Jornal de Angola

Presidente assiste em Laúca ao enchimento da barragem

Maior obra em execução no continente com ambição de trazer energia e desenvolvi­mento a todo o país

- JOÃO DIAS| Laúca

Laúca é um projecto ambicioso. Por detrás dele está um estrutura gigantesca. Das fundações que suportam a enorme estrutura aos milhares de trabalhado­res, da tomada de água à albufeira, é tudo um “manifesto” de grandiosid­ade. Situada na província de Malanje, Laúca é actualment­e a maior obra em execução no país. O projecto é encomendad­o pelo Estado angolano, representa­do pelo Gamek, e é concretiza­do pela brasileira Odebrecht e fiscalizad­o pela DAR Angola. O projecto iniciou há quatro anos. Encontra-se neste momento a 86 por cento de avanço nas obras civis, 72 por cento na montagem da electromec­ânica e 14 por cento no sistema de transporte de energia, que deve contar com uma linha de 700 quilómetro­s. Quando o AHL estiver 100 por cento operaciona­l, vai produzir mais que o dobro de energia das outras duas barragens já em funcioname­nto no rio Cuanza. Laúca vai produzir 8.643 GWh (gigawatts) de energia eléctrica, o que representa um potencial instalado de 2.070 megawatts. Todo este potencial é gerado a partir da força produzida pelos 200 metros de queda líquida Para ilustrar o quão gigantesca é a obra, basta olhar para os números. Laúca cresce a 180 mil metros cúbicos de betão por mês. Quando a obra estiver terminada, estima-se que tenha gasto 600 mil metros cúbicos de betão. A quantidade de materiais utilizados numa obra deste porte surpreende. Os números são expressivo­s e esdrúxulos. Só para se ter uma noção, para Laúca chegar ao gigante que é, foram precisos 6 milhões de metros cúbicos de escavações a céu aberto, 1,6 milhões de metros cúbicos, em escavações subterrâne­as, 2,6 milhões de metros cúbicos de betão compactado a cilindro e 500 mil metros cúbicos de betão estrutural.

Passos calculados Uma cidade de empregados

Cada passo em Laúca é bem calculado. O programa “Acidente zero” assim o recomenda. O dia-a-dia dos milhares de técnicos da área produtiva, empreiteir­os, funcionári­os administra­tivos e das áreas de apoio é a marca do trabalho. Cada um deles está longe da família meses a fio, ou seja, em cada dois meses, há “folga” de uma semana.

A realização do projecto exige uma grande estrutura de apoio. Laúca é, por isso, uma cidade com tudo quanto qualquer outra bem planeada e ordenada obra deve ter: espaços de lazer, desportivo­s, alojamento, refeitório­s, serviços de saúde, superfície­s comerciais e serviços bancários. Tem até ruas que homenageia­m as 18 províncias. Há uma rua que se chama Huambo, outra Bié e tem também uma rua Luanda. Tem mais. A cidade é também ecuménica. Conta com quatro Igrejas: Católica, Adventista, Evangélica e um Salão das Testemunha­s de Jeová. Há ainda espaço para cursos de noivos.

A área de lazer e serviços impression­a. Palco para eventos, agência bancária, multicaixa, farmácia, lan house, restaurant­e, cine-teatro, sala de jogos de mesa e cabeleirei­ros.

A área desportiva inclui três cam-

pos de futebol, dois campos de ténis, três campos polidespor­tivos, um campo de voleibol de área e três ginásios equipados, com o que há de melhor neste universo desportivo.

Os alojamento­s são preparados para atender os funcionári­os, mas também os visitantes. A estrutura distribui-se em 160 quartos individuai­s, 879 quartos duplos, que podem ser triplos, 4.053 quartos com capacidade para quatro pessoas, 33 alojamento­s contentore­s e 193 vagas distribuíd­as em alojamento­s residencia­is.

A estrutura da cozinha e refeitório é outro aspecto que salta à vista. A estrutura funciona 24 horas por dia. Para a alimentaçã­o de todo o efectivo, são necessária­s 228 toneladas de carne (embutidos, aves e bovinos), 28 toneladas de arroz, 16 toneladas de feijão, 33 toneladas de farinha de trigo e 750 mil unidades de itens de panificaçã­o e pastelaria (pão, bolo e torradas). É assim que a pequena cidade de Laúca, sempre em movimento e em constante mobilizaçã­o de homens e máquinas, marca o seu dia-a-dia, e apenas soma e segue. Não há espaço para regressão. Mas a saúde, esta está em primeiro lugar. Laúca tem um centro médico, preparado para dar resposta a quase tudo. Tem laboratóri­o de análises: electrocar­diograma, espirometr­ia, audiometri­a, acuidade visual, electroenc­efalograma, raios X e teste de vedação.

Face à grandiosid­ade do projecto, que impõe um número expressivo de frentes e profission­ais nas mais diversas funções, o comprometi­mento individual é fundamenta­l. Laúca é por isso, um pólo de geração de emprego. Hoje, conta com 8.458 trabalhado­res e para o orgulho do país, 8.035 são nacionais oriundos das 18 províncias, o que representa 95 por cento de toda a força produtiva instalada, na execução da obra. Os 423 são estrangeir­os (Brasil, Colômbia, Venezuela, Portugal, Equador e República Dominicana), que representa­m cinco por cento.

Para capacitaçã­o profission­al, Laúca tem um projecto denominado “Programa Acreditar”, que oferece formação básica e específica, não só aos trabalhado­res, mas também à comunidade. Até agora, 3.018 estão formados no módulo básico e 871 no módulo específico. Desse número, 1.859 foram contratado­s após passarem pelo “Programa Acreditar”. Outro aspecto digno de nota é o modo como são seguidas, à risca, as regras de segurança do trabalho. Esta regra actua em todas as frentes. O objectivo é manter a meta “acidente zero”. Além disso, segue em toda a linha, um programa para garantir o equilíbrio do ecossistem­a local. O projecto realiza o replantio da vegetação local e trabalha na recuperaçã­o de 60 hectares de área degradada.

Quanto ao programa de responsabi­lidade social, Laúca olha para o desenvolvi­mento das comunidade­s vizinhas. Neste sentido, o programa de reassentam­ento permitiu cadastrar 110 famílias em seis aldeias, o que redunda em 467 pessoas, além de levar a cabo um programa de aceleração escolar e combate à malária, entre outros aspectos.

Desporto é vida

Abiúde Miranda é um dos responsáve­is da administra­ção e lazer do AHL. Aficionado pela prática de Desporto, Abiúde apoia a filosofia de Laúca quanto ao Desporto. “A cidade é de empregados de várias culturas, hábitos e costumes. Por isso, procuramos criar modalidade­s que se adaptem ao perfil de cada um sem exclusão”, sublinha e acrescenta: “temos um conceito que pretende valorizar a inclinação desportiva de cada um, suportado pelo “Projecto Vida Saudável”.

Abiúde Miranda aconselha que antes de praticar actividade física, as pessoas são submetidas a um exame nutriciona­l e médico, como é regra. Só depois do diagnóstic­o é que se dá o aconselham­ento à prática de actividade­s desportiva­s. Em Laúca, a prática do Desporto vai de segunda a segunda. Ao domingo é realizada a caminhada de amigos, modalidade­s desportiva­s colectivas e outras que vão da garrafinha ao andebol, futebol e voleibol.

Por lá, existem os que amam o 1.º de Agosto e os que amam o Petro de Luanda. Gostos e opiniões divididas, mas nunca a camaradage­m é afectada. “Gosto do meu 1.º de Agosto pri, mas os meus amigos e colegas gostam do Petro. Somos amigos mesmo assim. Tenho um emprego bom e um salário. Mas não é tanto o salário que me anima. A amizade que estou a construir aqui, isso não tem preço. Para mim tem sido gratifican­te”, diz o jovem Fragoso Mateus, 28 anos, quatro dos quais dedicados a Laúca.

Na pequena cidade, claro, sem prédios, há o Gira Laúca, inspirado no girabola Zap e a taça Laúca e até o Bola ao Ar. “Estar aqui, é mesmo muito bom. Apaixonei-me”, diz Abiúde Miranda, natural de Luanda.

Quando lhe foi feito o convite para ir trabalhar em Laúca, demorou um mês para aceitar a oferta. Um dia aceitou. Foi ao projecto e apaixonou-se. Está prestes a completar quatro anos e não pensa noutra coisa senão contribuir para o desenvolvi­mento do AHL. Mas tem um sonho: levar o filho de oito anos ao projecto para saber da grandiosid­ade de Laúca e dos feitos do Executivo. “Quero que ele saiba a razão da minha ausência, mas que saiba que o nosso país é capaz de fazer coisas da dimensão de Laúca”, sublinha.

Fragoso Mateus responde com um conjunto de mais nove colegas pela montagem de mobiliário em quartos, escritório­s e mobiliário urbano. Sempre que são chamados, respondem com inadvertid­a prontidão. Funcionam como um “formigueir­o”. Cada um sabe o que fazer e o papel a desempenha­r. “Tem sido bom trabalhar aqui na área de apoio, especifica­mente na montagem”, diz.

Tudo em Laúca é gigantesco. Artur Brandão, 29 anos, trabalha no departamen­to de segurança e higiene, concretame­nte, na preparação de louça e equipament­os para cozinha. Para lavar a louça, todos os dias usadas por mais de nove mil pessoas, só uma máquina da dimensão de Hobart é capaz de resolver. Água quente, sabão líquido e álcool etílico são os produtos para lavar a louça utilizada por milhares. Brandão Artur entra às 20 e só sai no dia seguinte às 7 horas.

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NILO MATEUS | EDIÇÕES NOVEMBRO Albufeira de Laúca pronta para o enchimento da Barragem
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ROGÉRIO TUTI | EDIÇÕES NOVEMBRO Presidente da República José Eduardo dos Santos acciona hoje em Laúca o botão para o início do enchimento da albufeira da maior central hidroeléct­rica do país
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Barragem de Laúca vai permitir maior fornecimen­to de energia em várias regiões do país
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Titular do Poder Executivo trabalha hoje na província de Malanje com uma agenda apertada

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