Polícia reforça a segurança na Centralidade do Kilamba
Mateus Rodrigues deu ênfase à importância da denúncia no combate à criminalidade na capital
O Jornal de Angola bateu à porta do gabinete do inspector-chefe Mateus Rodrigues, porta-voz do comando provincial da Polícia Nacional em Luanda, que prontamente acedeu a falar sobre o estado da segurança pública na Centralidade do Kilamba, onde, de acordo com subscritores de um documento,“o alto índice de criminalidade está a assustar os moradores”. “Tomamos boa nota”, respondeu o inspector-chefe, quando fazia menção ao documento, no qual um grupo de moradores lança um “grito” de socorro. O oficial disse que a Polícia Nacional atende todas as reclamações dos cidadãos. “A Polícia já está a trabalhar em alguns aspectos que a carta faz referência”, garantiu Mateus Rodrigues. e
Jornal de Angola - Qual é a realidade da segurança pública na Centralidade do Kilamba?
Mateus Rodrigues -
Em Janeiro deste ano, a Polícia Nacional registou, na Centralidade do Kilamba, cinco casos, sendo três de furto e dois de roubo. O documento subscrito por moradores da Centralidade do Kilamba faz referência a 14 viaturas roubadas nas primeiras semanas de Janeiro deste ano. Esse número de viaturas que os subscritores do documento dizem terem sido roubadas não foi participado à Polícia. Não tendo havido participação, os cidadãos acabam por ter uma apreciação sobre a segurança pública diferente daquela que é a da Polícia Nacional. A Polícia registou, em Janeiro, na Centralidade do Kilamba, 26 crimes de natureza diversa, dando uma média inferior a um crime por dia participado à Polícia.
Jornal de Angola - Qual é a avaliação que faz da segurança pública na Centralidade do Kilamba?
Mateus Rodrigues -
A avaliação da segurança pública é feita com base no número de participações e queixas que os cidadãos fazem chegar à Polícia. Se olharmos para esses números, podemos considerar a situação da segurança pública na Centralidade do Kilamba como calma. Entre os 26 crimes registados em Janeiro está um homicídio voluntário por disparo de arma de fogo, o que não é uma ocorrência criminal comum a nível da Centralidade do Kilamba. Registámos, com muita preocupação, alguns furtos de viaturas e de pneus. Segundo informações na posse da Polícia, os meliantes usam chaves das viaturas e levam os carros. O proprietário tem as chaves, mas a viatura é levada. Presumimos que esses indivíduos conseguem ter uma cópia das chaves, para cuja obtenção utilizam pessoas próximas dos proprietários. Com acesso às chaves, tiram viaturas de parques de estacionamento. Já fizemos algumas detenções.
Jornal de Angola - Faz algum sentido o “grito” de socorro lançado pelos subscritores?
Mateus Rodrigues -
Um “grito” de socorro faz sempre sentido. Tomamos boa nota. A Polícia já está a trabalhar em alguns aspectos que a carta faz referência. A partir de agora, a segurança pública vai ser redobrada.
Jornal de Angola - Como é que a Polícia desenvolve o serviço de patrulhamento em toda a extensão do Kilamba, sobretudo à noite?
Mateus Rodrigues -
Na Centralidade do Kilamba, à semelhança de outras localidades, privilegiamos o patrulhamento automóvel e o patrulhamento apeado. Também utilizamos barreiras na via pública para permitir as revistas no interior de viaturas, principalmente as de marcas mais visadas pelos marginais e as mais utilizadas nos roubos.
Jornal de Angola - Os subscritores do documento dizem que o “clima é de muita insegurança”, uma afirmação que colide com a habitual declaração da Polícia de que a situação está sob controlo. Quero ouvir o seu comentário.
Mateus Rodrigues -
A Centralidade do Kilamba, apesar de registar casos de furto e roubo de viaturas, não é uma cidade que regista frequentemente crimes violentos, como violação sexual, homicídio voluntário e, particularmente, crimes cometidos com recurso a arma de fogo. De uma maneira geral, podemos afirmar que a Centralidade do Kilamba é calma. Não estamos a dizer que não existem preocupações. Existem, sim, preocupações e continuamos a trabalhar para a contínua garantia do sentimento de segurança.
Jornal de Angola - As esquadras no Kilamba registam défice de pessoal operativo? Mateus Rodrigues -
As pessoas têm de deixar de olhar para o número de efectivos que a Polícia tem. As pessoas devem contribuir com denúncias para que a Polícia possa fazer o seu serviço de forma mais eficaz, porque os crimes ocorrem no seio da população. Se estiver a ocorrer um crime numa determinada zona e ninguém participar, para a Polícia é nulo. É como se não tivesse ocorrido nada.
Jornal de Angola - O número de efectivos em actividade está em sintonia com o rácio que deve ser adequado à actual densidade populacional do Kilamba?
Mateus Rodrigues -
O rácio é uma meta a atingir, mas também não é um motivo de preocupação. O mais importante é cada cidadão ter a cultura de fazer a denúncia, de participar à Polícia toda e qualquer ocorrência de crime. Tornar a Polícia informada.
Jornal de Angola - A vossa área de Informação e Análise já desenvolveu algum estudo sobre a matriz criminal do Kilamba?
Mateus Rodrigues -
Isso é feito permanentemente. Mas é preciso saber fazer uma diferenciação entre a criminalidade que as pessoas vivenciam e a criminalidade que chega ao conhecimento da Polícia.
Jornal de Angola - Onde é que reside a diferença?
Mateus Rodrigues -
Embora ambos sejam crimes, a Polícia só vai trabalhar nos casos de lesados que apresentam queixa. A Polícia trabalha com as informações de ocorrência de crimes que chegam ao seu conhecimento. Insisto: se os cidadãos não passarem a informar sobre a ocorrência de um determinado crime, a Polícia não tem como saber, daí afirmar que a responsabilidade é repartida. A Polícia tem os homens, os meios, as estratégias, e os cidadãos a informação. No documento, os subscritores fazem referência ao furto de 14 viaturas, nas primeiras semanas de Janeiro, na Centralidade do Kilamba, mas a Polícia recebeu a participação de desaparecimento de apenas cinco viaturas. Os proprietários de nove das 14 viaturas que os subscritores dizem ter sido furtadas não apresentaram queixa à Polícia. A população deve fazer a participação do crime para a Polícia ter uma dimensão exacta dessa matriz e poder trabalhar.
Jornal de Angola - Há uma estratégia de prevenção da criminalidade violenta em Luanda? Mateus Rodrigues -
Há uma estratégia,que inclui várias medidas, uma das quais são os controlos na via pública, para interpelar automobilistas e, se necessário, fazer revista no interior de viaturas. Um elevado número de armas e viaturas roubadas tem sido recuperado.
Jornal de Angola - O número crescente de roubos de viaturas não pode ser entendido como um incremento da actividade criminosa, que requer articulações com estruturas de receptação, ou para revenda ou para desmontagem?
Mateus Rodrigues -
Indivíduos envolvidos nessa prática de crimes são presos e alguns até apresentados à comunicação social. Detivemos, por exemplo, uma rede de que era membro um cidadão nigeriano. Os indivíduos dessa rede roubavam viaturas, que eram depois desmontadas para comercializarem as peças. Temos aconselhado a população a proteger as viaturas, colocando um sistema de segurança - um GPS ou um outro acessório. Desta forma, mais facilmente a Polícia pode localizar viaturas roubadas. Quanto mais protegida estiver a viatura, a probabilidade de ser roubada diminui. A Polícia continua a deter indivíduos envolvidos no crime de roubo e na comercialização de acessórios. Mas, infelizmente, esse tipo de crime ainda continua a ocorrer.
Jornal de Angola - O Estado, por “fechar os olhos” à venda de acessórios de viaturas em mercados paralelos, não estará a corroer a confiança da população no que à segurança pública diz respeito?
Mateus Rodrigues -
Da maneira como me faz a pergunta, se calhar esta questão não deveria ser colocada à Polícia, porque o Estado é um elemento mais complexo e mais abrangente. Relativamente ao mercado de venda de peças de viaturas, a Polícia tem vindo a trabalhar, sobretudo, nos casos pontuais, quando se está na presença de uma queixa. A Polícia investiga para a detenção dos autores do furto e até dos comerciantes dos respectivos acessórios. É um trabalho que tem sido realizado com êxito. A Polícia Nacional não deve nem tem o direito de prender todos os comerciantes de peças nos mercados paralelos. Para prender alguém por roubo de viatura, tem de haver uma participação de queixa à Polícia.