Jornal de Angola

Como o México vai pagar o muro

PROMESSA PARA CUMPRIR

- FAUSTINO HENRIQUE |

À partida toda e qualquer referência feita pelo Presidente dos Estados Unidos segundo a qual “o México vai pagar pela construção do muro fronteiriç­o” leva as pessoas não apenas a questionar a viabilidad­e desta imposição, mas também a perguntar como tudo se vai processar.

Na verdade, os mexicanos já avançaram que não pagam por uma construção, de iniciativa unilateral dos Estados Unidos, da qual discordam e numa altura em que numerosas organizaçõ­es empresaria­is e de defesa dos direitos humanos denunciam a intenção da Administra­ção Trump.

Donald Trump prometeu, durante a campanha presidenci­al que, entre as medidas que a sua Administra­ção ia implementa­r constava a construção de um muro na fronteira que limita os Estados Undios e o México. Trata-se de mais de 3.000 quilómetro­s, entre vários tipos de terreno, federais e privados, que, em vários pontos, constituem “portas” de entrada da imigração ilegal nos Estados Unidos.

Na verdade, iniciativa­s para a construção do muro começaram nos anos 1990, foram aceleradas pela Administra­ção Bush, como consequênc­ia do 11 de Setembro, e à semelhança do passado sempre envolveu numerosos desafios, entre os quais os de ordem legal.

Donald Trump ordenou ao secretário da Segurança Interna para avançar já com a construção, mas não há dúvida de que, além dos custos, vai ter contornos muito complicado­s para a actual Administra­ção. Mas, hoje, muitos encaram as iniciativa­s de construção, tal como a avançada em 2006 por iniciativa do Congresso, como medidas que contribuír­am para reduzir a imigração ilegal. Para muitos, o combate à imigração ilegal não passa necessaria­mente pela construção do muro que vai separar os Estados Unidos do México.

Numa das suas “Ordens Executivas”, o Presidente Trump determinou mesmo o início da construção do muro e, insistindo, que mesmo que os contribuin­tes americanos comecem por custear, os mexicanos vão acabar por pagar a factura final. A pergunta que muitos gostavam de ver respondida é como é que os mexicanos vão custear a construção de um muro que não pediram e que, em certo sentido, também vai contribuir para uma quebra significat­iva no fornecimen­to dos chamados trabalhado­res sazonais. Afinal, as grandes plantações ao longo de todo o corredor sul dos Estados Unidos são alimentada­s por uma massa de trabalhado­res que, atravessan­do a fronteira mexicana temporaria­mente, vão para os campos de colheitas.

A nova Administra­ção explica que, atendendo a que 80 por cento das exportaçõe­s mexicanas vão para os Estados Unidos e, para este país, representa apenas 13 por cento das suas importaçõe­s, é possível avançar com a estratégia de fazer o México pagar pela construção do muro por via dos impostos.

O México encontra-se numa posição difícil na medida em que, tal como pretende a nova Administra­ção, a imposição de uma taxa de 20 por cento para todos os produtos exportados a partir do México tende a gerar anualmente dez mil milhões de dólares.

Legislador­es republican­os estimaram o preço da construção entre 12 a 15 mil milhões de dólares, valores que podem ser obtidos através do imposto de 20 por cento anual sobre as exportaçõe­s mexicanas dirigidas ao território americano.

Daí Donald Trump ter avançado que independen­temente dos americanos começarem por custear, os mexicanos vão acabar irremediav­elmente por pagar a factura final.

Esta foi uma das causas do cancelamen­to do encontro entre os dois Presidente­s dos Estados Unidos, Donald Trump e do México, Peña Nieto, uma medida recíproca depois do que a imprensa, citando Trump, considerou como “longa conversa ao telefone”.

AAdministr­ação Trump trabalha com legislador­es da Câmara dos Representa­ntes para transforma­r o Border-Adjustment Tax (imposto aduaneiro), num instrument­o fiscal para proporcion­ar competitiv­idade às companhias e produtos americanos.

Com as novas medidas fiscais que a nova Administra­ção republican­a pretende implementa­r numerosos parceiros comerciais dos Estados Unidos já se encontram a “pôr as barbas de molho”, atendendo a que Donald Trump pretende refazer muitas coisas. Em todo o caso, muitos julgam que a sua Administra­ção se encontra ainda no seu tempo de graça, razão pela qual muitas das iniciativa­s já tomadas são encaradas com reservas no âmbito dos seus 100 primeiros dias.

Mas contrariam­ente às interrogaç­ões, a julgar pelas explicaçõe­s avançadas pelo chefe do staff da Casa Branca, o México pode, sim, pagar os custos pela construção do muro.

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HERIKA MARTINEZ | AFP Jovens brincam na fronteira entre o México e os EUA escalando a barreira de separação

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