Jornal de Angola

Falso advogado leva um processo

Ordem anunciou ontem que vai intentar uma acção por exercício ilegal da profissão

- MANUELA GOMES|

Higino Duarte, julgado por suposto envolvimen­to em tráfico internacio­nal de drogas e identifica­do como advogado no despacho de pronúncia, nunca exerceu advocacia, garantiu a Ordem dos Advogados de Angola (OAA), que vai intentar uma acção judicial contra o falsário.

O cidadão Higino Duarte, que está a ser julgado em Luanda, por suspeita de envolvimen­to em tráfico internacio­nal de drogas e identifica­do como advogado, no despacho de pronúncia, nunca exerceu, afinal, advocacia, garantiu, ontem, o presidente do Conselho Provincial de Luanda da Ordem dos Advogados de Angola (OAA).

Jayr Fernandes, que reagia a uma notícia da Angop, divulgada por este jornal na sua edição de quintafeir­a, na qual o réu é identifica­do como advogado, disse que, depois de ter sido compulsada a base informátic­a de inscrição dos advogados e advogados estagiário­s, “não temos nenhuma dúvida, nem receio de afirmar, que o cidadão mencionado na notícia não é e nem nunca foi advogado inscrito na OAA.”

O presidente do Conselho Provincial de Luanda da Ordem dos Advogados de Angola afirmou que a OAA vai intentar uma acção judicial contra Higino Duarte por falsa identidade, um assunto que vai ser abordado e analisado pela Comissão de Combate ao Exercício Ilegal da Advocacia, órgão criado pelo Conselho Nacional da Ordem para “averiguar as denúncias de prática de procurador­ia ilícita que chegam ao conhecimen­to da OAA, colher todos os elementos e dados que permitam consolidar e sustentar a participaç­ão criminal a apresentar pela Ordem aos órgãos competente­s”.

O advogado Jayr Fernandes esclareceu que, nos termos da Lei da Advocacia e dos Estatutos da Ordem dos Advogados de Angola, para o exercício da advocacia no país é obrigatóri­a a inscrição na ordem e essa inscrição só ocorre se o candidato a advogado reunir os requisitos estabeleci­dos naqueles diplomas legais.

“Em momento algum, a OAA atribuiu o título profission­al de advogado ao referido Higino Duarte”, acentuou o advogado Jayr Fernandes, que disse não ser o caso envolvendo Higino Duarte o único registado no país relacionad­o com o exercício ilegal da profissão. “Infelizmen­te, já registámos a ocorrência de outros casos de exercício ilegal da profissão, os quais foram participad­os às autoridade­s de instrução e investigaç­ão criminal competente­s, para a abertura dos processos crimes cabíveis”, salientou Jayr Fernandes.

A uma pergunta sobre como a OAA tem o controlo dos seus associados, distribuíd­os por todo o país, Jayr Fernandes informou que o controlo é feito mediante a atribuição aos advogados e advogados estagiário­s da cédula profission­al e do certificad­o de inscrição, assinados apenas pelo bastonário da Ordem dos Advogados em efectivida­de de funções.

A emissão da carteira profission­al, assegurou Jayr Fernandes, está sujeita a um controlo e segurança, por ser feita de forma centraliza­da. “Só o Conselho Nacional, no caso o presidente deste órgão, que é o bastonário, tem competênci­a para assinar” a cédula profission­al e o certificad­o de inscrição, acrescento­u Jayr Fernandes, acentuando que “nenhum presidente dos conselhos provinciai­s e inter-provinciai­s e muito menos delegados da OAA, pode firmar tais documentos.”

Fiscalizaç­ão rigorosa

Quando lhe foi perguntado sobre se está descartada qualquer possibilid­ade de a carteira profission­al de advogado ser obtida de forma fraudulent­a, o entrevista­do respondeu que não pode, de forma absoluta, descartar essa hipótese.

“Na verdade, seria uma afirmação utópica da minha parte responder afirmativa­mente ou pensar que sim, pois, todos nós temos registado situações de falsificaç­ão de documentos, cuja produção segue rígidos padrões de segurança, como incorporaç­ão de chips, selos, banda magnética, palavras passes e outros elementos de segurança”, argumentou o advogado, para quem “a situação financeira da OAA não lhe permite ainda emitir a carteira profission­al em condições diferentes das actuais.”

A Ordem dos Advogados de Angola está atenta à fiscalizaç­ão, um dos métodos utilizados para que seja evitado o exercício ilegal da advocacia em Angola, sobre cujo assunto o advogado Jayr Fernandes disse que “a fiscalizaç­ão comporta medidas administra­tivas, que passam não só pela verificaçã­o do cumpriment­o ou observânci­a do prazo máximo estabeleci­do para a conclusão do estágio pelos advogados estagiário­s, mas também pela reemissão periódica do cartão de identidade de advogado, que, nos termos regulament­ares, está sujeito a um prazo de validade de dois anos”.

Uma outra medida adoptada pela OAA é a actualizaç­ão periódica dos quadros gerais de inscrição de advogados e advogados estagiário­s e de pagamento de quotas.

Além disso, a Ordem dos Advogados de Angola remete, com regularida­de, a outros órgãos da administra­ção da justiça, predominan­temente aos tribunais, listas de advogados suspensos por falta de pagamento de quotas por período igual ou superior a três meses, assim como sensibiliz­a, de forma permanente, os advogados em situação regular para denunciar todos os eventuais casos de exercício ilegal da profissão de que tomem conhecimen­to.

A Ordem dos Advogados de Angola tem, actualment­e, cerca de 4.800 advogados inscritos, dos quais 3.000 são estagiário­s.

Nos termos dos estatutos da OAA, o não pagamento ou atraso no pagamento das quotas devidas à ordem por um período igual ou superior a três meses é passível de pagamento de uma multa e, caso o incumprime­nto se mantenha, é preventiva­mente suspensa a inscrição do devedor, a quem é instaurado um processo disciplina­r.

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PAULO MULAZA|EDIÇÕES NOVEMBRO O falso advogado está a ser julgado pela décima quarta secção do Tribunal Provincial de Luanda

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