António Guterres lança apelo de ajuda de urgência à Somália
O Secretário-Geral da ONU, António Guterres, pediu ontem à comunidade internacional para se mobilizar em massa para evitar o pior na Somália, país do Corno de África ameaçado pela fome.
A região leste de África regista uma grave seca e a Somália está à beira da terceira penúria alimentar nos últimos 25 anos. A Organização Mundial de Saúde (OMS) afirma que mais de 6,2 milhões de pessoas metade da população da Somália precisam de ajuda humanitária de emergência, incluindo cerca de três milhões já a sofrer com fome.
As novas autoridades do país, devastado por duas décadas de guerra e repetidas crises humanitárias, decretaram no final do mês passado o estado de “catástrofe nacional” e as imagens de corpos desnutridos começaram a ser difundidas pelos meios de comunicação, a lembrar a fome de 2011 que causou 260 mil mortos.
“É possível evitar o pior, é possível evitar que a Somália passe por uma situação semelhante à de 2011”, declarou à imprensa António Guterres, depois de um encontro, em Mogadíscio, com o novo Presidente somali, Mohamed Abdullahi Mohamed, eleito a 8 de Fevereiro e mais conhecido como Farmajo.
“Precisamos de um apoio maciço da parte da comunidade internacional para evitar uma repetição dos acontecimentos trágicos de 2011”, acrescentou Guterres, que visitou, também ontem, um campo de deslocados no sul do país. “Corremos o risco de termos uma tragédia absolutamente inaceitável que a Somália não merece”, sublinhou. Antes de chegar a Mogadíscio, o ex-primeiro-ministro português tinha afirmado que “a combinação do conflito, da seca, das alterações climáticas, das doenças e da cólera era um pesadelo”. O Presidente somali afirmou: “estamos perante uma seca que poderá tornar-se numa fome se não tivermos chuva nos próximos dois meses”.
A 20 de Fevereiro, a ONU declarou oficialmente a fome no Sudão do Sul, palco de uma guerra, onde atinge 100 mil pessoas. A Somália, tal como o Iémen e a Nigéria, estão à beira da fome. Mais de 20 milhões de pessoas podem morrer de fome nestes quatro países, de acordo com dados das Nações Unidas.
A situação de fome é declarada quando mais de 20 por cento da população de uma região tem acesso muito limitado aos alimentos básicos, uma taxa de mortalidade superior a duas pessoas em cada dez mil por dia e quando a subnutrição aguda atinge mais de 30 por cento da população. Outros países do leste de África, como o Quénia e a Etiópia, estão a sofrer também os efeitos da seca, após várias estações de precipitação particularmente fraca.
Na Somália, a seca levou a uma propagação de diarreias agudas, cólera e sarampo. Perto de 5,5 milhões de pessoas podem contrair doenças transmitidas pela água, uma vez que as populações sedentas recorrem, cada vez mais, a fontes de água de risco, como águas estagnadas de pântanos.
Cerca de 110 mortes, causadas pela seca e diarreias graves, foram registadas em apenas 48 horas no final da passada semana, nas regiões do sul somali.
Esta é a terceira visita à Somália de um Secretário-Geral da ONU desde 1993. O antecessor de António Guterres, Ban Ki-moon, pôs fim a uma longa ausência ao visitar, pela primeira vez, Mogadíscio em 2011, alguns meses depois de a fome, a mais grave em África nos últimos 20 anos, ter sido declarada no país. Ban Ki-moon regressou em 2014.
O Estado somali é apoiado pela comunidade internacional e pelo contingente militar da União Africana (AMISOM), que integra 22 mil soldados, mas sem conseguir impor a sua autoridade fora da capital.
Os rebeldes islâmicos do grupo extremista Al Shebab, próximos da rede terrorista Al-Qaeda, prometeram lutar “sem piedade” contra as novas autoridades somalis.