Resultados dependem de boa planificação
ELIMINAÇÃO DO 1º DE AGOSTO Desajuste do calendário pode ser apenas parte das razões do insucesso
Chegada a hora de fazer contas à vida, após mais uma eliminação precoce de um representante angolano nas competições africanas de futebol, no caso o 1º de Agosto, é inegável reconhecer que mais tempo de campeonato seria, no capítulo teórico, equivalente a maior rodagem competitiva e, por arrasto, mais elevada qualidade no desempenho da equipa em campo.
A indispensável comparação, entre mais de dez jornadas disputadas pelo Kampala City, no Campeonato do Uganda, e os 90 minutos jogados pelos militares, na supertaça de Angola, deixam bons motivos para, numa avaliação simplista, rapidamente diagnosticarmos a programação da nossa temporada desportiva como a causa de todos os males que afectam o desporto rei intramuros.
No entanto, no complexo processo de preparação desportiva há que se ter em conta múltiplos aspectos e todos eles susceptíveis de deitar a perder todo o trabalho, independentemente do peso que, aparentemente, possui cada um deles em toda a engrenagem.
E, embora as temporadas sejam diferentes, não é demais recordar que na década de 90, período em que os clubes angolanos chegaram a três finais continentais, protagonizando o melhor desempenho de sempre nas provas africanas, a programação era igual ou muito semelhante à actual.
Ou seja, muito mais há por analisar, se quisermos de facto diagnosticar os males que enfermam o futebol nacional, a começar pela definição dos objectivos desportivos. As metas para cada temporada não devem ser estabelecidas pelo simples facto de termos mais dinheiro, mais recintos desportivos ou o ego mais elevado, a ponto de sustentarmos o nosso orgulho com maiores conquistas desportivas.
Sendo verdade que, pela sua natureza, o desporto leva implícita a superação constante, da mesma maneira se impõe a elaboração de programas de desenvolvimento de diversas disciplinas desportivas, que assegurem o crescimento qualitativo e sustentável.
Daí, em comparação com a concorrência, poderemos então arvorar-nos ao direito de eleger objectivos de performance mais ambiciosos, cientes de que criamos, previamente, uma sólida base de sustentação para esse efeito.
Fora deste âmbito podem, de forma aleatória, aparecer bons resultados desportivos. Até porque, como atrás referimos, muitas variantes intervêm para a obtenção do êxito. Porém, se a cientificidade dos procedimentos comandar as nossas linhas de acção, sem dúvida, devemos reconhecer que, internamente, pouco se fez para augurarmos, no imediato, a supremacia das nossas equipas sobre os competidores, no contexto africano.
Mesmo reconhecendo que o 1º de Agosto leva a cabo um louvável trabalho de formação, no futebol, não deixa de ser claro que esse esforço do clube militar, no âmbito de uma nação com mais de 20 milhões de habitantes, é insuficiente. Se acrescermos o esforço de outras instituições desportivas com tradição na formação de futebolistas, resta ainda questionar até que ponto o nível de conhecimento dos treinadores que orientam os mais novos satisfaz a procura.
Isso porque, ao contrário de outros desportos que a nível internacional elevam o nome do nosso país, ainda hoje, no futebol jovem, a prospecção sob repõe-se à formação. Ou seja, mais facilmente se aproveitam as qualidades que os praticantes trazem dos bairros, do que se modifica o seu comportamento, visando o alto rendimento no futebol.
Finalmente, a planificação desportiva dos nossos representantes deve obedecer aos “reais” objectivos desportivos definidos e assumidos por todos os integrantes. Porque, naturalmente, se a meta principal for a competição africana, logo no início desta prova, dado o seu grau de dificuldade, a equipa deve(ria) estar próximo do seu melhor para poder vingar, mesmo colocando em risco as metas no longo e desgastante Girabola ZAP.
Isso significava, igualmente, ter todas as unidades disponíveis, em tempo útil, para que a equipa técnica pudesse garantir o entrosamento das unidades. Ou seja, os gestores desportivos que não conseguiram fechar contratos e resolver questões administrativas e financeiras em tempo útil, para o bom desenrolar do trabalho técnico, não se podem isentar de culpas na eliminação do clube das competições africanas.
Na realidade, se a descrença num bom desempenho nas provas africanas leva à subalternização desta competição (ainda que de forma dissimulada), então mais vale poupar o dinheiro e apontar todas as baterias para as competições internas.