Angola reforça cooperação no sector do Ambiente
COM PORTUGAL E MARROCOS Memorando ontem rubricado prevê a introdução da língua portuguesa em encontros de trabalho
Angola vai reforçar os laços de cooperação com Portugal, Marrocos e Congo Brazzaville, com a assinatura ontem de vários protocolos no sector do Ambiente, no quadro das actividades comemorativas do Dia Nacional do Ambiente, assinalado na terça-feira.
Ontem, foi realizada uma conferência de imprensa para esclarecimento dos referidos protocolos, na qual estiveram presentes os ministros do Ambiente dos quatro países. Entre Angola e Portugal, foi assinado um memorando de cooperação no domínio que prevê a formação de quadros angolanos e a introdução da língua portuguesa nos manuais e na comunicação em encontros de trabalho.
O ministro português do Ambiente, João Fernandes, informou que o seu país tem um montante de dez milhões de euros para apoiar projectos desenvolvidos por países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). Na questão de resíduos, Portugal deverá apoiar a construção de bancos de resíduos de papel, de plástico e alumínio que podem ser utilizados num conjunto de diversas actividades desenvolvidas no país.
João Fernandes considera que quanto mais Angola, Portugal, Marrocos e o Congo Brazzaville partilharem conhecimento e encontrarem em conjunto soluções para alterações climáticas, melhor será para os mesmos e para o mundo. Falou da “economia circular” e da redução do uso de matérias-primas, em que o continente africano é tido como sendo um dos maiores produtores. “É inevitável que o mundo tenha de extrair menos matérias-primas, seja para produzir energia, seja outros bens”, defendeu.
Cooperação com Marrocos
Entre Angola e o Marrocos foram assinados protocolos de cooperação na gestão integrada de lixo, de águas usadas, adaptação à alteração climática, preparação de documentos para investimentos do Governo, assistência técnica no domínio das energias renováveis e gestão integrada da biodiversidade.
A ministra do ambiente de Marrocos, Hainma el Haite, defende que os países africanos em vias desenvolvimento façam uma boa escolha
Ministra Fátima Jardim considerou positivo o trabalho dos órgãos de comunicação social na educação ambiental das comunidades
das políticas públicas, para evitar erros. Com a implementação de melhores políticas, disse, Marrocos conheceu uma grande evolução.
Hainma el Haite disse que há algum tempo, a esperança média de vida dos marroquinos era de 55 anos. O país enfrentava várias doenças hídricas, paludismo, cólera, a taxa de pobreza era de 39 por cento, o desemprego tinha uma taxa de 25 e a do analfabetismo era de mais de 50. Só havia um único aeroporto e apenas 100 quilómetros de estradas.
“Marrocos não tem petróleo, nem diamante. Apenas tem homens e mulheres. Graças às escolhas de políticas públicas pertinentes, hoje, o país construiu o maior porto de África, a maior estação solar do continente e erradicou algumas doenças. A esperança de vida subiu de 55 para 80 anos, a taxa de desemprego foi reduzida a 9 por cento e foram construídos mais de 2.500 quilómetros de estradas”, disse. Marrocos assume a presidência da Convenção das Nações Unidas para Alteração Climáticas e Energia Renováveis.
Protecção do Maiombe
Com o Congo Brazzaville, Angola assinou um protocolo que visa a protecção da floresta do Maiombe. O protocolo surge em função da experiência que o Congo Brazzaville tem dos conhecimentos adquiridos dos brasileiros. A ministra angolana do Ambiente, Fátima Jardim, considerou fundamental o trabalho desenvolvido pela comunicação social para a educação da sociedade nos aspectos ambientais. “Sem comunicação social não é possível educar, capacitar e informar e desenvolver a cultura ambiental”, admitiu.
Fátima Jardim lançou um repto no sentido de criar-se uma classe de jornalistas especializados em matéria de ambiente, para que, no próximo dia 5 de Junho, Dia Mundial do Ambiente, seja entregue um prémio ao melhor jornalista.
No quadro da Semana do Ambiente, iniciada em 26 de Janeiro que termina hoje, o Ministério do Ambiente realizou várias actividades para saudar o Dia Nacional do Ambiente. A jornada decorreu sob o lema “Educar na prevenção para garantir a sustentabilidade”.
Mobilidade para Luanda
O Ministério do Ambiente de Portugal, órgão que tutela a mobilidade urbana e os transportes urbanos, compromete-se a ajudar o Governo da Província de Luanda na criação de um plano para tornar mais útil as centenas de autocarros que chegam brevemente à capital do país. O compromisso foi manifestado pelo ministro luso do Ambiente, Matos Fernandes, à saída de um encontro com o governador provincial de Luanda, em que foram abordados temas relacionados com a mobilidade urbana, transportes colectivos públicos e organização urbana da cidade.
O ministro português disse ser fundamental redesenhar o espaço público na cidade, para que os transportes colectivos tenham um papel de grande eficiência na mobilidade das pessoas. Matos Fernandes alertou para o facto de terse um preço grande e um “custo social brutal” quando são demolidas residências nas cidades para, por exemplo, serem alargadas ruas.
Com efeito, defendeu que se utilizem os espaços públicos existentes e redesenhá-los, para que haja outras formas de as pessoas locomoverem-se. “É necessário começar a redesenhar as cidades sem partir do princípio de que o automóvel é o rei, mas sim as pessoas que se querem deslocar nas ruas. Estamos a falar de faixas-base, privilegiar os semáforos nos transportes públicos, ter passeios suficientemente confortáveis e encontrar outros modos de deslocação”, disse, realçando que Portugal tem resolvido este problema sem fazer mais estradas, mas completando ligações.
Há seis anos sem vir a Angola, o ministro português do Ambiente disse que a cidade de Luanda cresceu muito e que hoje está mais arrumada, ordenada e bonita. O governador de Luanda recebeu igualmente, em actos separados, as ministras do Ambiente do Congo Brazzaville e de Marrocos.
Luanda e Brazzaville
Com a ministra congolesa do Ambiente, Rosalie Matondo, foram abordadas questões sobre como estabelecer parcerias entre as cidades de Luanda e de Brazzaville, uma forma de animar as relações históricas de cooperação entre os dois países. Questionada sobre a preservação da flora e da fauna, visto que o Congo e Angola partilham uma floresta comum, Rosalie Matondo disse que o mais importante é o homem, ver como ajudar a aumentar os seus rendimentos e melhorar as suas condições de vida.
A ministra congolesa destacou a iniciativa transfronteiriça entre os dois países para a conservação da floresta do Mayombe, que tem como o objectivo a preservação da biodiversidade, a luta contra a caça furtiva e o contrabando de algumas espécies da flora e da fauna. “É preciso uma colaboração mútua para o combate à caça furtiva. Já existem instrumentos legais para fazer face a esses grupos e reforçar as penas. Estamos a trabalhar de mãos dadas, mesmo fora das nossas fronteiras”, referiu.
Com a ministra do Ambiente de Marrocos, Hakima el Haite, o governador de Luanda também abordou questões ligadas ao ambiente, uma vez que toca em todos os sectores, desde a água, passando pelas infraestruturas, transporte e construção, desembocando na agricultura. Na audiência, Hakima el Haite disse ter manifestado a intenção de os dois países cooperarem no sector do Ambiente. “Quando regressar a Marrocos, vou solicitar ao nosso ministro da Agricultura no sentido de enviar técnicos a Angola para vermos como responder às necessidades manifestadas pelo governador”, sublinhou.
A ministra marroquina defendeu também que os dois países assinem um acordo de cooperação em questões jurídicas, ambientais, técnicas e climáticas, no domínio da gestão integrada de águas residuais, lixo, economia verde, plano de acção do clima e colaboração na procura de investidores.