Imigração ilegal tem ajuda local
O governador provincial da Lunda Norte denunciou no Nzagi, município do Cambulo, a existência de cumplicidade de alguns sobas e líderes religiosos no auxílio à imigração ilegal naquela província diamantífera. Ernesto Muangala, que falava segundafeira durante um encontro com membros do Conselho de Auscultação e Concertação daquele município, disse que se chegou a essa conclusão depois de diligências feitas pelo Serviço de Investigação Criminal (SIC), em coordenação com os distintos órgãos de defesa e segurança.
Segundo o governador, os estrangeiros ilegais, sobretudo provenientes da vizinha República Democrática do Congo, são ajudados por comités de recepção organizados por cidadãos nacionais em que estão presumivelmente envolvidos sobas e responsáveis de seitas religiosas que conhecem as áreas potencialmente diamantíferas.
Ernesto Muangala alertou para o facto de a conivência dos angolanos na imigração ilegal representar uma autêntica ameaça à soberania, segurança e à economia nacional. Uma das consequências da imigração clandestina, disse, é a atribuição ilegal de nacionalidade angolana aos estrangeiros que, por via disso, conseguem emprego em instituições de crucial importância para o Estado. O governador afirmou que o fenómeno da imigração clandestina na Lunda Norte está directamente rela- cionado com a extracção e tráfico ilícito de diamantes. Lembrou que os cidadãos nacionais que facilitam a entrada e a permanência de estrangeiros em situação migratória ilegal são punidos nos termos da lei, sem qualquer trégua. “Não fica bem um soba ou líder religioso estar a contas com a justiça por facilitar a imigração ilegal, mas todos que estão envolvidos nesse fenómeno vão ser punidos nos termos da lei”, avisou.
Dados fornecidos ao Jornal de Angola pela 7.ª Unidade da Polícia de Guarda Fronteira da Lunda Norte que tem sob a sua jurisdição o controlo de 490 dos 770 quilómetros da extensão fronteiriça com a República Democrática do Congo (RDC), revelam que, pelos serviços operati- vos realizados durante a semana passada, foram travados 57 casos de violação do limite fronteiriço.
Os casos de tentativa de violação da fronteira permitiram a detenção de 773 cidadãos da RDC, dos quais 62 mulheres acompanhadas de 13 crianças. Os estrangeiros em situação migratória ilegal eram provenientes das aldeias fronteiriças de Shakombe, Shaimbuanda, Tshiundo, Kandjagi, Mayanda, Kamakó, Botcha, Kubungo, Kabuakala, Kavumbo Tshissengue e Kassa-May.
O Serviço de Migração e Estrangeiros (SME) já procedeu ao seu repatriamento. O mau estado das vias de acesso constitui um dos factores que fragilizam as medidas de cobertura da zona fronteiriça na Lunda Norte, uma das regiões que mais sofrem com a imigração ilegal, em função dos seus recursos minerais, entre eles o diamante. A fronteira da Lunda Norte com a RDC é das mais extensas do país, com 650 quilómetros terrestres e 120 fluviais que totalizam 770. “Até agora, o patrulhamento ao longo das zonas fronteiriças é feito de uma forma apeada ou náutica, devido à inexistência de picadas”, refere o documento enviado ao Jornal de Angola, em que se pode ler: os estrangeiros entram em território angolano durante a noite.
Apesar dos investimentos que o Executivo está a fazer para a segurança das fronteiras, são necessários mais recursos para dinamizar o trabalho do efectivo. A fronteira da Lunda Norte com a RDC é a mais vulnerável à entrada de estrangeiros ilegais. O encontro com os membros do Conselho de Auscultação e Concertação do município serviu para o governador apresentar o novo delegado do Ministério do Interior e comandante provincial da Polícia Nacional. Além da apresentação do comissário Alfredo Lourenço “Nilo”, outro objectivo da deslocação do governador ao município do Cambulo foi o de proceder à inauguração de uma nova esquadra policial construída no bairro Chico Guerreiro.
A esquadra foi inaugurada no quadro das comemorações do 42.º aniversário da Polícia Nacional, assinalado ontem. A construção da nova esquadra policial no Cambulo foi patrocinada por um empresário local.