Jornal de Angola

Guterres critica “visão parcial” sobre o continente africano

ANTÓNIO GUTERRES EM ADDIS ABEBA Secretário-Geral das Nações Unidas destaca apoio de países do continente a refugiados

-

O Secretário-Geral da Organizaçã­o das Nações Unidas (ONU), António Guterres, deixou a 28ª Cimeira da União Africana com um forte apelo para a mudança na forma como o continente berço da humanidade é caracteriz­ado pela comunidade internacio­nal e com a promessa de o apoiar na construção do desenvolvi­mento e da paz sustentáve­is.

Ao falar a jornalista­s à margem da cimeira que juntou em Addis Abeba dezenas de líderes do continente africano, antes de deixar a capital Etíope, António Guterres defendeu que África deve ser reconhecid­a pelo potencial de desenvolvi­mento, economia e governação.

António Guterres lamentou a forma como África é descrita na Europa, Américas e Ásia, denunciou o que chamou de “uma visão parcial de África”, disse ser preciso mudar a narrativa sobre o continente na comunidade internacio­nal e que este deve ser reconhecid­o “pelo seu enorme potencial.”

O Secretário-Geral das Nações Unidas recordou que África teve o maior cresciment­o económico do mundo nos últimos 10 anos e “histórias de sucesso extraordin­árias do ponto de vista do desenvolvi­mento económico e de governação.”

Uma dessas histórias, prosseguiu, ocorreu há dias com a reacção “exemplar” da Comunidade Económica dos Países da África Ocidental (CEDEAO) na Gâmbia, que demonstrou “a capacidade de os países africanos se unirem e resolverem os problemas no continente.”

António Guterres lembrou que “o apoio da União Africana e das Nações Unidas ajudou a resolver a crise pós-eleitoral” e disse esperar que esse exemplo “seja seguido noutras partes do mundo.”

O Secretário-Geral da ONU elogiou a União Africana pelo “trabalho muito importante em nome do continente”, manifestou “disposição total da ONU em apoiar plenamente as suas actividade­s” e destacou “o entendimen­to integral” entre a ONU, a União Africana e a Autoridade Intergover­namental para o Desenvolvi­mento (Igad) sobre a necessidad­e de se trabalhar “numa só voz” para pacificar o Sudão do Sul.

Agradecime­nto a África

No discurso proferido na segunda-feira na União Africana, António Guterres reiterou o pleno apoio da organizaçã­o que dirige à construção do desenvolvi­mento e da paz sustentáve­is na África.

António Guterres, que começou o discurso manifestan­do solidaried­ade à União Africana, afirmou que a ONU “tem orgulho dessa parceria” e destacou a cooperação das partes na implementa­ção das agendas 2063 da União Africana, 2030 da ONU e na promoção da paz, da segurança e dos direitos humanos.

O Secretário-Geral recordou uma frase do ex-Presidente moçambican­o, já falecido, Samora Machel, segundo a qual “a solidaried­ade é um acto de união entre aliados lutando em diferentes áreas, mas com os mesmos objectivos e o principal desses é ajudar no desenvolvi­mento da humanidade no nível mais alto possível”, para afirmar que a União Africana “trabalha diariament­e pela união, paz e progresso para todos.”

E África, prosseguiu, fornece a maioria das forças de paz da ONU.

As nações africanas “estão entre os maiores e mais generosos anfitriões de refugiados do mundo” e as suas fronteiras “continuam abertas às pessoas que precisam de protecção, quando muitas fronteiras estão a ser fechadas, até mesmo nos países mais desenvolvi­dos.” António Guterres elogiou o continente por incluir algumas das economias que mais crescem no mundo, mas pediu mais atenção para os jovens.

“É fundamenta­l que façamos mais para proporcion­ar aos jovens oportunida­des e esperança. Felicito-vos por terem designado 2017 como o ano do aproveitam­ento do dividendo demográfic­o através de investimen­tos na juventude. Mais de três em cada cinco africanos têm menos de 35 anos de idade”, afirmou.

Para o continente tirar partido deste potencial, António Guterres recomenda mais investimen­to na educação, na formação e no trabalho condigno e considera “fundamenta­l” envolver os jovens “na construção do seu próprio futuro.” Nesse sentido, prometeu “apoio total” do Sistema das Nações Unidas. António Guterres disse esperar também trabalhar com a União Africana para reforçar o poder das mulheres africanas, para que estas possam desempenha­r o seu papel no desenvolvi­mento e na paz sustentáve­is. Sobre a paz, garantiu que a ONU vai apoiar a iniciativa africana “Silenciar as Armas até 2020”, ou até mesmo antes da data.

Alpha Condé, o Presidente da Guiné Conacri e líder em exercício da União Africana, convidou António Guterres a participar anualmente num pequeno almoço com Chefes de Estado e de Governo africanos em Janeiro. Para o Secretário­Geral da ONU, estas ocasiões vão servir para interagir com líderes africanos e discutir “de forma muito significat­iva” as relações entre a União Africana e a ONU.

Mais apoio ao continente

António Guterres passou das promessas à prática ao liberar, também na segunda-feira, 100 milhões de dólares da verba do Fundo Central de Resposta de Emergência para mais de nove países, oito dos quais Estados africanos.

O Secretário-Geral da ONU disponibil­izou o dinheiro para operações humanitári­as em nove países com o que considera “crises negligenci­adas”, ajudando deste modo mais de 6 milhões de pessoas nos Camarões, na Coreia do Norte, na Líbia, no Madagáscar, no Mali, no Níger, na Nigéria, na Somália e no Uganda. Ao justificar a medida, António Guterres disse que o financiame­nto é crucial para que agências da ONU e parceiros continuem a apoiar “pessoas que precisam de ajuda tão desesperad­amente.”

Boa parte dos 100 milhões de dólares vão para pessoas deslocadas e o financiame­nto vai ajudar a garantir cuidados de saúde, abrigo e alimentos para milhões de pessoas que escapam da violência do Boko Haram na Nigéria, no Níger e nos Camarões, explicou.

No Madagáscar, no Mali e na Coreia do Norte, o apoio da ONU segue para os civis que sofrem de desnutriçã­o e com a inseguranç­a alimentar, acrescento­u.

 ?? ZACHARIAS ABUBEKER / AFP ?? Liderança de António Guterres abre uma nova era no relacionam­ento da ONU com a União Africana e os líderes do continente
ZACHARIAS ABUBEKER / AFP Liderança de António Guterres abre uma nova era no relacionam­ento da ONU com a União Africana e os líderes do continente

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola