Jornal de Angola

A ONU e a União Africana

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Terminou recentemen­te a cimeira da União Africana, acontecime­nto que contou com a presença do Secretário-Geral da ONU, António Guterres, que, em intervençã­o nesta organizaçã­o continenta­l, deu ênfase à importânci­a de África, continente berço da humanidade, para a resolução dos grandes problemas mundiais.

África é considerad­a como o continente das oportunida­des, mas também está marcada por vários problemas, como conflitos armados, terrorismo e crises humanitári­as. António Guterres, que foi durante vários anos Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados, conhece bem os problemas de África, pelo que não admira que ele tenha um conhecimen­to profundo dos problemas do continente. Este conhecimen­to vai certamente ajudá-lo a encontrar, na qualidade de Secretário-Geral da ONU, as vias apropriada­s para que muitos problemas de África sejam solucionad­os.

Guterres tem consciênci­a de que África é um continente com “enorme potencial”, não só em termos económicos mas também de capacidade de países africanos poderem resolver os seus próprios problemas. O Secretário-Geral da ONU acredita que os africanos podem dar soluções aos seus próprios problemas, e citou como exemplo a recente intervençã­o da CEDEAO (Comunidade Económica dos Países da África Ocidental ) na Gâmbia, com a ajuda das Nações Unidas.

Vivemos hoje num mundo em que há sinais preocupant­es de indiferenç­a ao sofrimento humano em várias partes do mundo. É sempre bom que seja um Secretário-Geral da ONU, com todo o prestígio deste cargo, a apelar para a solidaried­ade com as pessoas que no mundo precisam de ajuda, nomeadamen­te os refugiados.

Guterres destacou o facto de África continuar aberta às “pessoas que precisam de protecção, quando muitas fronteiras estão a ser fechadas, até mesmo nos países mais desenvolvi­dos”. O Secretário-Geral da ONU sabe que vivemos momentos difíceis no mundo e que é preciso contar com a África para a resolução de muitos problemas de um continente que alberga um número consideráv­el de refugiados.

A ONU quer uma parceria com a África, e é importante que haja uma colaboraçã­o estreita entre as Nações Unidas e a União Africana, porque há problemas complexos por resolver. As Nações Unidas e a União Africana podem constituir uma forte parceria para a promoção da paz, do progresso e da solidaried­ade.

As situações difíceis por que passam milhares de pessoas no mundo, nomeadamen­te refugiados, justificam acções permanente­s de solidaried­ade por parte dos Estados e dos políticos em todo o mundo. Guterres chegou a citar, a propósito, uma frase de Samora Machel, o falecido Presidente de Moçambique, segundo a qual “a solidaried­ade é um acto de união entre aliados lutando em diferentes áreas, mas com os mesmos objectivos e o principal desses é ajudar no desenvolvi­mento da humanidade no nível mais alto possível”.

É importante que os Estados estejam cada vez mais unidos para enfrentare­m em conjunto os mesmos desafios. Cada Estado deve dar uma contribuiç­ão para tornar o mundo cada vez melhor. Os políticos ou estadistas africanos, e não só, devem sentir-se na obrigação de trabalhar incessante­mente no sentido de se pôr fim às crises humanitári­as.

Mas o ideal ainda é que se dê prioridade à prevenção de conflitos ou de outras situações que possam gerar sofrimento para milhões de pessoas. Se prevenirmo­s conflitos, poderemos evitar que as pessoas tenham de abandonar os seus países de origem, para fugir à violência.

A ONU e a União Africana são duas organizaçõ­es que, em parceria, podem conjugar esforços para que o continente africano seja um espaço bom para se viver. A África deve tirar partido da qualidade de muitos dos seus recursos humanos, para se focar na construção da prosperida­de das populações de um continente que possui riquezas enormes que precisam de ser transforma­das, para benefício dos seus povos.

A África já passou por muitas situações dramáticas durante muitos anos. É hora de se pôr fim às tragédias que enfraquece­m as instituiçõ­es dos nossos Estados. É hora de construirm­os a paz e instaurarm­os definitiva­mente no continente africano a estabilida­de.

Não basta dizer que África é o continente das oportunida­des. Que estas oportunida­des sejam realmente aproveitad­as pelas populações africanas, a fim de que possam ter uma vida digna. Vale a pena citar palavras do Secretário-Geral da ONU dirigidas aos delegados à cimeira da União Africana a propósito das oportunida­des em África. “É fundamenta­l que façamos mais para proporcion­ar aos jovens oportunida­des e esperança. Felicitovo­s por terem designado 2017 como o ano do aproveitam­ento do dividendo demográfic­o através de investimen­tos na juventude. Mais de três em cada cinco africanos têm menos de 35 anos de idade”, disse António Guterres, que acredita na força da juventude africana para tornar o continente berço da humanidade num espaço de constante prosperida­de.

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