VÁRIOS RITMOS - UM ÚNICO OBJECTIVO Começa a festa por todo o país
A partir de amanhã e durante três dias, reis e rainhas, dançarinos e foliões, vão todos à Marginal da Praia do Bispo mostrar o resultado de semanas de preparação, num desfile que se espera renhido, tendo em conta a diversidade de ritmos em competição.
Entre os 14 candidatos ao título, alguns defendem o seu favoritismo pelos anos de experiência, outros o fazem pelo que constataram nos ensaios e prepararam para o público este ano. Surpresas, prometeram, a maioria não vão faltar, apesar das dificuldades financeiras.
O semba, o estilo predominante da maioria dos grupos candidatos, aparece como um dos favoritos, apesar de a cabecinha, dizanda e a kazukuta, pela sua “peculiaridade”, receberem “atenção especial” do público e dos júris da classe A.
Com o apoio financeiro do Ministério da Cultura já em mão, embora, pela opinião de todos os presidentes dos grupos, muito tardiamente, os preparativos aceleraram e após semanas de ensaio e de aprimoramento das coreografias e vestimentas só falta este final de semana e a segunda-feira para vermos quem fica este ano com a “coroa” de melhor do Carnaval de Luanda.
Pelo que mostraram nos ensaios este ano as apostas vão ser altas e favoritos são todos os grupos, desde o momento em que chegarem à pista do desfile até depois de passarem pelo “crivo” dos especialistas e do próprio público, que com vaias ou assobios também consegue influenciar, um pouco, a opinião do júri.
Canção, dança, corte, painel, alegoria, comandante e falange de apoio são os pontos chaves sobre os quais o júri avalia o “desempenho em pista” de cada um dos grupos, que na classe A, como na B e C.
Para muitos este ano é o decisivo para se auto-avaliarem, como é o caso do Kabocomeu, um dos “grandes” do Carnaval de Luanda, que o ano passado desfilou na classe B, mas conseguiu estar entre os três primeiros e obter um lugar para dançar no acto central. Na mesma situação está o 54. Uma das surpresas deste ano é o União Recreativo Kilamba, resultante da saída de alguns dançarinos do Sagrada Esperança e que o ano passado deu provas da sua qualidade na classe B, onde foi o primeiro classificado. Além destes estão de volta ao despique principal o União Twabixila e o Etu Mudietu.
Outros como o Mundo da Ilha, ou o 10 de Dezembro e o Kiela têm de provar de novo o seu mérito na “festa do povo”. Vencedores de mais de três edição, estes grupos vivem actualmente com o sonho de voltarem a ser “grandes” no Carnaval de Luanda. Para isso, os ensaios foram regulares e começaram mais cedo, apesar de viverem problemas de organização, causado pela saída de alguns dos seus dançarinos, devido a requalificação urbana da cidade capital, como é o caso do Mundo da Ilha. Mas, como defendem muitos deles, “dançar o Carnaval já está no sangue” e mesmo com a distância, muitos voltaram para ensaiar com os antigos colegas.
O “palco” do desfile já está pronto há semanas. A organização criou condições para os grupos poderem dançar a vontade e o público estar acomodado para assistir o que cada um preparou. A questão da segurança também está garantida pela Polícia Nacional e o corpo de Bombeiros, assim como um serviço de saúde móvel.
Aposta feminina
Força de vontade, determinação e empenho, são as poucas palavras para descrever a preparação dos grupos, que durante semanas, ensaiaram afincadamente para o acto central do Carnaval de Luanda, que acontece a próxima terça-feira, dia 28.
A participação feminina na festa é um facto real e um motivo de elogio à todas as mulheres angolanas, em especial aquelas que durante anos estão a frente dos grupos e tornam real a festa, com os poucos recursos financeiros a sua disposição.
Como bessanganas, dançarinas, rainhas, médicas da corte, coreografas ou cantoras, estas senhoras têm ajudado a preservar e divulgar certos costumes tradicionais, como o xinguilamento, no Carnaval de Luanda. Uma referência é Maria Luísa José, a tia Neide do Twabixila, que, mesmo sem muito apoio, garante que o grupo vai à Marginal com tudo. “Este ano vamos vencer”, disse. Durante semanas, a responsável, que assim como Milda e Tete, são os “rostos” do único grupo da Caope B, em Viana, procurou apoio, e conseguiu uns poucos dos negociantes do bairro, para fazer as suas roupas especiais. “Dançamos a dizanda. É um estilo muito diferente que requer indumentária apropriada. As saias, por exemplo, são feitas com espelhos e uma armação para dar maior enchimento. Outro problema na sua feitura são os kipaxis (retalhos ou remendos de outros tecidos), porque requerem muito cuidado e tempo da modista e do alfaiate.”
Para suprir as dificuldades financeiras, contou, recorreu aos negociantes de cantina e de padarias locais. “Os empresários levam muito tempo para responder ao pedido e isso cria muitas dificuldades, porque preferimos estar preparados com antecedência”, disse, acrescentando que têm estado preocupado com o legado a ser deixado para a próxima geração de dançarinos. “Queremos construir uma sede condigna para o grupo, onde poderemos assegurar o futuro da dizanda, uma das poucas danças diferentes do Carnaval de Luanda, dominado maioritariamente pelo semba.”
Tia Neide também lamentou o facto de o grupo aos poucos perder boa parte dos seus integrantes, que deixam o bairro em busca de melhores condições e acabam por desistir de dançar o Carnaval.
“Alguns jovens acreditam que o Carnaval seja algo para os mais velhos. É um erro que precisa ser invertido, porque senão, dentro de anos, teremos poucos grupos a fazerem a festa”, perspectivou.
O vencedor
Com o peso de ter de preservar o título em sua posse, o União Njinga Mbandi ensaiou com regularidade. Todos os dias, depois dos Cassules, os adultos colocavam as suas roupas e no campo de futebol da Regedoria davam os últimos acertos, de um ensaio de meses. A semana passada, a ministra da Cultura, Carolina Cerqueira, visitou o espaço onde estes aprimoram os seus passos para os incentivar e averiguar como decorrem os preparativos.
Sobre a responsabilidade de Toni Mulato, o grupo fez ajustes nos seus ensaios, de forma a ter o máximo possível de dançarinos diariamente. “Depois de meses estamos prontos para revalidar o título”, disse, além de adiantar que é altura de transformar o Carnaval numa festa mais rentável para todos os envolvidos na maior manifestação cultural do país.
A formação e a continuação do legado, voltou a garantir, está assegurado. “Sempre foi uma das preocupações do grupo, para que a cabecinha seja sempre parte da história do Carnaval de Luanda.”