Combate ao tráfico de seres exige firmeza
IGREJA CATÓLICA LANÇA APELO GLOBAL Conferência internacional evidencia em Roma urgência na luta contra o crime
A Igreja Católica diz que o tráfico de órgãos, a par do tráfico de seres humanos, tem de ser considerado “crime” e pede o envolvimento dos países na condenação e desenvolvimento de mecanismos legais contra esta prática.
O apelo saiu de uma conferência internacional dedicada ao tema, que teve lugar em Roma, organizada pela Academia Pontifícia das Ciências (Santa Sé).
No texto, é evidenciada a urgência de “todas as nações e culturas” condenarem “o tráfico de seres humanos, com a finalidade de remoção, e o tráfico de órgãos, que incluem o uso de órgãos de presos executados e o pagamento aos doadores ou aos parentes próximos de doadores falecidos.”
Estes são “crimes que devem ser condenados em todo o mundo e perseguidos legalmente a nível nacional e internacional”, pode-se ler.
No total, o documento apresenta onze recomendações, entre as quais um apelo para “que os líderes religiosos encorajem a doação ética de órgãos” e incentivem rejeição das “práticas ilícitas e imorais do tráfico de órgãos.”
A conferência internacional da Academia Pontifícia das Ciências teve lugar na terça e quarta-feira, subordinada ao tema “Tráfico de órgãos e turismo dos transplantes” e contou com testemunhos directos de pessoas vindas de vários países do mundo. O evento inseriu-se no esforço que foi pedido pelo Papa Francisco contra o tráfico de pessoas. O tráfico de seres humanos é, em todo o mundo, o terceiro negócio ilícito mais rentável, logo depois da droga e das armas. Tendo como causa principal a pobreza e as grandes desigualdades sociais, o tráfico não exclui nenhum país. Mulheres, crianças e adolescentes continuam a ser as principais vítimas.
O número exacto das vítimas de tráfico de seres humanos é difícil de avaliar, mas pode ascender a vários milhões em todo o mundo, 2,5 milhões, de acordo com as estimativas da Organização Internacional do Trabalho (OIT).
Numa reunião realizada em Maio do ano passado, para debater a forma de melhorar a coordenação ao combate deste crime, o ex-Secretário-Geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, apelou aos governos para melhorarem os níveis de vida da sua população, para pôr termo a este tráfico.
África é um dos continentes mais afectados pelo tráfico de seres humanos. Aqui, predomina o tráfico de mulheres e de crianças para exploração sexual, embora o tráfico de homens para o trabalho forçado também exista.
O Unicef calcula que, todos os anos, sejam traficadas, nesta região, mais de duzentas mil crianças, consequência directa da pobreza. Em certas sociedades, as mulheres são objecto fácil de tráfico humano em consequência de costumes que as marginalizam e relegam para um estatuto inferior. A discriminação de género que muitas sofrem impede as mulheres de frequentar a escola e de uma boa profissão.
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), anualmente, são feitos, no mundo, cerca de 22 mil transplantes de fígado, 66 mil de rim e seis mil de coração.
Cerca de cinco por cento dos órgãos utilizados nessas intervenções provêm do mercado negro, com um volume de negócios estimado entre 600 milhões e 1,2 mil milhão de dólares.
O aspecto mais dramático é que os números deste negócio aumentam constantemente.