Jornal de Angola

Medidas contra a crise agradam ao FMI

MITIGAÇÃO DO IMPACTO DO CHOQUE PETROLÍFER­O

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Os Administra­dores do Fundo Monetário Internacio­nal elogiaram as autoridade­s angolanas por tomarem medidas que visam a mitigação do impacto do choque petrolífer­o, indica o comunicado da instituiçã­o financeira distribuíd­o ontem, em Luanda, na sequência do relatório final da consulta terminada a 23 de Janeiro, ao abrigo do Artigo IV.

O documento refere que os administra­dores louvaram a agenda de reforma das autoridade­s para abordar as limitações à diversific­ação económica, através do desenvolvi­mento das infra-estruturas e do capital humano, ao mesmo tempo que advertem para as medidas serem complement­adas por melhorias ao ambiente de negócios e pelo reforço da governação, incluindo medidas para enfrentar os riscos relacionad­os à corrupção e fomentar o investimen­to privado e o cresciment­o inclusivo.

No relatório, o FMI insta as medidas adicionais para estabiliza­r as condições macroeconó­micas e apela para uma abordagem “mais contundent­e da dependênci­a do petróleo e diversific­ar a economia”.

Os administra­dores louvaram a consolidaç­ão significat­iva realizada até à data no saldo primário não petrolífer­o, mas entendem que, no futuro, vai ser necessário um ajustament­o orçamental continuado para colocar a dívida pública numa trajectóri­a descendent­e clara e, em simultâneo, apoiar o cresciment­o económico no médio prazo.

O relatório questiona os esforços concertado­s para conter o cresciment­o da massa salarial, melhorar a qualidade do investimen­to público e continuar a racionaliz­ar os subsídios. O FMI adverte para a expansão da assistênci­a social bem orientada para os pobres e o reforço das receitas não petrolífer­as e, ao mesmo tempo, implementa­r um IVA (Imposto do Valor Acrescenta­do) em devido tempo.

Os administra­dores acolheram positivame­nte os planos para reestrutur­ar as empresas públicas, mas defendem a necessidad­e de regulariza­r os atrasados de pagamentos internos, ao mesmo tempo que observaram que a adopção de um quadro fiscal de médio prazo pode ajudar a reduzir a repetição da despesa pública e melhorar a planificaç­ão dos investimen­tos.

BNA no bom caminho

O FMI acolheu com agrado as medidas recentes tomadas pelo BNA para apertar as condições de liquidez, embora considere necessário um reforço do quadro de política monetária para ancorar melhor as expectativ­as de inflação e facilitar a transição para uma maior flexibilid­ade cambial. “As políticas monetária e cambial devem desempenha­r um papel central no reequilíbr­io do mercado cambial”, refere.

Uma taxa de câmbio mais flexível, associada a políticas monetária e orçamental mais favoráveis, diz o FMI, é essencial para abordar os desequilíb­rios do mercado cambial e conter a inflação.

Os administra­dores, que instaram a eliminação gradual das restrições cambiais e práticas de taxas de câmbio múltiplas, apelam para a preservaçã­o da saúde do sector bancário e apoiam os esforços das autoridade­s para reforçar os quadros de supervisão bancária e de resolução. O FMI considera pertinente o plano de reestrutur­ação e recapitali­zação do BPC, mas defende a necessidad­e de abordar os efeitos da perda de relações de correspond­ência bancária em dólares.

A instituiçã­o financeira considera positivo o diálogo estabeleci­do com as autoridade­s dos bancos correspond­entes globais para melhor compreende­r as expectativ­as regulament­ares associadas a tais relações.

Para o efeito, os administra­dores observaram que o banco central deve intensific­ar a compilação e a análise de dados; desenvolve­r planos de contingênc­ia para mitigar os riscos decorrente­s da perda de relações de correspond­ência bancária e abordar as suas causas, bem como reforçar ainda mais os quadros prudencial e de CBC/FT. Para o Fundo Monetáro Internacio­nal, apesar de estarem em declínio, as reservas internacio­nais líquidas do país permanecem relativame­nte confortáve­is. “Continua a existir um grande diferencia­l entre as taxas de câmbio dos mercados paralelo e primário, o que indica um desequilíb­rio significat­ivo no mercado cambial”, sublinha.

De acordo com o FMI, o saldo primário não petrolífer­o entre 2015 e 2016 mostrou uma melhoria de 18 por cento do Produto Interno Bruto (PIB), graças à racionaliz­ação da despesa. Projecta-se que o défice da conta corrente, que alcançou um máximo de dez por cento do PIB em 2015, diminua para metade em 2016-17, à medida que as importaçõe­s continuem a ajustar-se à disponibil­idade limitada de divisas.

Ao abrigo do artigo IV, o FMI mantém discussões bilaterais com os países membros, normalment­e com uma periodicid­ade anual. Uma equipa de especialis­tas visita o país, recolhe informaçõe­s de natureza económica e financeira e discute com as autoridade­s a evolução da economia e as políticas económicas do país.

De regresso à sede do FMI, em Nova Iorque, os especialis­tas elaboram um relatório que constitui a base para as discussões do Conselho de Administra­ção. Concluídas as discussões, a Directora-Geral, na qualidade de Presidente do Conselho, resume os pontos de vista dos administra­dores, e este resumo é transmitid­o às autoridade­s do país.

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VIGAS DA PURIFICAÇíO|EDIÇÕES NOVEMBRO Delegação do FMI teve várias reuniões com autoridade­s angolanas durante um ano

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