Diplomatas e artistas na abertura de “Eu em Angola”
“Eu em Angola” é pequena em quantidade de obras, apenas 8, porém uma das mais significantes no universo da arte contemporânea angolana, quiçá mundial, porque a exposição colectiva desvenda parte da actualidade europeia e a relação do velho continente com Angola e países de outras latitudes.
Inaugurada terça-feira, no Camões-Centro Cultural Português, em Luanda, a mostra evidencia, por outro lado, a grandeza e ousadia imposta pela arte contemporânea, dominada pelas ideias do artista, desprezando preocupações técnicas e estéticas.
Entre os quadros, “Brexit”, de Binelde Hyrcan, é uma ventoinha a soprar uma bandeira azul da União Europeia, borrada com tinta amarela. À frente dessa ventoinha há uma serigrafia letrada, também borrada com tinta amarela. “Os detalhes que nos transformam”, de Ana Silva, é um fio com roupas estendidas, em que alguns trajes - tecidos e plásticos - têm ilustrações de rostos.
Kiluanji Kia Henda brinda-nos com “12 estrelas de gratidão”, contendo 25 peças de madeira, onde está impresso, a preto e branco, o símbolo da União Europeia. A artista Keyezua apresenta “Xé, vamos juntos”, técnica mista contendo várias fotos e pintura em forma de espiral. “O Chefe”, do francês François Beaurain, são sete fotografias a cor, em que o autor assume-se como protagonista: zungueiro de frutas nas ruas de Luanda, alfaiate, carniceiro de um talho. Incorpora ainda uma instalação com uma máquina de costura. “Untitled”, de Délio Jasse, são duas fotografias a preto e branco cujos motivos, embora suscite dúbia interpretação, espelha a relação entre colonizador e colonizado. O artista Januário Jano mostra “Below the skins”, um conjunto de 40 pedaços de desenhos a linha, emoldurados, que representam vários motivos sociais, incluindo animais, objectos domésticos, máquinas e meios de transporte, sem omitir a figura humana em contemplação com as invenções.
A portuguesa Rita Gt apresenta uma proposta financeira, “Eurowanza”, pintura emoldurada de duas notas, cada de 1 “Eurowanza”. A diversidade dos temas, retratando essencialmente aspectos ligados às sociedades europeia e africana, particularmente angolana, é um dos sinais dessa longínqua relação política, económica, cultural, militar e religiosa.
A curadora da actividade, Lola Keyezua, explicou que a exposição explora a relação entre África e Europa, antes e depois do colonialismo, através do olhar de dez artistas contemporâneos.
Referiu que a mostra reflecte a cooperação entre a União Europeia e Angola, mas também examina os laços entre europeus e africanos, bem como os seus efeitos na vida das pessoas e das comunidades.
Patrocinada pela União Europeia, a colecção “Eu em Angola” vai estar patente ao público até ao dia 11 de Fevereiro. No acto de inauguração, o recinto foi pequeno para albergar centenas de visitantes, com destaque dos embaixadores dos países europeus, e outros diplomatas acreditados em Angola.