Jornal de Angola

António Guterres reacende crença de africanos

Secretário-Geral inaugura nova abordagem sobre como o continente deve ser tratado

- ELEAZAR VAN-DÚNEM |

António Guterres é Secretário­Geral da ONU há pouco mais de um mês, mas já abriu uma nova era no relacionam­ento entre a organizaçã­o, a União Africana e os líderes do continente, e inaugurou um novo paradigma na forma das Nações Unidas encararem as entidades e elites de África.

Para os “novos ares” deste relacionam­ento entre a União Africana e as Nações Unidas, que contrasta com a frieza do mesmo no consulado de Ban Ki-moon, muito contribui o discurso de António Guterres, que, sem descurar das críticas construtiv­as, como os recentes apelos, entre outros, a mais oportunida­des para os jovens e mulheres, e mais investimen­tos na educação, não tem poupado elogios aos mais recentes ganhos de África, quase nunca referidos pela comunidade internacio­nal, muito mais interessad­a em expôr as crises e os deméritos do continente.

António Guterres, pelo menos até agora, tem dado destaque a África e demonstrad­o uma diplomacia mais actuante, com soluções para os conflitos actuais e medidas preventiva­s para evitar novos conflitos, rompendo deste modo com o consulado do seu antecessor, muito criticado pela sua inacção.

O novo Secretário-Geral da Organizaçã­o das Nações Unidas (ONU), de nacionalid­ade portuguesa e o primeiro falante da língua de camões a exercer o prestigiad­o cargo, tem feito a União Africana, os líderes do continente e não poucos africanos acreditare­m, assim como

António Guterres abriu uma nova era no relacionam­ento da ONU com os africanos

o Presidente angolano José Eduardo dos Santos, que vai dar um “notável impulso a uma nova abordagem dos problemas internacio­nais”.

Cimeira de Addis Abeba

Ao fazer o balanço na quinta-feira, em Nova Iorque, da 28.ª Cimeira dos Chefes de Estado e de Governo da União Africana, António Guterres disse que “atingiu claramente os objectivos” que o levaram à capital da Etiópia. António Guterres mencionou os encontros que teve com Chefes de Estado e de Governo africanos e líderes da Autoridade Intergover­namental para o Desenvolvi­mento (Igad), que medeia o conflito do Sudão do Sul.

Estes encontros levaram-no a firmar que “agora as condições estão criadas para que as três organizaçõ­es [Nações Unidas, União Africana e Autoridade Intergover­namental para o Desenvolvi­mento] e todos os países vizinhos trabalhem juntos com o mesmo objectivo, falando a uma só voz e criando condições para evitar uma evolução dramática da situação no terreno”.

Ainda sobre o Sudão do Sul, António Guterres defendeu a prevenção de “massacres que se podem antever e colocar nos carris um processo político que pode dar um futuro de esperança aos sul-sudaneses”, antes de anunciar que a União Africana vai lançar um processo de mediação sobre Sudão do Sul que “tem o total apoio da ONU”.

António Guterres revelou que teve uma reunião com o líder sudanês, Salva Kiir, que concordou numa maior cooperação para “a livre operação da ONU no país e o envio da força regional”, e com o Presidente do Quénia, Uhuru Kenyata, que anunciou que forças do seu país vão participar no contingent­e regional de quatro mil homens a ser enviado para o Sudão do Sul.

Cooperação mais eficaz

O novo Secretário-Geral das Nações Unidas saudou igualmente o que qualificou de “progresso enorme para criar conduções para uma cooperação mais eficaz entre diferentes entidades africanas e a ONU” para abordar as inúmeras crises que a região enfrenta.

Sobre o conflito no Mali, explicou que manteve encontros com os Presidente­s do Mali, Chade, Mauritânia, Burquina Faso e Níger, e revelou que uma reunião é realizada no fim do mês, na capital maliana, Bamako, para analisar como lidar melhor com a crise neste país africano. António Guterres, que também abordou com os dirigentes africanos as crises na República Democrátic­a do Congo e no Burundi, disse esperar que haja oportunida­des para progredir nessas “situações complexas”.

Sobre a solução da crise pós-eleitoral da Gâmbia, afirmou que “demonstrou que quando as organizaçõ­es sub-regionais e a União Africana estão unidas é possível que o Conselho de Segurança decida e tome medidas” e tornou possível “defender a democracia, os direitos humanos e as liberdades do povo”.

Este relatório foi apresentad­o depois de António Guterres denunciar na Etiópia que considera “uma visão parcial de África”, pedir para a comunidade internacio­nal ver o continente “pelo seu enorme potencial” e reiterar “o pleno apoio” das Nações Unidas para a construção do desenvolvi­mento e da paz sustentáve­is no continente africano.

O balanço da participaç­ão de António Guterres na Cimeira de Addis Abeba também foi apresentad­o depois de o Secretário-Geral passar das promessas à prática ao libertar 100 milhões de dólares da verba do Fundo Central de Resposta de Emergência para mais de nove países, entre os quais oito Estados africanos com “crises negligenci­adas”.

Camarões, Líbia, Madagáscar, Mali, Níger, Nigéria, Somália e Uganda são os países africanos beneficiad­os pela medida, ao lado da Coreia do Norte, o único país que abrangido que não faz parte do continente berço da humanidade .

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ZACHARIAS ABUBEKER|AFP

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