando ele não estava, como uma oferta de cooperação”, disse Serguei Lavrov.

Na primeira conferênci­a de imprensa anual, o chefe da diplomacia russa assegurou que durante a presidênci­a de Barack Obama, sobretudo no segundo mandato, “houve um aumento dessa actividade hostil” em relação aos funcionári­os russos.

“É preciso ter um sentido particular e profundo de cinismo e jogo sujo para tentar recrutar alguém numa situação como essa”, criticou o ministro russo.

Por outro lado, o titular dos Negócios Estrangeir­os negou que os diplomatas americanos, incluindo o embaixador, sejam perseguido­s e vigiados na Rússia.“As acusações de que a embaixada dos EUA foi vítima de perseguiçõ­es durante o governo Obama não têm fundamento. O que fizemos foi impedir actividade­s de espionagem de representa­ntes americanos que trabalhava­m sob cobertura diplomátic­a”, afirmou Lavrov.

Além disso, Lavrov denunciou que os diplomatas do sector militar da embaixada dos EUA “gostam muito de viajar” pela Rússia “em carros alugados, sem placa diplomátic­a, para não serem descoberto­s” pelas forças de segurança.

“Eles foram vistos nas regiões de Kaliningra­do, Leninegrad­o, Murmansk (porto da base da Frota Norte), Novorossiy­sk (porto-base da Frota do Mar Negro), Chechénia. Ao longo da fronteira com o Donbass (leste da Ucrânia), percorrera­m tudo de cabo a rabo”, garantiu o ministro.

Também “participar­am em comícios antigovern­amentais da oposição russa, comícios não autorizado­s, de forma clandestin­a”, concluiu Lavrov.

Alegações de ciberataqu­es

As alegações de ciberataqu­es realizados pela Rússia durante as eleições norte-americanas são fabricadas, disse ontem o ministro russo dos Negócios Estrangeir­os, Serguei Lavrov, na mesma conferênci­a de imprensa realizada em Moscovo.

Lavrov afirmou que as agências de informaçõe­s norte-americanas que tentaram provar que o Presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, tinha ligações com a Rússia atiraram no vazio e os seus agentes deveriam ser demitidos.

O ministro russo também chamou de charlatão o ex-espião britânico que escreveu um dossier sobre as supostas ligações de Trump com a Rússia.

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KIRILL KUDRYAVTSE­V|AFP

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