Democracia e interferências externas
As quartas eleições angolanas após a instauração do sistema multipartidário podem, devem, servir para todos nós – independentemente das ideias políticas e ideológicas que professemos – comprovarmos a maturidade como povo que de escombros constrói um país moderno.
A maturidade do povo angolano não advém de leituras apressadas de compêndios nem de decalques de modelos de outras paragens sem se ter em conta as nossas especificidades, como se a democracia fosse algo imutável, género “fotocópia milagrosa” a aplicar em todas as sociedades, países, continentes.
Os angolanos aprenderam o valor da democracia pelas circunstâncias em que foram obrigados a viver ao longo de séculos, quando perceberam que o ocupante colonial era apoiado por potências apresentadas como arautos da liberdade e mais recentemente pelos invasores sustentados pelos mesmos senhores do mundo, donos de verdades absolutas.
A democracia multipartidária angolana é representativa, pois os cidadãos exercem o poder por intermédio dos seus representantes eleitos democraticamente, em escrutínios livres, como comprovam relatórios oficiais de observadores estrangeiros de várias nacionalidades com opções ideológicas díspares. Mas é também participativa, pois não raro a população é convidada por quem governa a opinar sobre determinados assuntos antes de serem sujeitos à apreciação da Assembleia Nacional.
A democracia multipartidária angolana, relativamente recente, aperfeiçoa-se todos os dias e háde continuar a fazê-lo, sempre tendo como propósito primeiro o bem-estar de todos nós, sejam quais forem as ideias políticas e ideológicas que defendamos, o partido político em que votamos. Prova disso são as obras de reedificação e construção feitas de uma ponta a outra do país, principalmente após a conquista da paz, de que são exemplos barragens, estabelecimentos de ensino e de saúde de vários níveis, estradas nacionais e regionais, fontanários, aeroportos, campos de aviação, serviços públicos, urbanizações.
Os angolanos estão hoje mais perto uns dos outros pelas melhorias rodoviárias, marítimas, fluviais, aéreas. O ensino, do primário ao universitário, tornou-se mais acessível, tal como a saúde, o lazer, o desporto. Agricultura, construção civil, comércio, indústria, pesca, com reflexos positivos nas exportações e redução de compras ao estrangeiro, são outras realidades indesmentíveis, apesar da crise económica internacional que fez abrandar o ritmo de desenvolvimento mas não esmorecer o propósito de construirmos um país moderno, já exemplo no mundo.
As quartas eleições angolanas, no âmbito do sistema multipartidário, estão à porta. As campanhas das várias forças políticas concorrentes que as antecedem podem – devem – servir para todos nós, principalmente os intervenientes directos, mostrarmos, uma vez mais, ao mundo, a maturidade que adquirimos. A mesma que levou a que tenhamos sido nós, sem interferências externas, a conseguirmos a reconciliação nacional, marco relevante da nossa História recente.
O período oficial da campanha eleitoral ainda não começou, nem sequer tem data definida, mas as tentativas de interferência estranhas já se fazem sentir. Umas de forma despudorada, como acontece com alguma comunicação social de Portugal, outras, aparentemente mais camufladas, como a dos estrangeiros que tentaram registar-se para poderem votar!
De certeza que não foram eles que se lembraram de o fazer. Alguém os incumbiu dessa patranha. Os objectivos de quem lhes pagou podem ser vários: conseguir votos para determinada força política concorrente, que tem de ser forçosamente pequena, proporcional à mentalidade e honradez de quem a dirige, procurar descredibilizar as eleições e arranjar desculpas para justificar derrota antecipada.
Uns e outros, desenganem-se. A maioria do povo angolano sabe o que quer. Não se deixa enganar por manobras descaradas ou subreptícias. Ri-se da falta de imaginação de quem as tenta e vota em quem entender que melhor lhe serve os seus anseios.