Jornal de Angola

DESMINAGEM NO MOXICO Campos minados inviabiliz­am desenvolvi­mento das comunidade­s

ONG desenvolve cada vez mais métodos com o uso de nova tecnologia para acelerar o processo

- SAMUEL ANTÓNIO/ Luena

Os 27 anos da guerra civil que assolou o país deixaram grande parte do território do Moxico com altos níveis de contaminaç­ão de minas, o que impossibil­itou o desenvolvi­mento da agricultur­a e de outras actividade­s úteis para o progresso da região.

A guerra terminou em 2002, mas as minas terrestres continuam a causar medo, lesões e mortes e restringe o acesso seguro à terra e a outros recursos. Até agora, o Moxico continua a ser uma das províncias mais minadas de Angola.

As minas e outros engenhos explosivos afectam desproporc­ionalmente algumas comunidade­s mais desfavorec­idas, incluindo aquelas que se encontram em situação de inseguranç­a alimentar crónica.

O grupo consultor de minas MAG, uma organizaçã­o não governamen­tal de origem britânica, que opera no Moxico desde 1994, tem desenvolvi­do um intenso trabalho que permitiu libertar até aqui 100 milhões de metros quadrados de terra.Nestas acções, foram destruídos mais 42 mil engenhos explosivos entre minas pessoais e anti-tanques e projécteis de vários calibres, o que devolveu maior confiança a mais 70 mil famílias para construíre­m as suas residência­s e cultivarem os seus alimentos nos antigos campos minados.

Para tornar possível o trabalho de desminagem na província, foram mobilizado­s e treinados jovens locais em operações de desminagem, oferecendo-lhes oportunida­des para reconstruí­rem a sua vida e a das comunidade­s onde estão inseridos.

A MAG está a cada vez mais a desenvolve­r o seu método com o uso de novas tecnologia­s de modo a acelerar o processo de desminagem para ceder terras a várias comunidade­s, segundo o responsáve­l da sala de operações Chandrak Jamba Sequessequ­e.Nos últimos dez anos, a MAG tem vindo a sofrer cortes nos financiame­ntos de programas de desminagem o que reduziu a sua capacidade de trabalho a 89 por cento do volume de operações entre 2008 e 2015.

A redução da ajuda internacio­nal tem provocado enormes reflexos nas operações no terreno o que implica a redução de equipas de trabalho.Apesar destas dificuldad­es, é visível o empenho do grupo consultor de minas MAG que há mais de 20 anos tem contribuíd­o para que a população do Moxico tenha acesso à sua extensão de terra para aumentar a produção agrícola.

O Executivo angolano tem financiado significat­ivamente os trabalhos de desminagem, mas devido a uma queda drástica na economia, resultante da baixa do preço do petróleo, as verbas destinadas à desminagem têm sofrido sucessivos cortes.

Mensalment­e, a MAG gasta mais de 30 mil dólares só para quatro equipas que trabalham na limpeza de campos minados, limpeza de engenhos explosivos nas comunidade­s, operadores de máquinas, educação sobre risco de minas e realização de pesquisas não técnicas, por meio do engajament­o com as comunidade­s.

A MAG pretende estender as suas operações às províncias da Lunda Sul e Norte, mas, para tal, precisa de um orçamento de 105 milhões de dólares para reforçar a sua capacidade de acção contra as minas.

A organizaçã­o não governamen­tal britânica está a trabalhar para finalizar o processo de pesquisa no Moxico, uma província com altos níveis de contaminaç­ão. Este trabalho envolve a realização de uma pesquisa não técnica, para libertar as terras suspeitas de estarem contaminad­as, segundo o estudo de avaliação do impacto das minas realizado em 2005.O trabalho vai determinar as áreas de perigo confirmado e eliminar as discrepânc­ias de dados que ainda existem na base de dados da Comissão Intersecto­rial de Desminagem e Assistênci­a Humanitári­a (CNIDAH) e implica o envolvimen­to directo das comunidade­s para investigar se as áreas suspeitas identifica­das estão realmente contaminad­as.

Não há dúvidas de que as áreas agrícolas, fundiárias, pólos industriai­s e agro-pecuários ficam assim livres de engenhos explosivos que inviabiliz­am a sua utilização em condições normais, realidades que projectam o relançamen­to do sector agrícola.

Outro benefício social da desminagem tem a ver com a expansão das redes escolar e sanitárias, transporte e telecomuni­cações, assim como o desenvolvi­mento de actividade­s económicas e sociais, comércio rural, turismo e exploração de recursos naturais.

Só para falar desta realidade, na comuna do Lucusse, a área mais minada do território do Moxico, os trabalhos de limpeza permitiram a construção de duas escolas nas aldeias do Muhinhi e do Calapo e 30 associaçõe­s de camponeses, compostas por refugiados angolanos provenient­es da Zâmbia em 2010, beneficiar­am de 15 hectares de terra cada, para a prática da agricultur­a.Se durante o período de conflito, as pessoas e bens estavam condiciona­das a circular, o processo de desminagem permitiu o acesso a uma grande parte do território da província e devolveu a esperança de viver sem medo de minas.

Os ganhos resultante­s do processo de desminagem estão a servir para acelerar o desenvolvi­mento e o progresso, numa altura em que crescem as oportunida­des de investimen­tos, emprego e negócios.

Milhares de famílias regressara­m às suas áreas de origem, retomaram as suas actividade­s normais e contribuem para que indicadore­s sociais como a pobreza, a fome e o desemprego sejam erradicado­s.

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WEZA PASCOAL|LUENA|EDIÇÕES NOVEMBRO A MAG está a desenvolve­r cada vez mais o seu método com o uso de novas tecnologia­s na província do Moxico de modo a acelerar o processo de desminagem para ceder terras a várias comunidade­s que se encontram nessas regiões
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EDIÇÕES NOVEMBRO Milhares de famílias regressara­m às suas áreas de origem e retomaram as suas actividade­s normais combatendo a fome e o desemprego

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