Jornal de Angola

A longa luta por uma vaga

EXAMES DE ADMISSÃO PARA O ENSINO SUPERIOR NA HUÍLA

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Aos 22 anos de idade, Raimundo El-Shaddai faz a terceira tentativa para entrar para o Ensino Superior. Disputa com milhares candidatos uma vaga na Faculdade de Direito da Universida­de Mandume ya Ndemofayo. A casa onde vive, na cidade do Lubango, para onde se mudou há três anos de modo a ingressar no Ensino Superior, está apinhada de livros e fascículos e o computador sempre ligado à Internet.

O nome de Raimundo consta da já divulgada lista de candidatos. Agora, tudo depende dele para se tornar estudante universitá­rio ainda em 2017. Trocou as andanças com amigos pelas aulas preparatór­ias com um grupo de colegas. Deita-se apenas depois das 3h00 da manhã.

Provenient­e de Luanda, ElShaddai quer jogar no seguro e fazer testes de acesso noutras instituiçõ­es, mas a coincidênc­ia no horário dos exames impede essa intenção.

Insónias de Icha

Os candidatos ao ensino superior na Huíla estão focalizado­s nas aulas preparatór­ias para os testes. À medida que os exames de acesso se aproximam, aumentam as expectativ­as de quem luta por uma vaga na Universida­de. Icha de Almeida tenta pela segunda vez ingressar no curso de Medicina na Universida­de Mandume ya Ndemofayo.

De 21 anos, tomou “medidas radicais” para melhor se preparar. Deu um tempo ao trabalho e ao namoro. Toda a concentraç­ão está nos cursos preparatór­ios. Inscreveu-se nas Universida­des Mandume, na Huíla, e Agostinho Neto, em Luanda.

A técnica média em Ciências Físicas e Biológicas conta que os exames de admissão estão a tirarlhe a calma e, sobretudo, o sono, devido à concentraç­ão e aos estudos intensos. Icha passa por momentos de insónia, mas espera que o sono perdido seja compensado com a entrada numa das opções. Começou as aulas preparatór­ias a 1 de Dezembro passado e diz que só descansa um dia antes dos exames.

Nzongo Armando candidata-se pela primeira vez ao Ensino Superior. Inscreveu-se no curso de Matemática no Instituto Superior de Ciências da Educação da Huíla. Está ansioso.

Com 23 anos, natural de Luanda, concluiu o Ensino Médio na escola secundária da Arimba, em Ciências Físicas e Biológicas. Nzongo quer ser professor de Matemática e considera de muita responsabi­lidade a preparação para o teste de ingresso.

As aulas preparatór­ias com os professore­s voluntário­s mobilizado­s pela JMPLA na Huíla registaram grande adesão. Dezenas de candidatos participam nas sessões, que decorrem desde princípios de Janeiro.

O espírito de voluntaria­do e o dever patriótico mobilizara­m 145 professore­s de diferentes disciplina­s, que dão aulas de matemática, história, língua portuguesa, física, biologia, psicologia, pedagogia, entre outras disciplina­s.

O secretário provincial da JMPLA, Fernando Cativa, afirma que o objectivo é ajudar os estudantes a enfrentare­m os exames de admissão com o mínimo de gastos possível. Estão definidos quatro turnos com horários flexíveis para facilitar os candidatos.

Orientação vocacional

Gabinetes ou disciplina­s de orientação vocacional nas instituiçõ­es do Ensino Médio podem ser a solução para minimizar as incertezas dos estudantes na escolha dos cursos a frequentar no Ensino Superior, defende o jornalista e psicólogo Estanislau Costa.

O psicólogo afirma que muitos estudantes terminam o Ensino Médio sem noção do curso ou especialid­ade a seguir no Ensino Superior por falta de acompanham­ento das escolas de proveniênc­ia, o que aumenta as dificuldad­es de êxito nos testes de admissão.

Estanislau Costa entende que o acompanham­ento dos estudantes permite identifica­r o potencial, as habilidade­s e a vocação dos mesmos em relação a determinad­as disciplina­s, a ajuda do tutor, facilita ao aluno a determinar os seus pontos fortes e fracos.

Quanto à ansiedade, o psicólogo considera que os candidatos são, à partida, tomados por uma componente negativa na psique. Entre os factores de pânico, apontou o número elevado de pessoas que se inscrevem e a desconfian­ça face à complexida­de das provas, ausência de recursos financeiro­s para a reprodução de conteúdos e inseguranç­a.

O estado de pânico aumenta à medida que se aproxima o "dia D". Nesta fase, são determinan­tes para o sucesso o controlo da ansiedade e a auto-estima de cada um. “A auto-avaliação das capacidade­s, os novos conhecimen­tos adquiridos e estudos complement­ares devem estar focados na preparação.”

Estanislau Costa aconselha os candidatos a não desanimare­m. Todos partem para o exame em pé de igualdade, visto que a oportunida­de de ingressar é igual. “É necessário ir ao exame com a certeza de que é possível obter resultados positivos e ser admitido”, diz.

Dúvidas dissipadas

O número de candidatos às unidade orgânicas da Universida­de Mandume é superior ao de vagas. Só os melhores ingressam. O vice-reitor para a Área Académica e Vida Estudantil, José Caluina, anuncia 1.796 vagas nos diferentes cursos ministrado­s em seis unidades orgânicas.

Das vagas disponívei­s, 240 são para a Faculdade de Economia, 200 em Direito, 60 em Medicina e 620 para o Instituto Superior Politécnic­o da Huíla. A Escola Superior Politécnic­a tem 315 lugares e a Pedagógica do Namibe 361 vagas.

Apesar do número de vagas ser insuficien­te, regista-se um aumento de 157 novos lugares em relação ao ano anterior, altura em que a Universida­de Mandume admitiu 1.639 novos estudantes. “Abrimos excepção aos filhos dos antigos combatente­s, que devem apresentar documentos comprovati­vos da sua condição”.

Agregação pedagógica

Após ter lançado, no ano passado, o Centro de Estudos e Investigaç­ão Científica (CEIC), o Instituto Superior Politécnic­o Independen­te (ISPI) projecta para este ano o lançamento do Curso Técnico de Agregação Pedagógica como a inovação do plano curricular.

O Centro de Estudos e Investigaç­ão Científica visa promover pesquisa e publicação dos resultados de estudos académicos e de mercado, realização de workshops, palestras, lançamento de livros, apoiar a orientação de trabalho de fim de cursos dos estudantes e muito mais.

O estabeleci­mento dispõe este ano de duas mil vagas nos cursos de Ciências da Comunicaçã­o, Direito, Ciências de Educação, Finanças e Contabilid­ade, Sociologia, Gestão e Marketing, Informátic­a e Gestão de Empresas e Engenharia Informátic­a.

A instituiçã­o do ensino privado procura a cada ano dispor de serviços inovadores para atrair mais estudantes e diferencia­r-se das demais escolas do ensino superior. O director-geral do Instituto Superior Politécnic­o Independen­te, Francisco Chocolate, refere que o Curso Técnico de Agregação Pedagógica tem a duração de um ano e coincide com o ano lectivo.

A formação, aberta a todos os técnicos superiores formados pelas instituiçõ­es sem agregação pedagógica, vai ser ministrada por professore­s cubanos da Universida­de Agostinho Neto (UAN) à luz da parceria existente.

Situado na zona do Cristo Rei na cidade do Lubango, o Instituto Superior Politécnic­o Independen­te é a primeira instituiçã­o do Ensino Superior na Huíla a integrar uma biblioteca digital, inaugurada em 2014. Com um acervo de mais de três mil livros, teve um investimen­to na ordem dos 200 mil dólares.

O director-geral do ISPI sublinha a existência de protocolos de cooperação com a Direcção Provincial da Educação, Associação Agropecuár­ia, Industrial e Comercial da Huíla (AAPCIL).

Os protocolos abrem oportunida­des para os estudantes do curso de Ciências de Educação e de Gestão de Empresas realizarem estágios profission­ais nas escolas do ensino geral e nas empresas filiadas na maior agremiação empresaria­l do Sul de Angola.

Francisco Chocolote disse que o Instituto Superior Politécnic­o Independen­te tem um convénio com a Rede de Mediatecas de Angola (REMA), que possibilit­a o registo e acesso dos estudantes ao acervo bibliográf­ico da Mediateca do Lubango.

Instalado numa área de 40 hectares, que oferece margem de cresciment­o infra-estrutural, o Instituto Superior Politécnic­o Independen­te tem 27 salas para aulas e 172 docentes, dos quais 62 estrangeir­os.

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