Indústria têxtil volta em força
África Têxtil vai produzir utensílios para o lar com um milhão e 800 peças por ano
Depois de 18 anos de paralisação, a África Têxtil, na província de Benguela, volta a entrar em funcionamento ainda este ano com o fabrico de lençóis, toalhas e cobertores. Localizada no bairro da Fronteira, zona industrial do município de Benguela, a África Têxtil nasceu na década de 80. Na época, era um dos maiores investimentos do Estado no Sector Industrial.
Devido à situação de conflitos que o país viveu a fábrica decretou falência e ficou paralisada muitos anos, mas um programa de reabilitação e amplificação da indústria têxtil fez renascer aquela que é considerada a maior fábrica têxtil de Angola.
A maquinaria está toda instalada e a tecnologia é de ponta. A gestão da África Têxtil é detida pela empresa “Alassola”, que promete fazer da marca uma referência na produção de utensílios para o lar e também para o sector hoteleiro. O destaque recai para os lençóis de cama com uma produção de um milhão e oitocentas peças, 12 milhões de toalhas e 120 mil peças de cobertores ano.
O empreendimento comporta outras produções dentro dela, desde a fiação, tecelagem, acabamentos e as confeções. E as projecções apontam para uma capacidade de responder às necessidades e exigências do mercado, isso no que se refere à qualidade dos produtos.
Quando a África Têxtil estiver no activo, os angolanos vão deixar de ter necessidade de recorrer ao exterior para comprar tecidos ou mesmo produtos acabados, como lençóis e roupas, na medida em que a partir da produção local, outros negócios hão-de surgir, particularmente na moda e costura.
Com a África Têxtil em plena actividade espera-se por maiores facilidades no dia-a-dia de costureiras, alfaiates, modistas, estilistas. Ou seja, haverá certamente um impacto na indústria de vestuários que vive a cem por cento de importações.
Postos de trabalho
Actualmente a fábrica trabalha em fase experimental.
Quando atingir o seu máximo a África Têxtil vai criar 1.200 postos de trabalho.
Para o êxito da fábrica mais de 90 formandos saíram aptos da acção formativa, aonde foram abordados temas relacionados com a liderança, supervisão, planeamento, programação e controlo de produção, operações de preparação de tinturaria de tecidos, de estampar têxtil – cilindro e de tinturaria de tecidos de linha contínua.
O supervisor de confecção, de tecelagem, operador de acabamento de tecidos lisos, tecidos estampados, tecidos flow e jigger e laboratoristas do beneficiamento têxtil, foram outros temas ministrados aos formandos. A fábrica já funciona em fase experimental. Ramo Gaspar é um dos funcionários e define a empresa como uma fábrica de grande envergadura para o País. “Já estou há muito tempo na costura. Aqui, estou na área do conserto porque ainda não temos conduções para começarmos a fazer fabrico. Agulha, linha e botões encontramos no mercado paralelo para fazer os consertos por enquanto”. Amaro Beni é um dos beneficiados com o emprego, garante que passou por uma formação com professores estrangeiros onde aprendeu muito e se sente capacitado para a área aonde for colocado.
“Trabalho na área das máquinas para fabricar toalhas. Ela é constituída por 2 rolos. A de cima, chamamos de rolo de filpa e a de baixo tem um rolo chamado urdume. É através dela que mostramos o que aprendemos, disse Amaro, acrescentando que agradece a Deus e ao Executivo angolano por este privilégio. “Vamos tudo fazer para o melhor da nossa província e nosso país”.
Culembe Samuel é outro, dentre muitos jovens que conseguiram o primeiro emprego na fábrica. Está destacado na área da tecelagem na zona de estiar. “Todo este estiar é especificamente para lisos. A especificidade desta área é que está distribuída em duas, uma para lisos e a outra para cobertores que são as últimas que ficam do outro lado da saída. Elas funcionam à base de ar comprimido que vem directamente do compressor. O compressor abastece esta zona que vai funcionar à base deste ar comprimido na qual tem as próprias válvulas para tal”.
Samuel que mostrar tudo o que aprendeu e como está motivado a dar o seu melhor e contribuir para uma Angola que cresce com grandes oportunidades para jovens da
sua faixa etária.
Oportunidade de negócio
O presidente do Conselho de Administração da Alassola afirma que o relançamento da industria têxtil no país põe à prova os empresários angolanos, que são agora impelidos a investir na cadeia de produção de tecidos, desde o cultivo do algodão. “O negócio pode começar já a partir da produção de algodão, porque as pessoas sempre pensaram voltar ao cultivo de algodão, mas colocava-se o problema de não existir mercado. Quem produz o algodão vai ter que mandar o algodão para a fábrica e para tal precisa de ser transportado. Esta é uma cadeia de valor em que muitos empresários podem intervir ganhando dinheiro e multiplicando os seus investimentos”. Na província de Benguela novas fazendas de produção de algodão estão a ser abertas. A dificuldade é a falta de energia. A África Têxtil vai ser um grande comprador do algodão em todo o país, porque vai produzir para exportar tecidos e gerar várias indústrias auxiliares.
Tambua Mucaje explica que depois do algodão ser transformado em tecido para se fazer os lençóis vai ser preciso fazer as confecções embora a fábrica tenha também algumas máquinas para confecções. Isto representa apenas trinta por cento. É preciso dar oportunidade aos outros. “As pessoas que se dedicam às confecções, então poderão cá vir buscar o tecido e confeccionar aquilo que é preciso, a modista a decoradora, quer dizer, isto é oportunidade de negócio”.
Ansiedade dos costureiros
Judite Silva, de 72 anos de idade, é uma das mais antigas modistas do Lobito, costureira desde os seus 18 anos. Além da costura faz bordado e tricô. O material utilizado, todo ele importado, compra em lojas ou em mercados informais no Lobito e em Benguela.
Miguel Tetabula, conhecido mestre Miguel, quer em Benguela como no Lobito é alfaiate há mais de 20 anos. Disse que a reabertura da fábrica é uma grande valia para o país porque os alfaiates estão em via de extinção devido à falta de material e melhores condições de trabalho. O arranque da África Têxtil abre novos horizontes para os profissionais da confecção e também para os detentores de hotéis, hospedarias, pensões.
O programa de reabilitação e amplificação da indústria têxtil faz parte de um programa amplo financiado através de uma linha de crédito do Governo japonês. Angola conta com três grandes fábricas de tecido: a Textang II, em Luanda, virada para o fabrico de tecidos para confecção de fardas militares, e produção de variedades de uniformes, a SATEC - Sociedade Angolana de Tecidos Estampados Comerciais, no Cuanza Norte, com a produção de malhas para confecção de roupas, e a Alassola - África Têxtil, que tem como segmento de produção os tecidos para o lar.
Produção de Algodão
Em 2011, ficou concluído o Programa Nacional para o Relançamento da Produção do Algodão em Angola. O Executivo pretende com o mesmo relançar não só a cultura do algodão mas também a indústria têxtil. A constatação da nossa reportagem é de que o processo de montagem das confecções, em Benguela, Luanda e Cuanza Sul, correu mais rápido que o do cultivo de algodão e da instalação das fábricas de descaroçoamento e prensagem de algodão. No que se refere ao relançamento do cultivo do algodão, o projecto prevê o envolvimento de cerca de 120 mil camponeses para a cobertura de 120 mil hectares.
A produção deve começar nas províncias de Malanje e Cuanza Sul, que têm grande tradição na cultura do algodão, e para posteriormente estender-se a Benguela, Bengo e Cuanza Norte. O programa prevê a instalação de 11 fábricas de descaroçoamento e prensagem de algodão nas províncias de Malanje, Cuanza Norte, Cuanza Sul, Benguela e Bengo.
Angola produziu em 1973 cerca de 86 mil toneladas de algodão-caroço, sendo considerado um dos maiores produtores mundiais de algodão. Em 1990 Angola produziu cerca de três mil toneladas de algodão.