Jornal de Angola

Formação no feminino dá poder às mulheres

O Ministério da Administra­ção Pública, Trabalho e Segurança Social (MAPTSS) criou centros com cursos profission­ais para mulheres. Só em 2016 foram lançadas para o mercado de trabalho 20.957 mulheres, que concluíram com êxito os cursos de Corte e Costura,

- EDIVALDO CRISTÓVÃO| Cuanza Norte

O empreended­orismo no feminino é cada vez mais uma realidade em Angola. Numa data em que se assinala em todo o mundo o Dia Internacio­nal da Mulher, Angola a Crescer propõe a abordagem de um fenómeno que silenciosa­mente tem mudado a dinâmica da sociedade angolana, isto no que respeita ao equilíbrio de género.

Na linha de uma orientação do Estado sobre a necessidad­e de se dar às mulheres as mesmas oportunida­des que aos homens, o Executivo angolano, através do Ministério da Administra­ção Pública, Trabalho e Segurança Social (MAPTSS), decidiu apostar num segmento de formação profission­al virado especialme­nte para o feminino.

Através do Sistema Nacional de Formação Profission­al até 2025, o Executivo criou o programa de formação feminina e, através deste, procura melhorar as valências profission­ais das mulheres, promover o emprego e aumentar o rendimento familiar.

O programa de formação feminina está inserido no âmbito da política de formação do cresciment­o económico, aumento de emprego, repartição equitativa do rendimento nacional e de protecção social. De um modo geral, a sua finalidade é conceber e executar as políticas do emprego e de formação, que acompanhem o desenvolvi­mento do país, por via da aplicação do programa de empreended­orismo na comunidade, e melhorar a cultura cívica.

Sob orientação do Presidente da República, José Eduardo dos Santos, o MAPTSS criou 140 centros que respondem à formação feminina em todo o país. Só no ano passado foram lançadas para o mercado de trabalho 20.957 mulheres, que terminaram os cursos com sucesso nas diferentes especialid­ades ministrada­s, nomeadamen­te Corte e Costura, Cabeleirei­ra, Empregada Doméstica, Pastelaria, Culinária e Informátic­a. Por cada uma dessas jovens formadas o Estado gasta cerca de 800 mil kwanzas.

Nestes centros são ministrado­s os cursos de Empregadas Domésticas, Decoração e Adornos do Lar, Educação Familiar, Corte e Costura, Culinária, Pastelaria, Informátic­a, Parteiras Tradiciona­is, Higiene e Saúde, Economia Doméstica, Secretaria­do e Atendiment­o ao Público.

Para melhorar o quadro de mulheres no mercado de trabalho e promover o auto-emprego, o Executivo está a expandir as unidades de formação profission­al feminina em todos os municípios. Um projecto que tem tirado cada vez mais jovens do desemprego e as afasta da delinquênc­ia e de outras situações a que são vulnerávei­s.

Os programas do Executivo visam criar condições para que os municípios tenham capacidade formativa para a juventude, para que de forma efectiva combatam o desemprego.

Com a criação do Sistema Nacional de Formação Profission­al o défice do desemprego nas jovens tem diminuído substancia­lmente. Os resultados definitivo­s do Censo lançados em Março deste ano revelam que a população economicam­ente activa começa aos 15 anos. Em 2004, a taxa de ocupação era de 53 por cento, sendo 61 por cento para os homens e 45 por cento para as mulheres.

As mulheres, em relação aos homens, demonstram uma inferiorid­ade numérica no sector do emprego, fruto da vulnerabil­idade a que estão expostas, concretame­nte no que respeita ao preconceit­o e às obrigações que têm no lar.

Centro de Quiculungo

O MAPTSS inaugurou recentemen­te no município de Quiculungo, província do Cuanza Norte, um centro de formação profission­al feminino, onde começaram a ser ministrado­s cursos de informátic­a, pastelaria e cozinha, técnicas agrárias, corte e costura.

O centro tem quatro salas com capacidade para dez alunas cada, tem a área de residência com três quartos de internamen­to com 46 camas no total, e abrange jovens mulheres da congregaçã­o católica “Santíssimo Salvador” e raparigas das comunidade­s vizinhas.

No centro ficam internadas raparigas de vários pontos do país, inclusive de Luanda, com idades entre os sete e os 20 anos. Em regra, elas só deixam o centro depois de terminarem o ensino médio.

O ministro Pitra Neto disse que a formação profission­al da juventude consta dos principais objectivos do Executivo, por forma a dar resposta ao défice de mão-de-obra existente em algumas comunidade­s.

O ministro acredita que a vertente espiritual, que é também uma das vocações do centro, pode contribuir para uma melhor inserção das jovens na sociedade. “A aposta na formação feminina é contínua e o ministério passa a dar atenção especial à manutenção dos imóveis para que a sua gestão seja de qualidade e garanta as condições necessária­s para que o seu funcioname­nto técnico e pedagógico tenha qualidade”.

Igreja Católica

O centro de formação feminina de Quiculungo resulta de uma parceria com a Igreja Católica. A madre Albina da Silva, uma das responsáve­is do centro, elogiou a iniciativa e apela para que mais apoios sejam dados a outras congregaçõ­es no país. “As meninas que frequentam o centro recebem boas orientaçõe­s e ficam preparadas para estarem inseridas na sociedade e no mercado de trabalho”.

Uma das grandes vantagens do centro é o culminar da educação religiosa e profission­al que acaba por ser “um casamento” perfeito. “O nível de ensino e as condições que encontram no centro é a principal atracção das meninas que vão à busca da formação. Além da académica, elas também aprendem outras profissões, tais como agricultur­a, costura, malha, bordados, pastelaria e culinária. Com isso podem sair daqui prontas para criarem o seu próprio negócio”, disse Albina da Silva.

Algumas madres contactada­s pela reportagem do Jornal de Angola demonstrar­am estar satisfeita­s com

a iniciativa do Executivo, primeiro, por ter reestrutur­ado, reabilitad­o e apetrechad­o a escola. E ainda com a inclusão da formação profission­al em artes e ofícios. As raparigas têm agora mais ocupação e com vantagem de obter o seu primeiro posto de trabalho.

A congregaçã­o feminina “Santíssimo Salvador” de Quiculungo existe desde 1980 e possui um internato com capacidade para 40 jovens do sexo feminino e alberga pessoas de várias províncias do país.

O governador provincial do Cuanza Norte, José Maria Ferraz dos Santos, considerou a construção do centro um contributo valioso para a vida académica e pelo facto de ele servir como um caminho para a obtenção do primeiro posto de trabalho a muitas jovens. “A província sai a ganhar, porque os habitantes adquirem aqui conhecimen­tos valiosos para toda a vida, numa parceria entre a Igreja Católica e o Ministério da Administra­ção Pública, Trabalho e Segurança Social”.

Distante da família

A vida não tem sido fácil para muitas jovens que estão internadas na congregaçã­o católica “Santíssimo Salvador”, em Quiculungo. Viver distante da família cria para elas algum desconfort­o.

O centro conta com um pavilhão de artes e ofícios, inaugurado em Janeiro de 2009, onde são ministrado­s cursos de informátic­a, electricid­ade, alvenaria, serralhari­a e carpintari­a.

Soraya Florença tem 17 anos, frequenta a décima classe, é natural de Benguela e revelou ao Jornal de Angola que está satisfeita com as condições do centro. Porque além da formação académica pretende fazer o curso de culinária para poder abrir uma pastelaria.

Contou que a decisão de internar no centro não foi fácil. “Nunca vivi longe da minha família, mas a única oportunida­de e solução para estudar foi esta. Agora, pretendo concluir o meu objectivo, a formação e depois abrir o meu próprio negócio através dos programas do Governo”, disse Soraya Florença.

Fátima dos Santos Alexandre, de 17 anos, saiu de Luanda e está há sete anos no centro, onde frequenta a nona classe. “Senti-me interessad­a pelo programa curricular do centro. Agora com essas oportunida­des de aprender outras formações só temos a ganhar porque mesmo antes de ingressarm­os para a universida­de, temos oportunida­de de estarmos já inseridas no mercado de trabalho.”

A formadora Vanda de Lurdes vive na Vila de Quiculungo e lecciona o curso de Pastelaria e Culinária. Com este projecto conseguiu obter o seu primeiro emprego e sente-se satisfeita por poder fazer parte da formação destas jovens, que é um contributo enorme para o desenvolvi­mento do país.

Crédito Amigo

Desde 2008, mais de seis mil jovens em todo o país já beneficiar­am do microcrédi­to "Amigo" e na sua maioria têm cumprido a taxa de retorno ao banco sem sobressalt­os. O programa, orientado pelo Presidente da República, José Eduardo dos Santos, incumbiu os departamen­tos ministeria­is da realização de programas e acções que beneficiam directamen­te os jovens.

Depois da guerra, o Executivo lançou um programas de formação e ocupação laboral, para travar a delinquênc­ia e fomentar o auto-emprego.

Com a conquista da paz, nos últimos anos, o quadro tem sido favorável e o investimen­to na formação constitui a porta principal para o desenvolvi­mento sustentáve­l e a geração de postos de trabalho.

A aposta do Executivo no programa de empreended­orismo na comunidade para investimen­tos em pequenas, médias e grandes empresas foi positiva em 2015, com 52.791 jovens formados, e em 2016, a cifra atingiu 56.245 jovens.

Para o ciclo formativo deste ano, aberto ontem em Luanda, a prioridade dos cursos profission­ais está direcciona­da para os sectores da Agricultur­a, Indústria, Geologia e Minas, Turismo, Transporte­s e prestação de serviços.

O objectivo do Executivo é fazer com que a formação profission­al seja uma referência de impulso, de apoio, de amparo às iniciativa­s da diversific­ação da economia. Um diploma legal publicado recentemen­te determina que a nível dos municípios haja comissões de coordenaçã­o da formação profission­al, dirigidas pelos administra­dores municipais.

O empreended­orismo é uma via para os jovens formados desenvolve­rem o seu próprio negócio. Por isso, o Executivo tem incentivad­o iniciativa­s nas comunidade­s.

O programa de formação é contínuo, de modo que os jovens continuem a realizar acções que visam proporcion­ar o bem-estar às famílias. Os investimen­tos têm lugar onde o clima macroeconó­mico for adequado.

No ciclo formativo 2016, o Sistema Nacional de Formação Profission­al inscreveu 102.946 formandos, destes matricular­am-se 67.209, dos quais 42.679 nos Centros tutelados pelo INEFOP, 8.160 nos centros públicos de outros organismos e 16.370 em centros privados.

Em termos de adesão por género, o sistema matriculou 42.664 formandos e 24.545 formandas.

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NILO MATEUS | EDIÇÕES NOVEMBRO|CUANZA NORTE Fachada da Direcção Provincial do Cuanza Norte do Ministério da Administra­ção Pública Trabalho e Segurança Social recentemen­te reabilitad­a e apetrechad­a com novos equipament­os
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KINDALA MANUEL|EDIÇÕES NOVEMBRO
 ?? NILO MATEUS|EDIÇÕES NOVEMBRO|CUANZA NORTE ?? Sala de corte e costura do Centro de Formação Profission­al Feminino do município de Quiculungo na província do Cuanza Norte
NILO MATEUS|EDIÇÕES NOVEMBRO|CUANZA NORTE Sala de corte e costura do Centro de Formação Profission­al Feminino do município de Quiculungo na província do Cuanza Norte
 ?? NILO MATEUS EDIÇÕES NOVEMBRO|CUANZA NORTE ?? Ministro Pitra Neto e o governador do Cuanza Norte em visita a alguns centros de formação profission­al em funcioname­nto na província
NILO MATEUS EDIÇÕES NOVEMBRO|CUANZA NORTE Ministro Pitra Neto e o governador do Cuanza Norte em visita a alguns centros de formação profission­al em funcioname­nto na província

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