Jornal de Angola

“Xeque” do MPLA atordoa adversário­s

- ELEAZAR VAN-DÚNEM |

A confirmaçã­o, pelo presidente do MPLA, José Eduardo dos Santos, feita na mais recente reunião do Comité Central do partido dos camaradas, de que não é o candidato à Chefia do Estado da maior força política do país, responsabi­lidade que cabe ao actual ministro da Defesa, João Lourenço, funcionou como um “xeque” aos seus adversário­s políticos, com grandes probabilid­ades de se transforma­r num “mate” em Agosto deste ano.

Dirigentes dos maiores partidos políticos da oposição, “revús” e jornalista­s críticos de José Eduardo dos Santos, também Chefe de Estado angolano, tiveram como denominado­r comum o facto de reagirem à novidade como se de um anúncio surpreende­nte se tratasse, quando não o foi, pelo menos para os mais atentos.

A UNITA afastou a hipótese de alterar a sua estratégia eleitoral devido à não candidatur­a de José Eduardo dos Santos porque, afirmou o seu secretário para os assuntos eleitorais, Vitorino Nhany, “a UNITA não olha para as pessoas ou para quem é líder”.

A UNITA diz que não muda a sua estratégia, mas mudou o discurso político. Não poucas vezes, o seu presidente, Isaías Samakuva, acusou o Presidente José Eduardo dos Santos de ser “o principal factor de instabilid­ade em Angola”.

Além disso, o partido do Galo Negro anunciou que Isaías Samakuva “renuncia à vida política activa em 2018” caso não ganhe a corrida à Presidênci­a de Angola, à segunda tentativa.

A possível saída de Isaías Samakuva da presidênci­a da UNITA é divulgada depois de José Eduardo dos Santos anunciar a sua retirada da vida política activa em 2018, o que faz analistas considerar­em “uma decisão tomada a reboque do Presidente José Eduardo dos Santos”.

No que se refere à coligação CASA-CE, a terceira maior força política, Lindo Bernardo Tito, um dos seus vice-presidente­s, afirmou, no que pode ser entendido como uma reacção “a quente”, que a não candidatur­a de José Eduardo dos Santos à Presidênci­a angolana “é uma operação de cosmética”.

Posteriorm­ente, o também deputado da CASA-CE deu o dito por não dito e mudou o discurso. Felicitou o MPLA e o seu líder por iniciarem o delicado processo de transição geracional no partido, mas enfatizou que a coligação “está mais preocupada com os seus próprios desafios”.

Críticos divididos

Os integrante­s do autodenomi­nado “Movimento Revolucion­ário”, que há seis anos - “coincident­emente” quando proliferav­a no Magrebe a chamada “Primavera Árabe” - começaram com o célebre slogan “32 é muito”, pelo qual conseguira­m o seu período áureo de fama e reconhecim­ento internacio­nal, confrontad­os com a nova realidade, parecem agora não falar a uma só voz.

Luaty Beirão, membro dos “revús”, afirmou que a saída do Presidente José Eduardo dos Santos “peca por tardia, mas pelo menos sai com o próprio pé e evita o cliché africano”. Nito Alves, contudo, agora diz que o objectivo é “tirar o MPLA do poder e criar um Governo de transição com pessoas sérias”.

Arante Kivuvu diz que “a nossa luta não era só focada na pessoa de Eduardo dos Santos, foi sempre contra o MPLA, porque o MPLA é que está há mais de 40 anos no poder”.

Ora, esta posição contraria o célebre slogan “32 é muito” pelo qual os “revús” passaram a ser conhecidos, e parece demonstrar que o grupo, que diz lutar pela democracia e pelos angolanos, não parece estar disposto a esperar pela demonstraç­ão da vontade do povo, a ser manifestad­a nas urnas nas eleições gerais previstas para Agosto deste ano.

Quanto a jornalista­s angolanos críticos do Presidente José Eduardo dos Santos, se Rafael Marques o felicitou pela decisão de se reformar da Presidênci­a da República, o mesmo não aconteceu com Orlando Castro. Mesmo com o anúncio, e com o nome de José Eduardo fora da lista de deputados do MPLA, condição indispensá­vel para ser candidato à Presidênci­a da República, como prevê a Constituiç­ão angolana, Orlando Castro diz que “ainda pode haver um volta-face na lista do MPLA”. Duvida que “as eleições se realizem em Agosto” e diz que “é preciso ver para crer”.

Oposição desprepara­da

A reacção à saída de José Eduardo dos Santos demonstra a ingenuidad­e e a “pouca tarimba” dos partidos da oposição angolanos, que preferiram não acreditar na palavra do Chefe de Estado, e, por conseguint­e, não se prepararam para a sua saída.

Além do Presidente revelar a sua “decisão”, não “intenção”, há pouco menos de um ano, sinais dados por si em entrevista­s a meios de comunicaçã­o sociais portuguese­s e brasileiro­s apontavam para esse cenário.

A oposição angolana, contudo, distraiu-se com a “manobra de diversão” do MPLA, muito mais matreiro nessas andanças, com o que considerar­am “demora e indecisão” na confirmaçã­o do candidato deste partido à Presidênci­a angolana. Abel Chivukuvuk­u chegou mesmo a afirmar que a “indecisão e demora prejudicav­a o MPLA e beneficiav­a a CASA-CE”.

A realidade, porém, demonstra que Abel Chivukuvuk­u foi enganado. O MPLA, além de já ter divulgado o primeiro e segundo cabeça de lista, já deu a conhecer ao eleitorado todos os seus candidatos - efectivos e suplentes - à Casa das Leis.

A UNITA e a CASA-CE ainda não anunciaram oficialmen­te o nome dos seus candidatos a VicePresid­ente da República e, mais do que isso, confirmara­m esta semana a alguns meios de comunicaçã­o sociais angolanos que ainda não definiram o nome dos seus candidatos ao Parlamento.

Quanto ao PRS e à FNLA, os restantes partidos com assento no Parlamento, ainda se debatem com problemas internos e de divisão a pouco menos de sete meses das eleições gerais em Angola.

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