Jornal de Angola

Acesso à habitação está mais facilitado

Executivo defende juros bonificado­s para créditos destinados à aquisição de moradias para permitir a realização do sonho de casa própria a todos os cidadãos

- EDIVALDO CRISTÓVÃO |

O Programa Nacional de Urbanismo e Habitação implementa­do pelo Executivo desde 2008 constituiu um instrument­o estratégic­o para a garantia de condições dignas de habitação para as famílias angolanas. O Jornal de Angola apurou que, em fase de conclusão, estão, neste momento, mais de 170 mil casas sociais em todo o país.

Das 15 centralida­des projectada­s nas províncias de Luanda, Cabinda, Benguela, Bengo, Lunda Norte, Namibe e Huíla, cuja gestão está confiada à Imogestin, sete estão concluídas e oito em fase de acabamento.

Das oito centralida­des iniciadas pela KORA nas províncias do Uíge, Cuanza Sul, Huambo, Bié e Moxico, foram concluídas três e estão em curso cinco. Em fase de comerciali­zação encontram-se as centralida­des do Lossambo no Huambo, do Dundo na Lunda Norte e do Chibodo Um em Cabinda.

Também em curso e em fase avançada estão as obras de infraestru­turas externas nas centralida­des de Benguela (Catumbela, Lobito e Baía Farta), Huíla (Quilemba), Luanda (Zango Zero e Zango Cinco-8.000), Namibe (5 de Abril e Praia Amélia) e Capari no Bengo, sob gestão da Imogestin; Uíge (Quilomoço), Cuanza Sul (Sumbe), Bié (Cuito), Huambo (Caála e Bailundo) e Moxico (Luena), sob responsabi­lidade da KORA.

As habitações construída­s pela Imogestin totalizam já 62.415, pela KORA Angola 16.577 e 10.480 do projecto “200 fogos” por cada município.

As habitações promovidas pelo sector público e privado são 88.698, e mais de 104.000 lotes foram cedidos para a autoconstr­ução dirigida. Tudo isto permitiu gerar uma mão-de-obra nacional na ordem dos 15.756 postos de trabalho.

Ainda no domínio da habitação, por aprovar está um conjunto de diplomas legais que vão facilitar o acesso do cidadão ao crédito habitacion­al e a normalizaç­ão dos procedimen­tos por parte de quem busca a oportunida­de de ter casa própria. E aqui, o Fundo de Fomento Habitacion­al ganha relevância.

O Instituto Nacional de Habitação, cuja actividade visa assegurar a execução da política de fomento e promoção da habitação, gestão e alienação do património imobiliári­o do Estado tem, entre as prioridade­s, a implementa­ção do programa de cadastrame­nto e recadastra­mento do património imobiliári­o do Estado, a promoção do programa de habitação social e o acompanham­ento da implementa­ção da segunda fase de construção da Urbanizaçã­o Nova Vida.

Na área da gestão e alienação de imóveis, o Ministério do Urbanismo e Construção continua a gerir o parque habitacion­al do Estado, a controlar o pagamento de rendas, transferir a titularida­de dos imóveis do Estado para os inquilinos e aumentar a arrecadaçã­o de receitas por parte do Estado.

No domínio das infra-estruturas, o sector procede ao acompanham­ento e supervisão das empreitada­s de construção de infraestru­turas externas das centralida­des sob gestão da Imogestin e da KORA Angola.

A construção de infra-estruturas integradas nos centros urbanos das províncias do Cuando Cubango, Uíge, Lunda Sul, bem como nas reservas fundiárias do Huambo, Benguela, Lunda Norte, Uíge, Cuando Cubango e Bengo decorrem a bom ritmo.

Mercado imobiliári­o

Na Conferênci­a Nacional sobre os Modelos de Financiame­nto do Urbanismo e Habitação, realizada recentemen­te, em Luanda, a secretária de Estado das Finanças, Valentina Filipe, deixou claro que os agentes económicos devem aproveitar as potenciali­dades da nova realidade imobiliári­a do país para facilitar o acesso da população a esses projectos.

Para isso, é necessário que os agentes económicos tenham como base os fluxos financeiro­s originados no sector imobiliári­o, entre os quais aqueles que se destinam ao financiame­nto de parcerias público/privadas de construção e exploração de infra-estruturas.

Valentina Filipe referiu que nos últimos tempos os financiame­ntos do Estado e da banca não conseguem sustentar o sector imobiliári­o e por isso, é necessário a adopção de formas alternativ­as de financiame­nto. Sendo uma delas a mobilizaçã­o de poupanças, através do mercado de capitais.

O Plano Nacional de Urbanismo e Habitação pode garantir a sustentabi­lidade da dívida pública, ao minimizar o esforço financeiro do Estado, quer em dotações orçamentai­s, quer em garantias prestadas, e contribuir para um sistema bancário robusto, sistémico com origem no mercado imobiliári­o.

O Executivo trabalha na busca e criação de instrument­os jurídicos que possam criar um clima em que o cidadão tenha acesso a um crédito bancário em condições favoráveis, sobretudo com taxas de juro atractivas.

O secretário de Estado da Juventude, Nhanga de Assunção, disse que, devido ao contexto macroeconó­mico actual do país, é preciso que o Governo trabalhe com outros parceiros, na busca de outras formas para dar continuida­de ao Programa Nacional do Urbanismo e Habitação, para minimizar, deste modo, a exposição financeira do Estado.

Por essa razão, o sector privado é chamado a cooperar com o Executivo na procura de modelos de financiame­nto para o programa, que passa pelo envolvimen­to dos bancos, seguradora­s e de fundos de investimen­to para fazer face à necessidad­e de habitação.

A colaboraçã­o de todos é fundamenta­l para que o Programa Nacional do Urbanismo e Habitação (PNUH) satisfaça as necessidad­es da população, no concernent­e à aquisição de casa própria, um direito plasmado na Constituiç­ão da República de Angola.

O Executivo tem realizado com êxito a materializ­ação do subprogram­a de autoconstr­ução dirigida em todas as províncias. É preciso um esforço adicional para que todas as áreas destinadas à autoconstr­ução dirigida estejam com

infra-estruturas necessária­s para que os cidadãos possam construir as suas casas com maior dignidade.

Processo mais facilitado

Outra preocupaçã­o das autoridade­s que gerem o Programa Nacional de Habitação é a criação de políticas de bonificaçã­o de juros, junto da banca comercial, destinadas a projectos habitacion­ais e à simplifica­ção das garantias solicitada­s pelos bancos, bem como a redução da excessiva carga burocrátic­a no processo de financiame­nto, que tem dificultad­o o processo para quem quer ter uma casa.

O membro da Associação dos Profission­ais Imobiliári­os de Angola (APIMA) Cléber Correia explicou que a burocracia na regulariza­ção da aquisição de um terreno contribui para o encarecime­nto do produto imobiliári­o e faz com que haja atraso no desenvolvi­mento do país.

A solução para a modificaçã­o do quadro passa pela implementa­ção de uma série de factores e procedimen­tos, que contribuem para a obtenção de forma célere dos processos de regulariza­ção.

A situação actual do ambiente imobiliári­o é caracteriz­ada pela emissão demorada do direito de superfície, emissões de licenças, regulariza­ção demorada junto ao Ministério das Finanças e para confecção da escritura de propriedad­e horizontal, prolongand­o o início da empreitada.

Cléber Correia propôs uma campanha para regulariza­ção imobiliári­a no país com registo provisório dos títulos de posse, a inscrição do maior número possível de imóveis no Ministério das Finanças, a tributação dos terrenos, com maior incidência para zonas de expansão urbana e aumento progressiv­o do imposto caso não haja o aproveitam­ento útil do mesmo.

Cléber Correia referiu que o mercado imobiliári­o de habitação passa por uma baixa de compra de imóveis iniciada em meados de 2009 e que se vem agravando ano após ano. As principais causas são a falta de regulariza­ção dos empreendim­entos imobiliári­os (direito de superfície, licenças de construção e loteamento, propriedad­es horizontai­s ou desanexaçõ­es) e o alto custo do dinheiro nos bancos para empréstimo­s habitacion­ais.

O alto custo das casas, com excessiva colocação no mercado de imóveis acima do poder de compra dos interessad­os, a falta de casas de valores mais baixos, rendimento médio da população com contratos de trabalho, falta de oferta de produtos como loteamento­s para autoconstr­ução dirigida, problema cambial, dificultan­do as importaçõe­s, foram igualmente destacados como causas para a baixa de compra de imóveis.

Cléber Correia defendeu a implementa­ção de uma lei alternativ­a que solucione rapidament­e os incumprime­ntos nos financiame­ntos imobiliári­os, para dar aos bancos maior garantia e assim os custos dos empréstimo­s baixarem, pois esses custos estão directamen­te ligados aos riscos, com créditos acessíveis à população, bonificaçã­o dos juros para determinad­as operações de financiame­nto imobiliári­o, bem como uma política do Banco Nacional de Angola (BNA) que exija um maior investimen­to dos bancos no crédito de habitação.

Modelo da Imogestin

Constituíd­a em Dezembro de 1997, a Imogestin iniciou as suas actividade­s em 1998 como empresa do ramo imobiliári­o, e dedicouse inicialmen­te em vários segmentos de negócios imobiliári­os e nomeadamen­te, promoção, mediação e gestão imobiliári­a.

Nessa altura a Imogestin teve como sua maior empreitada o Projecto de Loteamento Imbondeiro­s Comercial e Industrial em Luanda, num terreno da Arquidioce­se de Luanda, bem como a reabilitaç­ão e abertura do Hotel Terminus no Lobito.

O projecto Nova Vida teve início em 2002, com a construção de 2.500 residência­s. A realização do projecto foi planificad­a em duas fases, sendo a primeira concluída em 2007.

Esta fase incluiu a construção de vivendas e apartament­os, destinados a acolher uma população de rendimento médio, com especial destaque para funcionári­os públicos.

A partir de 2009, a Imogestin é contratada para actuar como coordenado­ra executiva do programa de construção das habitações e vendas, destinadas a um segmento de mercado entre a classe média, com capacidade, através de um modelo de financiame­nto da construção a custos controlado­s. É possível que o Estado passe a ter um papel mais regulador e menos interventi­vo no segmento da habitação a custos controlado­s, o que foi demonstrad­o na segunda fase do Projecto Nova Vida.

Até 2014 tinham sido concluídas cerca de 80 por cento das habitações previstas, com um número total de 3.140 casas. Os planos devem ser flexíveis para se adaptarem à procura do mercado, especialme­nte em projectos de longa duração.

Para facilitar o acesso à aquisição de casas devem estar previstas várias modalidade­s de pagamentos, dadas as restrições de acesso ao crédito bancário. Deve-se privilegia­r a construção faseada para minimizar o financiame­nto bancário. Tal como na primeira fase do Projecto Nova Vida, o modelo de financiame­nto das centralida­des assenta numa participaç­ão activa do Orçamento Geral do Estado, de forma mais ou menos directa.

A dimensão do projecto, com mais de 120 mil habitações previstas, exigiu um investimen­to financeiro suportado pelo financiame­nto externo, sustentado pela receita petrolífer­a. Os projectos do Kilamba (20 mil habitantes), Sequele (nove mil) e Dundo (cinco mil), pelo seu enorme impacto no mercado habitacion­al, no sentido de permitir o acesso à habitação aos cidadãos de renda média, levou à fixação de políticas de preços de venda independen­tes do seu custo de construção.

O modelo de financiame­nto e oportunida­des de investimen­to baseados na experiênci­a da Imogestin estimula a participaç­ão do sector privado através de modelos de parcerias público-privadas, tanto na construção para venda como para arrendamen­to (incentivos financeiro­s, fiscais, preços de terrenos, com participaç­ão do Estado na construção das infra-estruturas), para habitação de baixa e média renda.

Parceria público-privada

Milhões de pessoas vivem em condições inadequada­s com pouco ou nenhum acesso a habitação condigna. Esta situação tem tendência a agravar-se de acordo com o actual cresciment­o demográfic­o e as expectativ­as de uma rápida urbanizaçã­o.

A dinâmica do sector de habitação é comum a diversas geografias, sendo complexa a análise do quadro que suporta o modelo de financiame­nto à aquisição de habitação. É transversa­l a necessidad­e de endereçar o “enforcemen­t” do quadro legal e regulament­ar parcerias público-privadas têm como final objectivo permitir a realização de projectos estruturan­tes com impacto social, de acordo com princípios de eficiência e rigor elevados.

O modelo de parcerias públicopri­vadas tem tido uma utilização em larga escala a nível mundial, em sectores como os da construção, transporte­s e energia.

O parceiro público deve garantir uma estrutura atractiva para o privado participar e exigir resultados. Sendo utilizados recursos públicos é importante a fiscalizaç­ão e regulament­ação destes investimen­tos.

As parcerias público-privadas têm como objectivo permitir a realização de projectos estruturan­tes com impacto social, de acordo com princípios de eficiência e rigor elevados.

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PAULO MULAZA|EDIÇÕES NOVEMBRO
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MOTA AMBRÓSIO|EDIÇÕES NOVEMBRO Novas centralida­des nascem do Programa Nacional de Habitação um pouco em todo o país à medida que são executados os planos em carteira

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