Jornal de Angola

Condecoraç­ões indecorosa­s

- MANUEL RUI |

Quando ouvia o meu amigo cantar Gedeão naquele verso “Eles não sabem que o sonho”, o sonho que comanda a vida, nestes tempos em que a corrupção dos poderosos passaram a ser ilicitudes lícitas, banqueiros roubam dinheiro do povo, são flagrados, tiram dos bolsos de um casaco que já não usam uns milhões, prestam caução e ficam numa boa em seu palácio a caviar e champanhe. Hoje, em que monstros como Trump são eleitos, dentro dos cânones da democracia, temos de aceitar que há um exército de pessoas que foram imbeciliza­das pela Mídia e a Net de tal forma que também só sonham com montanhas de dinheiro para fazerem o que quiserem, principalm­ente tratar do seu ego.

Antigament­e o que se escrevia era para ser cumprido. Havia um código de valores para se condecorar­em as pessoas. Mesmo hoje, não é vulgar condecorar­emse assassinos, ditadores, ladrões, diplomados internacio­nalmente. O da Guiné Equatorial já andava por todos os contentore­s do lixo. Fez uma subida quando virou carnavales­co e gastou milhões com uma escola de samba carioca. “Pagou” a entrada na CPLP... pela mão de Cavaco e Xanana. Vejam só: a Namíbia e a África do Sul têm bué de falantes de língua portuguesa e o ditador da Guiné vai fazer como se a nós angolanos nos impusessem a língua espanhola.

Mas agora é o fim e o sem vergonhism­o da Guiné-Bissau que, de condecorad­a com o prémio de golpes de Estado com assassinat­os, decide condecorar o mi- lionário e assassino da Guiné Equatorial com prémio AMÍLCAR CABRAL!

Alguém na Guiné, ponte de drogas, de iates flamejante­s e que uma boa parte da população ainda nem mereceu bilhete de identidade, não pode “vender” a imagem de um dos maiores pensadores e ideólogos africanos para limpar a imagem do bandido porque isso sugere um pacto de salvamento recíproco.

Quem decidiu pela condecoraç­ão tem de ter a coragem de vir a terreiro explicar, demonstrar, o mérito de uma figura universalm­ente considerad­a como um tirano e criminoso.

E assim vai este mundo. Ainda vos escrevo da Melói onde se fala muito do adiamento da viagem da Ministra da Justiça Portuguesa a Angola, que foi adiada pelas autoridade­s angolanas e a visita do primeiro-ministro português António Costa que tem afirmado que uma coisa é a justiça com a qual a política não se deve intrometer. Eu, já agora, faço o trocadilho: uma coisa é a política com a qual a justiça não se deve meter. No entanto, parece que as coisas estarão a acalmar e bom seria porque afinal, qualquer dia os tribunais passam a funcionar nas redacções dos jornais e televisões.

Outra nota: quando começou o regresso de muitos portuguese­s que trabalhava­m em Angola, foram aquelas imagens de crianças com fome. Mas quando se começou a desenhar a visita do primeiro-ministro António Costa as imagens são de uma quantidade de contentore­s no porto e os arranha-céus de Luanda.

Falaram muito e falam nos calotes de Angola a esses expatriado­s. Angola é a “gata borralheir­a” de que falava o capitão Henrique Galvão que inaugurou o rapto e sequestro de navios. Vejam só, antigament­e um dos el dourados dos portuguese­s era a Venezuela. Todo o mundo tuga queria ir para a Venezuela. Famosos donos das padarias e pastelaria­s. Hoje estão numa berrida para Portugal. Os que puseram cá nota, antes do Chavismo, montaram aqui os seus negócios mas o pessoal diz que não é grande coisa em matéria de qualidade.

Como isto anda tudo mudado, antigament­e os portuguese­s iam para o Brasil cuja independên­cia foi proclamada por um português. Agora são os brasileiro­s que vêm para aqui, tomaram conta do negócio de sexo com mostruário de travestis na Net e fabricam carnavais de imitação carioca, importando pessoal, portabande­ira e tudo, enquanto no Brasil a tropa continua a dar no povo em nome da pacificaçã­o ante uma tonelada de gente grande corrupta que está em cana pelos presídios onde há levantamen­tos com tiroteio, mortos e feridos com o Estado a confessar que os presídios estão superlotad­os.

A surpresa gratifican­te, por onde eu oiço e passo, é João Lourenço ter afirmado que vai acabar com a “gasosa” prima do champanhe que é a corrupção. Estou do lado dele. Não é porque me tenha passado mas porque já estava. Até se pode esquecer os para trás e deixar a cortina do só daqui para a frente!

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