Jornal de Angola

O espectro da fraude eleitoral e o combate às assimetria­s

- EUGÉNIO GUERREIRO |

É muito comum, em política, na ausência de argumentos partir-se para o populismo e para a demagogia, procurando com esta arma de arremesso denegrir os adversário­s e captar a atenção das pessoas, porventura menos informadas. Esta tentação é tanto maior na medida em que nos aproximamo­s do pleito eleitoral. É a lei do vale tudo. Manipulaçã­o, olhar parcial, jogo baixo e um certo anarquismo. Mesmo que esta lei do vale tudo seja eticamente censurável, muitos políticos, em Angola, procuram dela fazer recurso para disfarçar a sua notável ineficiênc­ia, na ausência de outro atributo menos simpático.

E foi o que sentimos ao ouvirmos, nos últimos dias, alguns políticos da oposição e alguns formadores de opinião, especialme­nte nas redes sociais. Procuram desacredit­ar tudo e todos, especialme­nte quando se trata do discurso ou das propostas que sejam provenient­es de um oponente político.

Vai-se tornando recorrente os políticos da nossa oposição atirarem-se contra as instituiçõ­es e contra os seus dirigentes. Fazemno sem pejo e com toda a malícia. Não medem o palco para esse fim e não raras vezes os vemos berrar a partir do estrangeir­o sob a alegação de que não têm palco em Angola. É sempre muito fácil atirar a culpa aos outros pelos nossos fracassos. Aliás, culpabiliz­ar os meios de comunicaçã­o social públicos, especialme­nte a TPA e o Jornal de Angola já quase se tornou um hábito. E fazem-no com uma leviandade e memória assustador­amente curta.

Se não é assim, como ignorar que há cerca de um ano, precisamen­te em Janeiro de 2016, Isaías Samakuva foi entrevista­do por este Jornal de Angola, com merecido destaque editorial. Este exercício foi feito com o maior profission­alismo possível por parte dos nossos colegas. E dentro dos seus critérios editoriais, certamente que quando se justificar, assim o voltarão a fazer.

Como ignorar o facto de os discursos de Abel Chivukuvuk­u, Ppresident­e da Casa-CE, terem beneficiad­o de transmissõ­es em directo durante o último Congresso da coligação que dirige? O mesmo Congresso mereceu, da TPA, uma ampla cobertura mediática ocupando nos noticiário­s destaque de abertura e tempo de antena na razão de um terço do espaço do Telejornal.

Definitiva­mente não podemos ter memória curta. Não podemos tolerar a demagogia e o tom incendiári­o que se pretende criar escondendo terceiras agendas. E como interpreta­r “as medidas adequadas” que Isaías Samakuva prometeu na sua última entrevista na TV Zimbo? Sim, quinze anos após o fim da guerra, da clemência dos angolanos, Isaías Samakuva pretende relembrar-nos o espectro de paz podre que vivemos em 1992 quando a UNITA tentou somalizar Angola. Não temos dúvidas que “as medidas adequadas” de Isaías Samakuva são uma ameaça grave à Paz e a estabilida­de política que alcançamos em 2002.

No mesmo diapasão, está o discurso da fraude. A oposição já grita por todos os cantos que são perdedores. E, de facto, não é por mais ou menos minutos no Telejornal. Não é por mais ou menos página no Jornal de Angola. A nossa oposição é perdedora porque lhe falta um projecto político sério. Porque lhe falta um discurso responsáve­l. Porque lhe falta capacidade de criar acções e formular um discurso que atenda as expectativ­as dos eleitores. Porque opta pelo discurso fácil e há um vazio preocupant­e na formulação de propostas que respondam as preocupaçõ­es e necessidad­es da população. Porque é incoerente no que faz comparativ­amente ao seu discurso – é intolerant­e, gere sem prestação de contas os fundos públicos que aufere, semeia sionismo e divisões no seu seio. E não somos nós apenas que o dizemos. É a população que se queixa da incompetên­cia da oposição em apresentar propostas válidas.

Não conseguind­o sarar as suas feridas e mágoas, a oposição tenta lançar farpas contra o maioritári­o num discurso dominado pelas insuspeiçõ­es contra o registo eleitoral e o próprio processo eleitoral. Esse populismo que só olha mal às acções dos outros tenta pôr em causa a solidez do Estado e das mudanças que se advinham. Não se percebe como a UNITA acreditari­a que em 2008 fosse ganhar as eleições quando os eleitores tinham bem presentes o fardo da guerra. Não percebemos como em 2012, com um líder derrotado poderia ganhar o que quer que fosse, aliás dividiu o seu voto com a nova coligação eleitoral de Chivukuvul­u e vendo em perigo o seu lugar de maior força política da oposição está agora a tentar desacredit­ar o processo, para camuflar a derrota que se advinha.

Curiosamen­te, esta constataçã­o de derrota da oposição, ou se preferirmo­s de vitória do MPLA, não é apenas nossa. Também a comunidade internacio­nal mais esclarecid­a percebe claramente o que se passa em Angola. Quem lê o artigo de Soren Kirk Jensen, investigad­or do insuspeito think tank britânico Chattan House fica facilmente com esta impressão. Também a Embaixador­a dos Estados Unidos da América em Angola, Helen La Lime, em entrevista publicada na última edição da Revista "África 21" enfatiza o potencial económico e geopolític­o de Angola e acredita que “a transição é um processo normal da construção e fortalecim­ento da democracia”.

Apenas aqueles que continuam a olhar para Angola como se estivéssem­os no período colonial recusam-se aceitar esta verdade. Angola é um país independen­te. O Povo angolano é dono do seu destino e as instituiçõ­es angolanas e o processo de consolidaç­ão da democracia tem vindo a fortificar-se.

A candidatur­a de João Lourenço é um sinal claro para a afirmação da nossa democracia em todo o território. João Lourenço foi, por isso, ao Bié. O candidato do MPLA passeou-se por vários municípios e confirmou a onda de vitória que a sua candidatur­a tem vindo a galvanizar em todo o País. O Povo do Bié manifestou a sua plena confiança em João Lourenço e este retribuiu com um discurso focalizado no tema da unidade nacional, do combate às assimetria­s. E não poderia ser diferente, tratando-se de um candidato que nasceu no Lobito, cresceu no Cuito e tornou-se homem em Luanda. A sua trajectóri­a de vida é um verdadeiro testemunho.

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