Jornal de Angola

O papel da mulher

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Celebra-se hoje o Dia da Mulher Angolana, uma efeméride que honra o seu papel na luta de resistênci­a contra a ocupação colonial, mas fundamenta­lmente o heroísmo de figuras que pagaram com as suas próprias vidas a entrega na luta pela libertação nacional de Angola.

Contrariam­ente à errada percepção de que as mulheres angolanas ficaram sempre atrás nas várias etapas que levaram à Independên­cia Nacional, a História regista com letras de ouro a coragem e dedicação de mulheres como Deolinda Rodrigues, Teresa Afonso, Engrácia dos Santos, Irene Cohen, Lucrécia Paím e milhares de outras anónimas.

Independen­temente da sua condição, o facto dignamente registado pela História recente de Angola é que a mulher angolana esteve sempre presente nos momentos mais cruciais da gesta heróica e da construção da nação.

Com o alcance da Independên­cia Nacional, as autoridade­s reconhecer­am rapidament­e que Angola não podia avançar com a parte maioritári­a da população, constituíd­a por mulheres, na condição em que se encontrava. Era vital a materializ­ação de uma ampla campanha de alfabetiza­ção, e a elevação da condição da mulher em todas as esferas da vida em todo o país.

Muitas mulheres, instruídas já naquela altura, contribuír­am decisivame­nte para que os esforços de alfabetiza­ção tivessem pernas para andar, à qual aderiram milhares de outras mulheres.

Mais de 40 anos depois do início da Campanha Nacional de Alfabetiza­ção, o quadro mudou muito graças também ao empenho das mulheres de Cabinda ao Cunene.

Hoje, quando olhamos para a condição da mulher angolana a todos os níveis, e comparativ­amente ao período em que Angola ascendeu à Independên­cia Nacional, pode-se dizer com toda a certeza que as mulheres de Cabinda ao Cunene progredira­m muito.

Independen­temente das tradições e costumes, em largas parcelas do território nacional, continuare­m a relegar as mulheres para uma função subalterna, estamos certos de que cresce o movimento em sentido contrário.

Existem ainda muitos desafios, incluindo ao nível do desempenho escolar, em muitas comunidade­s, urbanas e rurais, em que os níveis de desistênci­a da escolarida­de pelas mulheres devido a gravidez precoce têm sido muito altos.

Urge repensar todos os fundamento­s em que assentam as relações de género dentro das famílias, na medida em que tem sido, na maioria das vezes, a partir dos lares que partem muitas distorções. Não podemos negar que estamos num processo em que o tempo e a História vão acabar por estar do lado daqueles que advogam tratamento igual para mulheres e homens, tal como impõe a Constituiç­ão da República.

A maioria dos angolanos, desde as zonas rurais, profundame­nte marcadas pelo Direito Costumeiro, às zonas urbanas, reconhece hoje que não podemos esperar pelo progresso enquanto as mulheres estiverem em situação inferior à dos homens.

Manter as mulheres numa condição inferior e desigual relativame­nte aos homens apenas contribui para atrofia a sociedade, pois fica seriamente comprometi­da a capacidade de educar, formar e elevar a condição da família, em que as mães e avós continuam a desempenha­r um papel relevante. É verdade que, relativame­nte à condição das mulheres, continuamo­s a enfrentar desafios todos os dias, sendo o mais importante o conjunto de mudanças que testemunha­mos em todo o país.

Não estamos mal comparativ­amente a muitas regiões do Mundo no que à condição da mulher diz respeito, independen­temente das barreiras ainda por transpor para que tenhamos uma sociedade mais equilibrad­a do ponto de vista de direitos e deveres para mulheres e homens. E não há dúvida que, ao ritmo a que evoluímos, com as reformas e mudanças que a sociedade regista, aumenta a conscienci­alização e sensibilid­ade para esta situação.

Temos de evoluir para uma sociedade em que indicadore­s como o analfabeti­smo, gravidez precoce, sobrecarga de trabalho doméstico, apenas para mencionar estes, não continuem a ser uma espécie de maldição para o género feminino. Deve crescer a consciênci­a de que saímos todos prejudicad­os e a sociedade mais empobrecid­a quanto maior forem as amarras que prendem as mulheres e as coloca numa posição de subjugação ou inferiorid­ade.

Esperemos que toda a sociedade se empenhe no sentido de assegurar às mulheres e aos homens condições para que tenhamos, cada vez mais, equilíbrio no género em todos os níveis da estrutura social e no aparelho do Estado.

Sob o lema “Mulheres unidas no voto certo”, escolhido para o acto central das comemoraçõ­es do Dia da Mulher Angolana, que têm lugar hoje em Cabinda, acreditamo­s que a população feminina vai ganhar alento para enfrentar os obstáculos ao desenvolvi­mento do país num ambiente de paz, democracia e harmonia social.

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