Condecorações indecorosas
Quando ouvia o meu amigo cantar Gedeão naquele verso “Eles não sabem que o sonho”, o sonho que comanda a vida, nestes tempos em que a corrupção dos poderosos passaram a ser ilicitudes lícitas, banqueiros roubam dinheiro do povo, são flagrados, tiram dos bolsos de um casaco que já não usam uns milhões, prestam caução e ficam numa boa em seu palácio a caviar e champanhe. Hoje, em que monstros como Trump são eleitos, dentro dos cânones da democracia, temos de aceitar que há um exército de pessoas que foram imbecilizadas pela Mídia e a Net de tal forma que também só sonham com montanhas de dinheiro para fazerem o que quiserem, principalmente tratar do seu ego.
Antigamente o que se escrevia era para ser cumprido. Havia um código de valores para se condecorarem as pessoas. Mesmo hoje, não é vulgar condecoraremse assassinos, ditadores, ladrões, diplomados internacionalmente. O da Guiné Equatorial já andava por todos os contentores do lixo. Fez uma subida quando virou carnavalesco e gastou milhões com uma escola de samba carioca. “Pagou” a entrada na CPLP... pela mão de Cavaco e Xanana. Vejam só: a Namíbia e a África do Sul têm bué de falantes de língua portuguesa e o ditador da Guiné vai fazer como se a nós angolanos nos impusessem a língua espanhola.
Mas agora é o fim e o sem vergonhismo da Guiné-Bissau que, de condecorada com o prémio de golpes de Estado com assassinatos, decide condecorar o mi- lionário e assassino da Guiné Equatorial com prémio AMÍLCAR CABRAL!
Alguém na Guiné, ponte de drogas, de iates flamejantes e que uma boa parte da população ainda nem mereceu bilhete de identidade, não pode “vender” a imagem de um dos maiores pensadores e ideólogos africanos para limpar a imagem do bandido porque isso sugere um pacto de salvamento recíproco.
Quem decidiu pela condecoração tem de ter a coragem de vir a terreiro explicar, demonstrar, o mérito de uma figura universalmente considerada como um tirano e criminoso.
E assim vai este mundo. Ainda vos escrevo da Melói onde se fala muito do adiamento da viagem da Ministra da Justiça Portuguesa a Angola, que foi adiada pelas autoridades angolanas e a visita do primeiro-ministro português António Costa que tem afirmado que uma coisa é a justiça com a qual a política não se deve intrometer. Eu, já agora, faço o trocadilho: uma coisa é a política com a qual a justiça não se deve meter. No entanto, parece que as coisas estarão a acalmar e bom seria porque afinal, qualquer dia os tribunais passam a funcionar nas redacções dos jornais e televisões.
Outra nota: quando começou o regresso de muitos portugueses que trabalhavam em Angola, foram aquelas imagens de crianças com fome. Mas quando se começou a desenhar a visita do primeiro-ministro António Costa as imagens são de uma quantidade de contentores no porto e os arranha-céus de Luanda.
Falaram muito e falam nos calotes de Angola a esses expatriados. Angola é a “gata borralheira” de que falava o capitão Henrique Galvão que inaugurou o rapto e sequestro de navios. Vejam só, antigamente um dos el dourados dos portugueses era a Venezuela. Todo o mundo tuga queria ir para a Venezuela. Famosos donos das padarias e pastelarias. Hoje estão numa berrida para Portugal. Os que puseram cá nota, antes do Chavismo, montaram aqui os seus negócios mas o pessoal diz que não é grande coisa em matéria de qualidade.
Como isto anda tudo mudado, antigamente os portugueses iam para o Brasil cuja independência foi proclamada por um português. Agora são os brasileiros que vêm para aqui, tomaram conta do negócio de sexo com mostruário de travestis na Net e fabricam carnavais de imitação carioca, importando pessoal, portabandeira e tudo, enquanto no Brasil a tropa continua a dar no povo em nome da pacificação ante uma tonelada de gente grande corrupta que está em cana pelos presídios onde há levantamentos com tiroteio, mortos e feridos com o Estado a confessar que os presídios estão superlotados.
A surpresa gratificante, por onde eu oiço e passo, é João Lourenço ter afirmado que vai acabar com a “gasosa” prima do champanhe que é a corrupção. Estou do lado dele. Não é porque me tenha passado mas porque já estava. Até se pode esquecer os para trás e deixar a cortina do só daqui para a frente!