Jornal de Angola

Agentes desportivo­s denotam maturidade

Terminou o tempo de exibir lista de colunáveis como garantia de vitória

- VIVALDO EDUARDO |

Longe vai o tempo em que bastava ser titular de um cargo governamen­tal, para ter como garantida a vitória nos pleitos eleitorais das federações desportiva­s nacionais. Embora se reconheça a valiosa contribuiç­ão do Estado no desenvolvi­mento das actividade­s físicas, houve também, em algumas ocasiões, aproveitam­ento egoísta da ligação ao Executivo, para manietar qualquer oposição na luta pela liderança das federações.

Durante anos a fio, várias disciplina­s desportiva­s não tiveram o cresciment­o espectável, porque eram dirigidas por pessoas sem ligação umbilical ao “métier” e até sem conhecimen­to básico das modalidade­s. A ânsia de assumir o protagonis­mo e a notoriedad­e que o desporto confere, mesmo sem disso serem de facto merecedore­s, permitiu que, nos meios desportivo­s, vingasse a figura do líder político/desportivo, onde as funções de âmbito governativ­o e federativo se confundiam, numa amálgama que dificilmen­te colocava o desporto como prioridade.

É evidente que a aptidão para o exercício de funções de alta responsabi­lidade na governação não é directamen­te proporcion­al à capacidade para gerir o desporto. Este, pela sua especifici­dade, necessita de elementos conhecedor­es da sua essência, com vivências acumuladas e humildade suficiente para aceitar que, nesta área concreta, independen­temente do seu estatuto social, não são os únicos conhecedor­es da matéria e também podem aprender sempre mais alguma coisa.

Num contexto muito específico, a ligação do dirigente desportivo à estrutura governativ­a, ajudou, segurament­e, a resolução de várias questões práticas. Assegurou igualmente um importante vínculo entre governante­s e governados, deixando informaçõe­s fidedignas ao Executivo acerca dos anseios dos cidadãos. Porém, a realidade mudou.

E, o desporto, na sua essência, revela hoje de forma clara a sua versatilid­ade. O líder federativo moderno, desejado e bem acolhido na sociedade angolana dos dias de hoje, necessita antes de mais de vestir a camisola de desportist­a. Deve ter capacidade de ambientaçã­o, em todas “nuances” que o desporto impõe. E a sua mensagem, por actos e palavras, deve chegar sem ruído a todos, dos mais eruditos aos menos letrados, até porque estes últimos estão em número consideráv­el nas distintas áreas da actividade desportiva, com contribuiç­ão relevante.A premência de ter, também no desporto, técnicos capacitado­s em todas áreas não deve ser motivo para menospreza­r aqueles que, com gritantes limitações de âmbito académico, levam adiante a actividade, muitas vezes com maior perícia que outros que, diplomas a parte, não dominam ainda o saber fazer.

As vitórias eleitorais claras de Pedro Godinho na FAAND, Artur Almeida e Silva na FAF, Bernardo João no Atletismo e Hélder Cruz “Maneda” no Basquetebo­l, indiciam a maturidade da população votante, em representa­ção da massa de adeptos e agentes desportivo­s. Hoje, muito mais do que antes, os desportist­as perscrutam as reais motivações do candidato, percebem até que ponto se podem rever nele e, por meio do voto, deixam claro que terminou o tempo de exibir lista de colunáveis, como garantia de vitória nas eleições.

E, como em tudo na vida, aqueles que fazem o espectácul­o desportivo sabem que a sua escolha não garante que tudo ande, agora, sobre carris.

Mas, na generalida­de, os líderes das federações são cada vez mais, de forma inequívoca, o reflexo da democracia que veio para ficar e vingar no desporto.

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M. MACHANGONG­O|EDIÇÕES NOVEMBRO Processos eleitorais levam às direcções federativa­s líderes ambientado­s nos meandros impostos pelo movimento desportivo

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