Jornal de Angola

Mercado financeiro pode voltar ao colapso

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As medidas do Presidente norteameri­cano, Donald Trump, podem levar o sistema financeiro à falência idêntica ao colapso que ocorreu em 2008, com bancos como Lehman Brothers a sucumbirem aos créditos malparados.

A antevisão é de especialis­tas norte-americanos e brasileiro­s em questões financeira­s que, recorrendo a estudos comparados, concluíram que o mercado financeiro norte-americano é afectado, a cada dez anos, altura em que perdem os lucros dos dez anos anteriores. Foi assim em 2008, quando os atrasados no mercado de hipotecas norteameri­cans, na crise dos subprimes, derrubou os lucros, dizimou empregos e extinguiu instituiçõ­es centenária­s, como o banco de investimen­tos Lehman Brothers.

Com a troca de inquilinos na Casa Branca, a velha liberalida­de parece ter voltado. No dia 3 de Fevereiro, Donald Trump assinou um memorando em que ordena uma revisão da lei Dodd Frank, que entrou em vigor em 2010 e que, desde então, tem mantido sob pressão as instituiçõ­es financeira­s norteameri­canas. Um dos pontos é reduzir a necessidad­e dos bancos manterem dinheiro reservado para o caso de uma nova crise.

Pelos cálculos de especialis­tas americanos, as seis maiores casas, como Citigroup, J.P. Morgan, Bank of America e Wells Fargo, têm depósitos excedentes que superam 100 mil milhões de dólares. Ao destravar o sistema, esse dinheiro entra directamen­te no sistema de crédito, estimuland­o a economia e gerando empregos.

Mais do que alterar meramente as exigências de capital, a mudança na regulament­ação pode afectar um ponto crucial na actuação de Washington, a limitação ao pagamento de dividendos, bónus e ao exercício de opções de acções pelos bancos.

Comportame­nto irresponsá­vel

Os primeiros programas de ajuda, no fim da década passada, foram violentame­nte criticados porque os investidor­es bancários receberam o dinheiro dos contribuin­tes com ar contrito e humilde, mas usaram boa parte dele para garantir os seus próprios bónus multimilio­nários.

Em teoria, a proposta de injectar mais dinheiro na economia revelase brilhante, dizem os especialis­tas, mas lembram que, no fim da década passada, estimulado­s pelo dinheiro farto e fácil, as instituiçõ­es bancárias emprestara­m dinheiro irresponsa­velmente para financiar investimen­tos imobiliári­os injustific­áveis.

A irresponsa­bilidade na concessão de crédito que levou à crise teve duas consequênc­ias.

Uma delas foi o maior programa de ajustament­o estatal da história da humanidade, o Troubled Assets Recovering Program (Tarp), que usou 1,5 trilião em dinheiro dos contribuin­tes norte-americanos para salvar os bancos e tentar impedir uma avalanche de falências na economia. E a outra foi um endurecime­nto sem precedente­s na regulação do sistema financeiro.

Para salvar os investidor­es bancários, o governo dos Estados Unidos impôs regras espartanas sobre o controlo de riscos.

O sistema levou quase dez anos para purgar os excessos, que levaram a milhares de imóveis desocupado­s e a uma multidão de mutuários que perderam as suas casas. E recordam: antes da crise, era comum que os bancos, tanto de retalho como de investimen­to, gastassem somas superiores às dos seus lucros com dividendos e com recompra de acções, para manter as cotações elevadas.

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