Agentes desportivos denotam maturidade
Terminou o tempo de exibir lista de colunáveis como garantia de vitória
Longe vai o tempo em que bastava ser titular de um cargo governamental, para ter como garantida a vitória nos pleitos eleitorais das federações desportivas nacionais. Embora se reconheça a valiosa contribuição do Estado no desenvolvimento das actividades físicas, houve também, em algumas ocasiões, aproveitamento egoísta da ligação ao Executivo, para manietar qualquer oposição na luta pela liderança das federações.
Durante anos a fio, várias disciplinas desportivas não tiveram o crescimento espectável, porque eram dirigidas por pessoas sem ligação umbilical ao “métier” e até sem conhecimento básico das modalidades. A ânsia de assumir o protagonismo e a notoriedade que o desporto confere, mesmo sem disso serem de facto merecedores, permitiu que, nos meios desportivos, vingasse a figura do líder político/desportivo, onde as funções de âmbito governativo e federativo se confundiam, numa amálgama que dificilmente colocava o desporto como prioridade.
É evidente que a aptidão para o exercício de funções de alta responsabilidade na governação não é directamente proporcional à capacidade para gerir o desporto. Este, pela sua especificidade, necessita de elementos conhecedores da sua essência, com vivências acumuladas e humildade suficiente para aceitar que, nesta área concreta, independentemente do seu estatuto social, não são os únicos conhecedores da matéria e também podem aprender sempre mais alguma coisa.
Num contexto muito específico, a ligação do dirigente desportivo à estrutura governativa, ajudou, seguramente, a resolução de várias questões práticas. Assegurou igualmente um importante vínculo entre governantes e governados, deixando informações fidedignas ao Executivo acerca dos anseios dos cidadãos. Porém, a realidade mudou.
E, o desporto, na sua essência, revela hoje de forma clara a sua versatilidade. O líder federativo moderno, desejado e bem acolhido na sociedade angolana dos dias de hoje, necessita antes de mais de vestir a camisola de desportista. Deve ter capacidade de ambientação, em todas “nuances” que o desporto impõe. E a sua mensagem, por actos e palavras, deve chegar sem ruído a todos, dos mais eruditos aos menos letrados, até porque estes últimos estão em número considerável nas distintas áreas da actividade desportiva, com contribuição relevante.A premência de ter, também no desporto, técnicos capacitados em todas áreas não deve ser motivo para menosprezar aqueles que, com gritantes limitações de âmbito académico, levam adiante a actividade, muitas vezes com maior perícia que outros que, diplomas a parte, não dominam ainda o saber fazer.
As vitórias eleitorais claras de Pedro Godinho na FAAND, Artur Almeida e Silva na FAF, Bernardo João no Atletismo e Hélder Cruz “Maneda” no Basquetebol, indiciam a maturidade da população votante, em representação da massa de adeptos e agentes desportivos. Hoje, muito mais do que antes, os desportistas perscrutam as reais motivações do candidato, percebem até que ponto se podem rever nele e, por meio do voto, deixam claro que terminou o tempo de exibir lista de colunáveis, como garantia de vitória nas eleições.
E, como em tudo na vida, aqueles que fazem o espectáculo desportivo sabem que a sua escolha não garante que tudo ande, agora, sobre carris.
Mas, na generalidade, os líderes das federações são cada vez mais, de forma inequívoca, o reflexo da democracia que veio para ficar e vingar no desporto.