Angola participa na Bienal de Veneza
OBRAS DE ANTÓNIO OLE
Angola participa, de 13 de Maio a 26 de Novembro deste ano, na Bienal Internacional de Arte de Veneza, em Itália, com um projecto de António Ole, um dos mais reconhecidos criadores angolanos, cujo percurso artístico é atravessado pela abordagem de temas como a escravatura e o colonialismo.
Intitulado “Magnetic Memory/Historical Resonance”, o projecto de António Ole tem como comissária a ministra da Cultura, Carolina Cerqueira, e como curadores, além do artista plástico, Maria de Oliveira e Silva e Paulo Kussy Correia Fernandes.
Com uma variedade de exposições realizadas no país e no estrangeiro, António Ole, de 66 anos, tem dividido a sua actividade em diversas disciplinas das artes plásticas, como pintura, escultura, fotografia, aguarela e instalação e o cinema.
No ano passado, a Fundação Calouste Gulbenkian dedicou uma retrospectiva ao artista com obras em diversos suportes, representativas de várias décadas, que revelaram também a produção menos conhecida de António Ole, como o caso da filmografia, iniciada após a independência de Angola (1975) e que se prolongou nas décadas de 80 e 90.
Com exposições em várias instituições internacionais, António Ole participou já em 2013, na 55ª Bienal de Veneza, onde voltou a estar presente em 2015, no Pavilhão de Angola, lado-a-lado com outros jovens artistas angolanos.
Na mostra, na Gulbenkian, intitulada “Luanda, Los Angeles, Lisboa”, o artista plástico angolano disse que ao longo de várias décadas mergulhou no passado para “esmiuçar temas dolorosos” como a escravatura e outras formas de opressão, de “que outros evitavam falar”. “Fazer este mergulho nos arquivos da História dolorosa era um passo fundamental para mim. Ao falar deles, queria livrar-me da má consciência entre as culturas e partir para outro caminho”, justificou.
Nascido José António de Oliveira, em 1951, em Luanda, onde vive e trabalha actualmente, adoptou o nome artístico de “António Ole”, em 1967, aos 16 anos, altura em que realizou a sua primeira exposição de pintura. Estudou cultura afro-americana e cinema na Universidade da Califórnia (UCLA), em 1981 a 1985, obtendo igualmente um diploma pelo Center for Advanced Film Studies.
Em Lisboa, a exposição que lhe foi dedicada no ano passado focava principalmente essa vida tripartida por Angola, Estados Unidos e Portugal. Figura tutelar de uma geração de artistas contemporâneos do seu país, António Ole descende de duas culturas, africana e europeia, herança que assumiu quando se estabeleceu em Los Angeles para estudar e trabalhar na área do cinema. Realizou a sua primeira exposição internacional no Museum of African American Art de Los Angeles, iniciando uma reflexão sobre a escravatura e o colonialismo.
As temáticas que percorrem a maioria da sua obra, o mar, a ilha, a cidade, a arquitectura e as paredes, surgem de uma consciência social, tendo o artista abordado temas incómodos ou mesmo tabu, como a escravatura, com o objectivo de não serem esquecidos, para que o futuro fosse perspectivado de uma nova maneira.
O interesse pela arquitectura dos bairros de lata nos limites de Luanda, os musseques, esteve na base de um trabalho fotográfico realizado antes da Independência de Angola que o levou a captar imagens de pessoas anónimas e das suas casas feitas da justaposição de material diverso, como restos de madeira ou chapas de lata.
Mais tarde, António Ole incorporou essa dinâmica no seu trabalho, fazendo as suas próprias criações e modificações a partir de material recolhido nas ruas. António Ole recebeu diversos prémios de arte em Angola, Portugal e Cuba e a sua obra encontra-se presente em muitas colecções públicas em Portugal, Angola, África do Sul, Estados Unidos da América, Alemanha e Cuba.
A 57.ª Exposição Internacional de Arte Contemporânea da Bienal de Veneza decorre este ano com a participação de 57 países.