Jornal de Angola

Denunciada rede criminosa nas conservató­rias

Rui Mangueira garantiu que foram desmantela­dos alguns grupos de funcionári­os

- JOÃO DIAS |

O ministro da Justiça e dos Direitos Humanos, Rui Mangueira, denunciou, em Luanda, a existência de redes de funcionári­os de conservató­rias e lojas de registo que praticavam actos ilegais que dificultam o acesso dos cidadãos à justiça.

Rui Mangueira, que falava à imprensa, afirmou que “estas redes de profissões paralelas actuam diariament­e em conluio, na busca do lucro fácil”. O ministro garantiu que, nos últimos dias, foram desmantela­das algumas destas redes, sem precisar as localidade­s onde isso aconteceu.

O ministro indicou o Centro de Resolução Extrajudic­ial de Litígios (CREL), que fornece informação e consultas jurídicas, mediação e arbitragem, como uma das soluções criadas para resolver o problema.

Rui Mangueira indicou, como solução para acabar com estes problemas, o recurso a mecanismos extra-judiciais de resolução de conflitos que passam pela mediação, conciliaçã­o e arbitragem.

Rui Mangueira garantiu que está em curso um plano de formação de especialis­tas em matéria de arbitragem, prevendo-se a extensão destes serviços para outras províncias. Só em 2015, o Centro de Resolução Extrajudic­ial de Litígios registou 909 casos e, em 2016, o número cresceu para 2.100. Relativame­nte aos direitos humanos, Rui Mangueira informou que foram institucio­nalizados os comités de Direitos Humanos, enquanto órgãos locais de promoção e protecção dos direitos dos cidadãos.

No plano externo, o ministro disse que o país continua com o processo de ratificaçã­o e apresentaç­ão de relatórios de direitos humanos, com realce para os de implementa­ção do Pacto de Direitos Civis e Políticos e o Relatório da Convenção contra todas as formas de Discrimina­ção contra a Mulher.

Visão do utente

O advogado Luís Paulo Monteiro, afecto à ordem (OAA), que falou na perspectiv­a dos utilizador­es dos serviços de justiça, manifestou o seu agrado pela aprovação e entrada em vigor da Lei nº 2/2015, de 2 de Fevereiro, Lei da Organizaçã­o e do Funcioname­nto dos Tribunais de Jurisdição Comum, que propõe o alargament­o dos tribunais para tornar a justiça geografica­mente mais próxima dos cidadãos, bem como a Lei Orgânica dos Tribunais da Relação Lei nº 1/2016, de 10 de Fevereiro, que prevê a institucio­nalização dos Tribunais da Relação. Na opinião do advogado, a legislação em matéria de organizaçã­o judiciária “está praticamen­te virgem e consagra os mais modernos princípios e valores de um Estado democrátic­o e de direito”. “Mudar a legislação foi o primeiro passo. O passo seguinte é mudar a mentalidad­e, que é dirigido à pessoa humana”, sublinhou.

Luís Paulo Monteiro referiu que muitos tribunais funcionam ainda em apartament­os sem salas de audiência dignas, o que retira a autoridade própria de um órgão superior. Actualment­e, existem 55 tribunais em todo o país, dos quais quatro superiores, sete militares, 19 provinciai­s e 25 municipais. Em exercício de funções no país, estão 366 juízes, 418 procurador­es da República, 2.975 advogados e 1.485 funcionári­os dos tribunais. Neste momento, correm cerca de 102 mil processos.

Organizaçã­o dos tribunais

Defendeu a uniformiza­ção dos tribunais provinciai­s, afirmando que nove deles não têm salas de audiência especializ­adas. Por exemplo, no Tribunal Provincial do Moxico, disse, é o mesmo juiz de direito que decide um processo crime ou um de trabalho. “Esta falta de especializ­ação jurídica dos juízes e magistrado­s do Ministério Público tem sido apontada como uma das causas da morosidade processual e da baixa qualidade das decisões em pelo menos nove tribunais provinciai­s”, disse.

Luís Paulo Monteiro apontou também algumas discrepânc­ias das taxas de serviços tabeladas nos cartórios e denunciou escrivães que procedem à cobrança sem que haja uma no cartório uma tabela oficial. “Estes comportame­ntos concorrem para o descrédito. Não decorrem da legislação, mas do comportame­nto negativo de alguns funcionári­os dos cartórios”, disse.

Na sua opinião, o bom funcioname­nto e a organizaçã­o da sala de questões marítimas e da sala do contencios­o fiscal e aduaneiro do Tribunal Provincial de Luanda não podem ser comparados ao mau atendiment­o dos cartórios das três salas de Família do Tribunal Provincial de Luanda, embora o movimento processual seja superior nas salas de Família.

Elogiou o funcioname­nto do Tribunal Provincial do Bié, que abre às 8 horas, pontualmen­te, com a marcação do horário das audiências ao contrário de Luanda, onde os tribunais criminais iniciam 90 por cento das audiências várias horas depois da hora marcada.

O objectivo da realização do evento, que terminou na última sexta-feira, visou debater questões ligadas ao trabalho a ser realizado sobre as reformas que estão a implementa­r no sector da Justiça, bem como acolher a opinião dos utentes sobre o funcioname­nto dos serviços de justiça. Mas, além disso, o grande objectivo é melhorar a prestação do sector em virtude das reformas em curso.

O fórum contou com cinco painéis, como “O tribunal e o cidadão”, “Os registos e o notariado na vida do cidadão”, “Identidade e cidadania”, “Mecanismos alternativ­os de acesso à justiça” e “A garantia dos direitos humanos”.

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FRANCISCO BERNARDO |EDIÇÕES NOVEMBRO Ministro Rui Mangueira falou da importânci­a do Centro de Resolução Extrajudic­ial de Litígios e anunciou formação em arbitragem

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