DESMINAGEM NO MOXICO Campos minados inviabilizam desenvolvimento das comunidades
ONG desenvolve cada vez mais métodos com o uso de nova tecnologia para acelerar o processo
Os 27 anos da guerra civil que assolou o país deixaram grande parte do território do Moxico com altos níveis de contaminação de minas, o que impossibilitou o desenvolvimento da agricultura e de outras actividades úteis para o progresso da região.
A guerra terminou em 2002, mas as minas terrestres continuam a causar medo, lesões e mortes e restringe o acesso seguro à terra e a outros recursos. Até agora, o Moxico continua a ser uma das províncias mais minadas de Angola.
As minas e outros engenhos explosivos afectam desproporcionalmente algumas comunidades mais desfavorecidas, incluindo aquelas que se encontram em situação de insegurança alimentar crónica.
O grupo consultor de minas MAG, uma organização não governamental de origem britânica, que opera no Moxico desde 1994, tem desenvolvido um intenso trabalho que permitiu libertar até aqui 100 milhões de metros quadrados de terra.Nestas acções, foram destruídos mais 42 mil engenhos explosivos entre minas pessoais e anti-tanques e projécteis de vários calibres, o que devolveu maior confiança a mais 70 mil famílias para construírem as suas residências e cultivarem os seus alimentos nos antigos campos minados.
Para tornar possível o trabalho de desminagem na província, foram mobilizados e treinados jovens locais em operações de desminagem, oferecendo-lhes oportunidades para reconstruírem a sua vida e a das comunidades onde estão inseridos.
A MAG está a cada vez mais a desenvolver o seu método com o uso de novas tecnologias de modo a acelerar o processo de desminagem para ceder terras a várias comunidades, segundo o responsável da sala de operações Chandrak Jamba Sequesseque.Nos últimos dez anos, a MAG tem vindo a sofrer cortes nos financiamentos de programas de desminagem o que reduziu a sua capacidade de trabalho a 89 por cento do volume de operações entre 2008 e 2015.
A redução da ajuda internacional tem provocado enormes reflexos nas operações no terreno o que implica a redução de equipas de trabalho.Apesar destas dificuldades, é visível o empenho do grupo consultor de minas MAG que há mais de 20 anos tem contribuído para que a população do Moxico tenha acesso à sua extensão de terra para aumentar a produção agrícola.
O Executivo angolano tem financiado significativamente os trabalhos de desminagem, mas devido a uma queda drástica na economia, resultante da baixa do preço do petróleo, as verbas destinadas à desminagem têm sofrido sucessivos cortes.
Mensalmente, a MAG gasta mais de 30 mil dólares só para quatro equipas que trabalham na limpeza de campos minados, limpeza de engenhos explosivos nas comunidades, operadores de máquinas, educação sobre risco de minas e realização de pesquisas não técnicas, por meio do engajamento com as comunidades.
A MAG pretende estender as suas operações às províncias da Lunda Sul e Norte, mas, para tal, precisa de um orçamento de 105 milhões de dólares para reforçar a sua capacidade de acção contra as minas.
A organização não governamental britânica está a trabalhar para finalizar o processo de pesquisa no Moxico, uma província com altos níveis de contaminação. Este trabalho envolve a realização de uma pesquisa não técnica, para libertar as terras suspeitas de estarem contaminadas, segundo o estudo de avaliação do impacto das minas realizado em 2005.O trabalho vai determinar as áreas de perigo confirmado e eliminar as discrepâncias de dados que ainda existem na base de dados da Comissão Intersectorial de Desminagem e Assistência Humanitária (CNIDAH) e implica o envolvimento directo das comunidades para investigar se as áreas suspeitas identificadas estão realmente contaminadas.
Não há dúvidas de que as áreas agrícolas, fundiárias, pólos industriais e agro-pecuários ficam assim livres de engenhos explosivos que inviabilizam a sua utilização em condições normais, realidades que projectam o relançamento do sector agrícola.
Outro benefício social da desminagem tem a ver com a expansão das redes escolar e sanitárias, transporte e telecomunicações, assim como o desenvolvimento de actividades económicas e sociais, comércio rural, turismo e exploração de recursos naturais.
Só para falar desta realidade, na comuna do Lucusse, a área mais minada do território do Moxico, os trabalhos de limpeza permitiram a construção de duas escolas nas aldeias do Muhinhi e do Calapo e 30 associações de camponeses, compostas por refugiados angolanos provenientes da Zâmbia em 2010, beneficiaram de 15 hectares de terra cada, para a prática da agricultura.Se durante o período de conflito, as pessoas e bens estavam condicionadas a circular, o processo de desminagem permitiu o acesso a uma grande parte do território da província e devolveu a esperança de viver sem medo de minas.
Os ganhos resultantes do processo de desminagem estão a servir para acelerar o desenvolvimento e o progresso, numa altura em que crescem as oportunidades de investimentos, emprego e negócios.
Milhares de famílias regressaram às suas áreas de origem, retomaram as suas actividades normais e contribuem para que indicadores sociais como a pobreza, a fome e o desemprego sejam erradicados.