Autoridades declaram fome
Mais de quatro mil civis fogem todos os dias para o Uganda
O Governo do Sudão do Sul declarou ontem a situação de fome em várias zonas do país, onde cinco milhões de pessoas, metade da população, passa fome.
“Algumas zonas do estado Unidade, no norte do país, estão em situação de fome ou risco de fome, provocada pela guerra que atinge o país há mais de três anos”, declarou o presidente do Escritório Nacional de Estatísticas do Sudão do Sul, Isaiah Chol Aruai.
A declaração de situação de fome é feita depois de um relatório elaborado pelo Governo sudanês e agências da ONU concluir que a prolongada guerra civil e a profunda crise económica que devastou o país e recomendar que fosse declarada situação de fome em dois condados do estado de Unidade.
No documento é referido que mais de 100 mil pessoas em dois condados do estado de Unidade sofrem de fome e há receio que esta se espalhe, com mais um milhão de pessoas à beira da fome.
Cerca de 5,5 milhões de pessoas, ou perto de 50 por cento da população, sofre de insegurança alimentar severa e corre risco de morte nos próximos meses, é indicado no o relatório e acrescentado que quase três quartos de todos os agregados familiares no país têm alimentação desadequada.
O responsável da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), Serge Tissot, concluiu que “os nossos maiores receios tornaram-se realidade” após explicar que a guerra na nação mais jovem do mundo “perturbou o país fértil” e faz com que os civis tenham de depender de quaisquer plantas que consigam encontrar e peixe que consigam apanhar”.
Jeremy Hopkins, da UNICEF, disse que se a ajuda alimentar não chegar urgentemente às crianças “muitas delas vão morrer” porque mais de 250 mil crianças sofrem de malnutrição severa, o que significa que correm risco de morte.
Para Joyce Luma, do World Food Program no Sudão do Sul , “esta fome é feita pelo homem. Há um limite para o que a assistência humanitária pode conseguir na ausência de significativa paz e segurança”, afirmou.
A Missão da ONU no Sudão do Sul revelou, na sexta-feira, “um aumento do fluxo de civis sul-sudaneses a partir para Uganda”. No mesmo dia, o comissário para os refugiados ugandês revelou que cerca de quatro mil sul-sudaneses cruzam as fronteiras todos os dias, a maioria dos quais mulheres e crianças que saídos da cidade de Kajo-Keji.
Quando lutou pela Independência do Sudão, em 1998, o Sudão do Sul sofreu uma fome gerada pela guerra civil. Entre 70 mil e centenas de milhares de pessoas morreram. Mas a declaração de fome de ontem é diferente e as Nações Unidas responsabilizam os políticos do Sudão do Sul pela crise humanitária.