A maka da desflorestação
Há dias, levantou-se um problema que, embora controlado, tem contornos que devem levar a população e as instituições a repensarem a forma como são usados os recursos florestais em Angola. Trata-se do processo de desflorestação, um fenómeno que as zonas florestais do país enfrentam e que precisa de uma resposta que, tal como esperamos, torne sustentável o uso daqueles recursos.
Segundo o anúncio da direcção do Instituto de Desenvolvimento Florestal, durante a apresentação pública do inventário florestal nacional, nesta semana, 8,2 por cento de área bruta de floresta do nosso país tem sido desmatada anualmente. A perda de hectares de zonas florestais decorrentes fundamentalmente da acção humana constitui um problema sério, sobretudo quando associamos a este desenvolvimento os efeitos do aquecimento global. Como sabemos, extensas zonas de regiões e países menos desenvolvidos são os mais prejudicados em virtude das mudanças climatéricas que ocorrem no mundo. Daí que algumas vozes se terão levantado aquando do processo de proposta e redacção do Acordo de Paris a favor de modalidades de compensação aos países cujas emissões de gases com efeito de estufa sobre a atmosfera sejam mínimos.
As economias que mais poluem o planeta devem, obviamente, assumir grande parte das responsabilidades num esforço assimétrico relativamente aos países que menos contribuem para as alterações climáticas. Em todo o caso, é importante que saibamos acautelar o que todos reconhecemos como um processo acelerado de desflorestação no nosso país, porque, de acordo com os números e dados das instituições internacionais, não são muito boas as informações sobre o fenómeno.
Segundo a Organização para Alimentação e Agricultura da ONU, a FAO, a taxa de desflorestação de África é a segunda maior do mundo, logo a seguir à da América Latina, logo, países africanos como o nosso, com densas zonas florestais, têm razões para preocupação.
A busca incessante e insustentável dos recursos florestais transforma muitas regiões do país em verdadeiros destinos de exploradores, na maioria das vezes, desprovidos de quaisquer preocupações ambientais, que desmatam largas áreas. Embora o Instituto de Desenvolvimento Florestal considere aceitável e controlado o processo de desflorestação no país, não há dúvidas de que podemos fazer mais para inviabilizar perdas significativas de hectares de florestas. Reconhecemos todos que há uma grande pressão pelos recursos florestais, muitos deles explorados sem a observância de regras, mas defendemos igualmente que é ainda possível impor as normas que regulam o sector.
Mais do que o controlo assegurado pela instituição que lida e acompanha tudo relativo às florestas em Angola, é preciso que nos certifiquemos de que os esforços actuais contrariam as perdas. Não nos podemos dar ao luxo de perder anualmente milhões e milhões de hectares de zonas florestais, sob pena de o país evoluir rapidamente para um processo de desertificação com numerosas consequências.
O repovoamento florestal deve ser uma estratégia acompanhada de uma ampla campanha de sensibilização junto da população para se evitar que os esforços das instituições do Estado não cumpram os seus objectivos. É preciso continuar a sensibilizar a população para que não continue a fazer do abate indiscriminado de árvores, sem o necessário replantio, uma prática normal. Acreditamos que o Ministério da Agricultura, por via do decreto de Estratégia Nacional de Povoamento e Repovoamento Florestal, vai liderar uma grande iniciativa de reflorestação a nível nacional. Reflorestar 50 mil hectares, como se propõe o referido decreto, ao lado de outras acções coordenadas, envolvendo os parceiros do Estado, instituições internacionais como a FAO, constitui esperança e uma das soluções.
Esperamos que os alertas lançados pelas instituições, nacionais e estrangeiras, sirvam para a tomada de medidas apropriadas para inviabilizar o processo de desflorestação no país. É preciso que se preste mais atenção à formação de quadros do Instituto de Desenvolvimento Florestal, o apetrechamento com meios modernos e que, mais importante, tenhamos meios para monitorizar a taxa de desflorestação em todo o país. Precisamos de ter homens e meios que permitam contornar positivamente o actual clima de desflorestação que, como atesta o Instituto de Desenvolvimento Florestal, é ainda sustentável. Na verdade, precisamos de fazer bom proveito dos nossos recursos florestais para que o processo de exploração resulte mais na entrada de dinheiro para os cofres do Estado contrariamente ao lucro gerado pelo abate e contrabando. A colaboração por parte da população e pessoas singulares com as autoridades para impedir que os recursos sejam explorados ilegalmente deve ser um procedimento normal e permanente.
As instituições do Estado estão abertas para receber denúncias sobre a exploração ilegal da madeira e de outros recursos proporcionados pelas nossas zonas florestais para que os recursos naturais sejam preservados, inclusive para as gerações vindouras.
Centenário de Tambo
Oliver Reginald Tambo foi uma figura incontornável da luta antiapartheid, tendo dirigido o ANC nos momentos mais difíceis até à vitória final. Neste ano comemora-se o centenário desta importante figura que chegou a liderar pessoalmente a luta armada contra o apartheid.