Cidades africanas com rendimentos baixos
A urbanização em África está a processar-se com rendimentos inferiores aos de outras regiões em desenvolvimento que gozam de níveis de urbanização idênticos, refere o relatório do Banco Mundial (BM).
O documento lembra que, em 1968, quando os países da região do Médio Oriente e Norte de África se tornaram 40 por cento urbanos, o seu PIB per capita era de 1,800 dólares constantes até 2005. E, em 1994, quando os países da região da Ásia Oriental e Pacífico ultrapassaram o mesmo patamar, o seu PIB per capita era de 3, 600 dólares.
Em contrapartida, a África, com uma urbanização de 40 por cento, tem actualmente um Produto Interno Bruto per capita de apenas 1.000 dólares. Isto significa que cada dólar de investimento público em cidades precisa de ser aplicado da forma mais eficiente possível e de alavancar o maior número possível de outras fontes de financiamento como o sector privado, os parceiros internacionais e cidadãos.
A rápida urbanização com níveis de rendimento mais baixos significou que o investimento de capital nas cidades africanas permaneceu relativamente baixo na região, nas últimas quatro décadas, em cerca de 20 por cento do PIB. Em contrapartida, os países da Ásia Oriental que se urbanizaram (China, Japão e República da Coreia) incrementaram o investimento de capital durante os respectivos períodos de urbanização rápida.
Perante a falta de investimento de capital, o relatório frisa que os investimentos em infra-estrutura nas cidades africanas e em estruturas industriais e comerciais não acompanharam o ritmo de concentração da população, nem tão pouco os investimentos em habitação formal económica.
A população urbana de África é hoje na ordem de 472 milhões de pessoas. À medida que as cidades crescem em tamanho, outros 178 milhões de pessoas serão adicionados às áreas urbanas até 2025. Na realidade, a população urbana de África duplicará ao longo dos próximos 25 anos, atingindo mil milhões de pessoas até 2040.
A instituição financeira diz que é considerável o potencial para investimentos coordenados em infraestrutura, habitação e estruturas comerciais, o que vai reforçar as economias de aglomeração e conectar as pessoas a empregos.
O relatório explica que, por causa desta falta de conexão, as cidades africanas estão entre as mais caras do mundo, quer a nível de negócios quer de agregados familiares, deixando as cidades “fora de serviço e encerradas para negócio”.
As cidades africanas são 29 por cento mais caras do que as de países com níveis de rendimento idênticos. As famílias do continente africano enfrentam custos mais altos relativamente ao seu PIB per capita do que os agregados familiares noutras regiões, sendo uma grande parte atribuída à habitação, que lhes custa 55 por cento mais do que noutras regiões.
Em Dar-es-Salam, por exemplo, 28 por cento dos residentes moram pelo menos três num quarto, em Abidjan, 50 por cento, em Lagos, Nigéria, duas em cada três pessoas vivem em bairros suburbanos.
Em África, os habitantes da cidade pagam cerca de 35 por cento mais pela comida do que nos outros países de rendimento baixo ou de médio do mundo. Globalmente, os agregados familiares urbanos pagam 20 a 31 por cento mais por bens e serviços nos países africanos do que noutros em desenvolvimento com níveis de rendimento equiparados. Os trabalhadores urbanos em África têm de pagar um preço elevado pelos transportes, ou nem sequer têm capacidade para utilizar um veículo e os sistemas de miniautocarros informais estão longe de ser baratos.
A necessidade de ter de ir a pé limita o acesso destes residentes aos empregos. Sem um desenvolvimento formal suficiente, os bairros ilegais que são relativamente centrais e, consequentemente, próximos dos empregos, como é o caso de Kibera, em Nairobi, e Tandale, em Dar-es-Salam, estão constantemente a crescer em população.
A necessidade de salários mais altos, para pagar os custos de vida mais elevados, torna os negócios menos produtivos e competitivos, mantendo-os fora dos sectores transaccionáveis.
Como resultado, as cidades africanas são evitadas por potenciais investidores regionais e globais e parceiros comerciais. Perante estas condições dispendiosas, as oportunidades de enormes ganhos em eficiência e produtividade podem fazer com que as cidades africanas se tornem um forte catalisador do desenvolvimento económico.
Soluções à vista
De acordo com o relatório, a chave para que as cidades africanas se libertem da armadilha do baixo desenvolvimento é colocálas no rumo da densidade física e económica, formalizar os mercados fundiários, clarificar os direitos de propriedade e instituir um planeamento urbano eficaz que permita o englobamento da terra, bem como fazer investimentos em infra-estruturas precoces e coordenadas que proporcionem interligações entre habitação, infra-estruturas, desenvolvimento comercial e industrial.
“O que as cidades fizerem agora vai determinar o seu modelo e eficiência não só nos próximos anos, como também durante décadas ou até mesmo séculos”, sublinhou EdeIjjasz-Vasquez, director sénior do Banco Mundial, responsável pelos assuntos sociais, urbanos, rurais e práticas globais de resiliência.
“De um ponto de vista político, a resposta será resolver os problemas estruturais que afectam as cidades africanas. África precisa de reforçar as instituições que regem os mercados fundiários e coordenar o planeamento urbano e das infra-estruturas. A fragmentação do desenvolvimento físico, as cidades de África são 20 por cento mais fragmentadas do que as da Ásia e da América Latina, está a limitar a produtividade e a habitabilidade.”
O economista urbano principal do BM, SomikLall, e autor do relatório, acrescentou que “em termos de investimento, os dirigentes e formuladores de políticas de África precisam de se centrar em investimentos precoces e coordenados em infra-estrutural.”