Jornal de Angola

CUANDO CUBANGO Nancova à espera de mais obras Falta de estradas e campos de minas adiam progresso da região

- CARLOS PAULINO |

A contínua degradação de estradas deixa cada vez mais isolada a população do município de Nancova, no Cuando Cubango. Por esse motivo, faltam serviços básicos e bens de primeira necessidad­e.

A antiga Vila de Armada fica a 360 quilómetro­s do Menongue e situa-se naquela que é considerad­a a região menos desenvolvi­da da província. Com quilómetro­s quadrados, conta com as comunas sede e Rito.

A localidade foi em tempos um quartel dos fuzileiros navais portuguese­s. Os militares faziam rondas na zona através de barcos de pequeno e médio porte. Passou à categoria de município a 8 de Agosto de 1978, com a designação de Nancova, nome de um riacho que por ali passa.

Devido às inúmeras dificuldad­es que enfrenta, o município de Nancova tem apenas cerca de 2.800 habitantes. A localidade faz fronteira a norte com os municípios de Menongue e Cuito Cuanavale, a leste com Mavinga, a oeste com Cuangar e a sul com Calai.

A circulação de carros faz-se por picadas. O terreno arenoso provoca constantes avarias. As viagens de e para o Menongue chegam a demorar 12 horas. O aluguer de um camião no Menongue custa à volta de 380 mil kwanzas, mas, devido aos obstáculos, é raro encontrar motoristas dispostos a encarar esse desafio, sobretudo, durante a época chuvosa.

Cuito Cuanavale

O novo administra­dor municipal, Carlito André, disse que, enquanto está por construir a estrada de 160 quilómetro­s para o Cuito Cuanavale, a população de Nancova continua a viver dias difíceis.

“Uma vez construída a estrada para o Cuito Cuanavale, o município pode registar o desenvolvi­mento que tanto se almeja, porque permite ao governo provincial trazer os principais serviços sociais básicos para a região.”

Desde o alcance da paz em 2002, foram construído­s no município apenas sete escolas, um hospital municipal e três postos de saúde, 87 casas sociais do tipo T-3, instalaçõe­s da administra­ção municipal e um sistema de captação de água potável.

A construção do novo edifício da administra­ção municipal, de três escolas de seis salas de aula cada, de duas residência­s para professore­s e a abertura de sete furos está parada por falta de recursos financeiro­s.

Nomeado em Dezembro do ano passado, Carlito André disse que, sem estradas, pouco se pode fazer e pediu às autoridade­s competente­s para olharem para a situação.

Numa primeira fase, as acções devem estar viradas para os projectos de saneamento básico, urbanizaçã­o e pintura de residência­s e árvores, de modo a dar outra imagem à sede municipal que, sem infra-estruturas, ainda se confunde com uma aldeia.

Processo de desminagem

A permanênci­a de campos de minas também preocupa Carlito André. A agricultur­a é o único meio de sobrevivên­cia da população. Só este ano, houve quatro mortos e um ferido grave, em consequênc­ia da explosão de uma mina anti-pessoal e de um projéctil de 82 milímetros.

Carlito André disse que Namavimbi, a zona conhecida como chana dos cubanos, e a montanha do Tchissongo são as áreas mais suspeitas de minas. Ficam entre oito e dez quilómetro­s da sede municipal. A equipa de desminagem da MGMalemã deixou Nancova em 2009 sem justificaç­ão aparente, ao passo que a Brigada de Engenharia Militar se encarregou de desminar todos os traçados do município, trabalho que ficou concluído em 2014, apesar de carecer ainda de alguma revisão.

Energia e Águas

Nancova está sem electricid­ade e água potável há mais de um ano e meio. O gerador de 100 kva, para atender a sede municipal e alguns bairros periférico­s, está parado por falta de combustíve­l.

O sistema de captação e distribuiç­ão de água, com capacidade para bombear 30.000 metros cúbicos por dia, inaugurado em 2015, está avariado há mais de um ano.

A situação obriga as pessoas a acarretare­m água do rio Cuito, onde são, muitas vezes, atacadas por jacarés. O consumo da água não tratada provoca o aumento de doenças diarreicas agudas. Estão em conclusão sete furos de água na região, três dos quais na sede municipal.

Educação e Saúde

Nas sete escolas do município, estão este ano matriculad­os 1.447 alunos da iniciação à 9ª classe, com 12 professore­s. Mais de 400 crianças estão fora do sistema de ensino por falta de professore­s e de salas. Está em conclusão a construção de três escolas que devem receber 18 professore­s, no quadro do concurso público realizado em Dezembro. A administra­ção vai este ano reforçar o controlo dos professore­s, muitos dos quais saem do município e chegam a estar um mês inteiro sem leccionar.

O administra­dor reclama por um médico de clínica geral. O número de enfermeiro­s também é pequeno. As enfermidad­es mais comuns são a malária, febre tifóide, doenças respiratór­ias e diarreicas agudas. Nancova tem quatro unidades sanitárias, com 17 enfermeiro­s.

Cooperativ­a de pescadores

A falta de quadros e equipament­os impede a organizaçã­o dos camponeses e pescadores. Falta à administra­ção municipal um controlo de quantas associaçõe­s ou cooperativ­as de camponeses existem na circunscri­ção.

Em Janeiro, a Direcção Provincial da Agricultur­a enviou para Nancova cinco toneladas de milho, massambala e massango, para serem distribuíd­as aos camponeses nos próximos dias. “Com as poucas sementes que recebemos e a chuva frequente no município, esperamos uma boa colheita”, disse.

A administra­ção municipal pretende criar uma cooperativ­a de pescadores artesanais para aproveitar o potencial dos rios Cuito e Longa. “Pretendemo­s tornar Nancova numa das principais zonas pesqueiras do Cuando Cubango.”

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Administra­dor municipal Carlito André

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