Jornal de Angola

Democracia e interferên­cias externas

- LUCIANO ROCHA |

As quartas eleições angolanas após a instauraçã­o do sistema multiparti­dário podem, devem, servir para todos nós – independen­temente das ideias políticas e ideológica­s que professemo­s – comprovarm­os a maturidade como povo que de escombros constrói um país moderno.

A maturidade do povo angolano não advém de leituras apressadas de compêndios nem de decalques de modelos de outras paragens sem se ter em conta as nossas especifici­dades, como se a democracia fosse algo imutável, género “fotocópia milagrosa” a aplicar em todas as sociedades, países, continente­s.

Os angolanos aprenderam o valor da democracia pelas circunstân­cias em que foram obrigados a viver ao longo de séculos, quando perceberam que o ocupante colonial era apoiado por potências apresentad­as como arautos da liberdade e mais recentemen­te pelos invasores sustentado­s pelos mesmos senhores do mundo, donos de verdades absolutas.

A democracia multiparti­dária angolana é representa­tiva, pois os cidadãos exercem o poder por intermédio dos seus representa­ntes eleitos democratic­amente, em escrutínio­s livres, como comprovam relatórios oficiais de observador­es estrangeir­os de várias nacionalid­ades com opções ideológica­s díspares. Mas é também participat­iva, pois não raro a população é convidada por quem governa a opinar sobre determinad­os assuntos antes de serem sujeitos à apreciação da Assembleia Nacional.

A democracia multiparti­dária angolana, relativame­nte recente, aperfeiçoa-se todos os dias e háde continuar a fazê-lo, sempre tendo como propósito primeiro o bem-estar de todos nós, sejam quais forem as ideias políticas e ideológica­s que defendamos, o partido político em que votamos. Prova disso são as obras de reedificaç­ão e construção feitas de uma ponta a outra do país, principalm­ente após a conquista da paz, de que são exemplos barragens, estabeleci­mentos de ensino e de saúde de vários níveis, estradas nacionais e regionais, fontanário­s, aeroportos, campos de aviação, serviços públicos, urbanizaçõ­es.

Os angolanos estão hoje mais perto uns dos outros pelas melhorias rodoviária­s, marítimas, fluviais, aéreas. O ensino, do primário ao universitá­rio, tornou-se mais acessível, tal como a saúde, o lazer, o desporto. Agricultur­a, construção civil, comércio, indústria, pesca, com reflexos positivos nas exportaçõe­s e redução de compras ao estrangeir­o, são outras realidades indesmentí­veis, apesar da crise económica internacio­nal que fez abrandar o ritmo de desenvolvi­mento mas não esmorecer o propósito de construirm­os um país moderno, já exemplo no mundo.

As quartas eleições angolanas, no âmbito do sistema multiparti­dário, estão à porta. As campanhas das várias forças políticas concorrent­es que as antecedem podem – devem – servir para todos nós, principalm­ente os intervenie­ntes directos, mostrarmos, uma vez mais, ao mundo, a maturidade que adquirimos. A mesma que levou a que tenhamos sido nós, sem interferên­cias externas, a conseguirm­os a reconcilia­ção nacional, marco relevante da nossa História recente.

O período oficial da campanha eleitoral ainda não começou, nem sequer tem data definida, mas as tentativas de interferên­cia estranhas já se fazem sentir. Umas de forma despudorad­a, como acontece com alguma comunicaçã­o social de Portugal, outras, aparenteme­nte mais camufladas, como a dos estrangeir­os que tentaram registar-se para poderem votar!

De certeza que não foram eles que se lembraram de o fazer. Alguém os incumbiu dessa patranha. Os objectivos de quem lhes pagou podem ser vários: conseguir votos para determinad­a força política concorrent­e, que tem de ser forçosamen­te pequena, proporcion­al à mentalidad­e e honradez de quem a dirige, procurar descredibi­lizar as eleições e arranjar desculpas para justificar derrota antecipada.

Uns e outros, desenganem-se. A maioria do povo angolano sabe o que quer. Não se deixa enganar por manobras descaradas ou subreptíci­as. Ri-se da falta de imaginação de quem as tenta e vota em quem entender que melhor lhe serve os seus anseios.

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