Jornal de Angola

Felicidade em Liberty City depois de gafe no Oscar

- PABLO RAMÓN OCHOA

Liberty City, o bairro de Miami onde “Moonlight” foi rodado, tornou-se o lugar mais feliz do planeta depois da maior reviravolt­a da história do Oscar ter feito dessa produção a vencedora na categoria de melhor filme.

Cabisbaixo, o público já estava a ir embora da festa organizada no African Heritage para acompanhar a cerimónia quando algo inesperado aconteceu.

No telão do centro cultural do bairro, um dos produtores de “La La Land: Melodia de amor” segurava a ficha com o nome “Moonlight” como o vencedor.

Os gritos de surpresa espalharam-se e todo o mundo começou a pular de alegria, mas a euforia não durou muito. O sinal de TV caiu e ninguém conseguia saber se o que tinha acontecido era real ou uma brincadeir­a de mau gosto.

“O que aconteceu?”, perguntava­m várias pessoas na frente da tela preta, enquanto um técnico tentava recuperar o sinal.

As cerca de 200 pessoas que estavam no evento seguravam a respiração à espera que a TV voltasse a funcionar.

“Isto deve ter sido um sonho”, disse uma jovem que já tinha ido embora, indignada, quando viu que “La La Land: Melodia de amor” era coroado o melhor filme, mas que voltou rapidament­e quando ouviu o alvoroço.

De repente, a conexão foi restabelec­ida e o director do filme, Barry Jenkins, criado em Liberty City, já aparecia rindo no centro da tela.

“Moonlight” tinha superado uma das maiores gafes da história e no centro cultural de Liberty City a alegria transborda­va.

Para eles, não importava a cara de tristeza de Damien Chazelle, director de “La La Land”, e da sua equipa.

De acordo com a coordenado­ra de marketing e comunicaçõ­es do African Heritage, Cheryl Mizell, todo o bairro “fazia parte” de “Moonlight” e todos estavam “extremamen­te orgulhosos” do filme. “Pensávamos que estava tudo acabado, mas de repente todo o mundo começou a voltar e ninguém sabia o que estava a acontecer”, contou Mizell que já estava a despedir-se do público, enquanto os moradores recolhiam os seus pertences, quando a novidade veio à tona.

Quando tudo foi confirmado, Mizell lembrou emocionada que no ano passado, o escritor da história em que “Moonlight” se baseia, Tarrell Alvin McCraney, estava a dar aulas no centro cultural, localizado no coração de um dos bairros mais pobres e tradiciona­lmente conflituos­os de Miami.

Como pontos positivos do escritor, a coordenado­ra destacou a ética e a seriedade no trabalho, e afirmou que McCraney “é humilde, mas bom na luta”.

McCraney, que fez um agradecime­nto aos moradores do bairro quando recebeu o prémio de melhor roteiro adaptado, também é nativo de um lugar que agora já se prepara para montar a festa para o filme que ficou com três estatuetas - além de melhor filme e roteiro adaptado, Mahershala Ali, o traficante Juan, venceu na categoria de melhor actor secundário.

Depois de vencer o Globo de Ouro na mesma categoria, o pequeno Alex Hibbert, que interpreta o protagonis­ta Choir na infância, revelou que se ganhasse o Oscar ele sairia a pular e seria feliz para o resto da vida.

Para surpresa de todo o Dolby Theater e também do centro cultural African Heritage, naquela noite Hibbert, aluno de uma escola pública do norte de Miami, estava com as mãos na cabeça em cima do palco, enquanto “Moonlight” era anunciado, de facto, o melhor filme do ano.

Agora, as ruas esquecidas de Liberty City, que servem de pano de fundo para uma história que trata de homossexua­lidade, drogas e racismo, voltam a “reivindica­r” o seu lugar ao sol, destacou Mizell.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola