Rússia faz apelo à contenção dos EUA em relação ao Irão
A Rússia alertou ontem os Estados Unidos sobre os riscos de uma possível tentativa de se rever o acordo nuclear com o Irão, que já está a provocar situações de grande tensão.
O Kremlin está preocupado com a escalada da retórica entre os Estados Unidos e o Irão, que, nos últimos dias, chegou a registar eventos de risco. Para as autoridades russas, é preciso conter as palavras e as emoções para se evitar episódios de guerra políticos que, se escaparem do controlo, podem levar à guerra.
O embaixador da Rússia no Irão, Levan Djargaryan, referiu que o Teerão não pediu para Moscovo mediar com Washington a seu favor. Mais cedo, o porta-voz do Presidente da Rússia, Vladimir Putin, disse que o Kremlin não concorda com comentários do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de que o Irão é uma ameaça ao mundo.
Mas as diferenças entre a Rússia e os EUA não devem impedir os dois países de construírem uma relação que seja benéfica a ambos, considerou o porta-voz Dmitry Peskov.
“Não é um segredo que as visões de Moscovo e Washington em muitos assuntos internacionais são contrárias”, disse Peskov. “Meu conselho aos colegas norte-americanos sobre o acordo nuclear é muito simples: não tentem consertar o que não está quebrado”, disse o viceministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Ryabkov.
Ryabkov afirmou que reescrever o pacto, apoiado activamente pelo ex-Presidente Barack Obama, “abriria uma caixa de Pandora. Seria arriscado demais tentar abrir um novo processo sobre um tema tão importante e buscar novas condições para o acordo”, completou, lamentando as sanções contra o Irão ao afirmar que o teste com o míssil não viola o acordo nuclear. Donald Trump endureceu contra o Irão na última semana. Depois de determinar a adopção de sanções, o Presidente dos EUA escreveu no Twitter que Teerão está a brincar com o fogo.”
“Não apreciam o quão amável o Presidente Obama foi com eles? Eu não serei”, disse Trump no Twitter. Na sequência, o vice-Presidente dos EUA, Mike Pence, disse que o Governo Trump está a avaliar se continua ligado ao acordo nuclear, que foi duramente criticado por Trump na campanha eleitoral.
“Acredito que o presidente vai tomar essa decisão nos próximos dias. E ouvirá todos seus assessores. Mas vocês não devem se equivocar. O presidente tem tal determinação em suas decisões que conviria ao Irão pensar duas vezes antes de suas constantes acções hostis e beligerantes”, ressaltou Pence.
O Kremlin voltou a afirmar ontem que discorda da afirmação de Trump de que o Irão seja o “Estado terrorista número um” e defendeu que Teerão faça parte da coligação internacional contra o terrorismo.
“O Irão nunca se envolveu com o EI, com a Frente al Nusra, ou qualquer outra estrutura filiada a essas organizações ou incluída na lista de grupos terroristas da ONU. As suas autoridades contribuíram na luta contra o Estado Islâmico, através de destacamentos armados em território sírio, em resposta ao pedido legítimo do Governo do país”, disse o político Lavrov.
Golfo Pérsico
As forças dos EUA no Golfo Pérsico estão em alto estado de prontidão, preocupando-se com a agilidade técnica e pessoal no meio das crescentes tensões com o Irão, segundo o Departamento de Defesa dos Estados Unidos. Na semana passada, o conselheiro de segurança nacional da Casa Branca, Michael Flynn, informou que os EUA estão a acompanhar as actividades do Irão, após a realização de um teste de míssil balístico por Teerão no dia 29 de Janeiro.
“Prontidão é um conceito mal compreendido”, disse o Departamento da Defesa dos EUA. “Por exemplo, os navios despreparados da Marinha estão a ser concertados ou modernizados, ou estão a ser realizadas mudanças estruturais do pessoal”, afirma o comunicado.
Sempre há uma percentagem das forças dos Estado Unidos que não ficam em estado de prontidão, acrescentou Michael Flynn.
A movimentação de forças norteamericanas na região do Golfo aponta para uma preparação de combate, a julgar pelos últimos incidentes políticos e militares.
Especialistas no Pentágono acreditam que o Presidente Donald Trump vai marcar um posicionamento que defenda os Estados Unidos de todas as ameaças.