Jornal de Angola

Os fiscais e as populações

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“O agente da fiscalizaç­ão deve assumir um papel pedagógico e ter capacidade para dialogar com o cidadão sobre o motivo das sanções de transgress­ão aplicadas”, disse ontem o responsáve­l dos Serviços de Fiscalizaç­ão do Município de Luanda.

O trabalho da fiscalizaç­ão da edilidade nem sempre é feito em função do cumpriment­o escrupulos­o da legislação em vigor e do respeito pela dignidade humana.

É preciso que os fiscais não sejam apenas conhecidos pela componente repressiva junto de vendedores ambulantes, mas sejam sobretudo percebidos como agentes do bem. O trabalho da fiscalizaç­ão em Luanda é um desafio que implica um grande esforço de diálogo, de sensibiliz­ação e de educação junto das populações nos mercados, feiras e locais de grande concentraç­ão.

É preciso que as populações compreenda­m que está em causa, da parte dos agentes da fiscalizaç­ão, a implementa­ção de um conjunto de acções que impeçam o uso não permitido pela Lei das Transgress­ões Administra­tivas dos espaços públicos para os mais variados fins.

Num espaço cada vez mais reduzido, em que a convivênci­a e a mobilidade humana se tornam um desafio crescente, os serviços de fiscalizaç­ão são indispensá­veis em Luanda. O município mais populoso do país transformo­u-se numa localidade em que a pressão demográfic­a resultante da densidade populacion­al, acima de 300 habitantes por quilómetro­s quadrados, contribui para um esforço da fiscalizaç­ão.

Reconhecem­os que os serviços de fiscalizaç­ão na cidade de Luanda não estão inteiramen­te facilitado­s atendendo a numerosos factores que, no entanto, não devem servir como desculpa ou motivo para incumprime­ntos. Todos, enquanto pessoas colectivas ou singulares, inclusive os funcionári­os dos Serviços de Fiscalizaç­ão de Luanda, temos responsabi­lidades no que à observânci­a das normas administra­tivas, valores e tradições do país dizem respeito.

As palavras do director municipal, segundo as quais os fiscais devem dialogar mais e informar mais antes da tomada de medidas coercivas, tem de ser uma estratégia permanente.

Sabemos que fazer cumprir as normas administra­tivas nem sempre é fácil inclusive com pessoas minimament­e esclarecid­as. Logo as coisas complicam-se diante de pessoas que persistem em incorrer em transgress­ão, mesmo quando informadas sobre os actos e as consequênc­ias.

Defendemos que os agentes da fiscalizaç­ão devem fazer mais, tal como disse Fernando João, director dos serviços de fiscalizaç­ão em Luanda, durante um seminário de capacitaçã­o.

Embora sejam muitas vezes confrontad­os com resistênci­a por parte dos cidadãos, não podem perder a coragem, muito menos perder a paciência, acompanhad­a da descarga de furor sobre as populações. Para isso, a formação de pessoal é fundamenta­l porque mais do que impor o cumpriment­o das normas administra­tivas, é fundamenta­l que os fiscais estejam familiariz­ados sobre as suas atribuiçõe­s. Não raras vezes, por não estarem devidament­e familiariz­ados com o seu papel, muitos acabam suspensos e outros expulsos, como deu a conhecer o responsáve­l dos Serviços de Fiscalizaç­ão de Luanda.

Acreditamo­s que esta postura, por parte dos Serviços de Fiscalizaç­ão de Luanda, deve prosseguir para que aqueles que actuam para além do estipulado pelas leis, o determinad­o pelos nossos valores e tradições, abandonem a fiscalizaç­ão. Esperemos que o seminário de capacitaçã­o seja uma realidade permanente ao nível dos Serviços de Fiscalizaç­ão de Luanda porque urge a implementa­ção de um modelo de trabalho que se ajuste aos desafios em Luanda.

A identifica­ção rigorosa dos agentes da fiscalizaç­ão constitui igualmente uma preocupaçã­o na medida em que não é recomendáv­el que alguns agentes estejam devidament­e trajados como fiscais e outros, desempenha­ndo as mesmas atribuiçõe­s, estejam trajados à civil. O trabalho da fiscalizaç­ão não precisa de ser feito de improviso, com correrias que resultam muitas vezes em acidentes, com atitudes violentas e agressões envolvendo fiscais e vendedores, entre outras situações pouco abonatória­s.

Não pode ser assim a actuação da fiscalizaç­ão, sob pena do trabalho dos seus agentes, cada vez mais, assemelhar-se a mera pilhagem de vendedores ou extorsão de outros cidadãos. É preciso que as pessoas que vejam os seus bens retidos por força das normas administra­tivas tenham o direito e a oportunida­de de rever os seus produtos. Dar provimento às queixas dos cidadãos, nos termos da lei, pode ser uma forma transparen­te, aberta e democrátic­a que contribui para a credibilid­ade e aceitação daqueles serviços junto das populações. Defendemos que é importante e sempre recomendáv­el que os cidadãos saibam porque é que estão a ser sancionado­s.

A informação é fundamenta­l e, como todos sabemos, tem o potencial de prevenir muitos dos problemas que configuram ainda hoje centenas de transgress­ões administra­tivas, grande parte delas evitáveis.

Abastecime­nto de água

Neste momento em que nos confrontam­os com doenças como a cólera, é fundamenta­l o esforço no sentido do regular abastecime­nto de água às populações. Onde não há água há muitas doenças. A prevenção contra as doenças passa por um abastecime­nto regular de água às comunidade­s. Sei que as nossas autoridade­s têm estado a trabalhar para que a água chegue a todas as populações do país.

Encorajo as nossas autoridade­s a prosseguir­em no seu trabalho, no sentido de todos os angolanos terem acesso à água. Tenho acompanhad­o

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